Mr. Miles: fui convidado a um jantar gastronômico na França e serviram-me carne de cavalo. Enojado, recusei. Será que agi mal? Torquato Melchiades, por e-mail
“Not at all, my friend. Eu também jamais provaria a carne de um animal de tal nobreza, sobretudo sem conhecer sua linhagem. Confesso, however, que esta é uma idiossincrasia. Minha infinita – e muitas vezes irresponsável – curiosidade de viajante já me levou, porém, a experiências gastronômicas que, I must say, ultrapassam o limite do bom senso. Passo a contá-las, em seguida, advertindo aos leitores de estômago sensível que, para o seu próprio bem, abandonem essas linhas.
Começo pelo capítulo dos insetos. No Camboja, fui levado a provar uma porção de tarântulas. É uma especialidade local. Exceto pela visão dos quatro pares de pernas (pouco carnudos, aliás), o sabor e a textura de seu cefalotórax não são tão repugnantes quanto se pode supor.
Escorpiões, servidos em abundância na China, são muito mais desagradáveis. A consistência, repleta de arestas pontiagudas do lado de fora e gosmenta por dentro, levou-me a preferir, em uma próxima ocasião, provar uma ferroada. Don’t you agree?
Na Indonésia, um amigo levou-me a um barbecue de morcegos. Eles parecem adorar tais ocasiões. Enriqueci minha cultura gastronômica provando uma carne dura, com notável aroma de pele queimada. Melhor vê-los em filmes de terror.
Já na Coreia do Sul, fui instado a degustar um polvo recém-nascido e cru. Oh, my God! Além da sensação de que o pobre molusco seguia vivo em meu prato, ao invés de mastigá-lo tive de mascá-lo como a um chiclete com sabor de praia pouco asseada. Estranhas predileções culinárias têm os seres humanos, haven’t they?
No Japão, há alguns anos, namorei com a morte ao jantar um fugu. Para os que não sabem, trata-se de um peixe de tal maneira venenoso que só pode ser preparado por cozinheiros muitíssimo bem treinados na arte de extrair suas porções peçonhentas. Um único engano e o cliente jamais pagará a conta.
Well, I did it. E foi disgusting. O fugu, que custava os olhos da cara, poderia ter me matado. However, teria sido melhor, nesse quesito, comer um revólver.
Mas, se o prezado leitor chegou até aqui sem náuseas, prepare-se para a minha experiência mais exasperante. A não ser que você seja tão aberto a experiências exóticas como meu amigo Luigi Macielle – que aprecia feijoada com tireoides de porco –, jamais aceite comer um balut nas Filipinas.
Eu o fiz. Na aparência, são apenas ovos. Na prática, however, são embriões de patos ou galinhas em fase final de formação, servidos dentro da própria casca. Com um pouco de sal e pimenta, é possível engolir o primeiro pedaço. O problema, my friends, são as penas e os pequenos ossinhos que as acompanham.
Como se vê, my dear Torquato, você fez bem em recusar a carne de cavalo. Como já disse, eu mesmo o faria. E não porque, as you noticed, não seja ligeiramente curioso.”
Fonte: O Estadão
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