Nosso impávido viajante manda noticias da ilha de Creta, para onde
viajou na companhia de Trashie, sua sempre fiel raposa das estepes
siberianas. Conta-nos mr. Miles que Trashie viajou contrariada: “Se
fosse por sua vontade, ela preferiria passar uma temporada em Irkutsk,
na Rússia, onde a encontrei anos atrás. Sente-se nela uma evidente
nostalgia das temperaturas negativas que a embalaram em dias remotos. However,
não pude deixar de comparecer ao octogésimo aniversário de Constaninos
Papadopoulos, um afilhado de longa data, que adora ter nascido no que
chama ‘terra de Zeus’, o deus dos deuses. Se tudo correr bem, my friends, ainda consigo um tempo para levar Trashie à Sibéria ou, ao menos, à Groenlândia, onde tenho mais amigos.
A seguir, a correspondência da semana:
Prezado mr. Miles: fiz minha primeira viagem pela Ásia e
descobri que os banheiros não tinham papel higiênico como os do
Ocidente. Que outros povos têm hábitos diferentes nesse tema?João Moura
Toledo, por e-mail
“Well, my good John, no que se refere a banheiros, há
lugares que têm, de fato, instalações constrangedoras. Não sei quanto a
você, mas a mim me incomodam muito os banheiros turcos, aqueles que só
têm uma marcação para os sapatos e exigem que os usuários saibam
desempenhar de cócoras, o que é very difficult para muitos
ocidentais. Sobretudo as damas: minha amiga Connie Wells disse-me, entre
risadas, que esse tipo de cloaca deixa sempre seus sapatos molhados.
Na Ásia, in fact, é comum encontrar banheiros que oferecem
apenas um balde e uma concha (daquelas de sopa) para o cliente
arremessar água às partes comprometidas. Mas os hotéis mais modernos
dispõem de práticos chuveirinhos que exercem a mesma função.
O pior, my friend, são os lugares onde falta higiene. Certa
vez, tive um apuro em Cuba. Ouvia o discurso de inauguração de um
hospital proferido pelo comandante Fidel Castro quando senti as
primeiras cólicas. Era um salão pequeno e tive de me esgueirar entre as
cadeiras da plateia para não ofender o velho revolucionário, que já
estava falando há cerca de quatro horas, sem intervalo.
Supus que o hospital tivesse um banheiro, but, well, nem sempre as obras inauguradas estão completas, isn’t it? O fato é que tive de recorrer a uma retrete do canteiro de obras, que, I swear, não era lavada desde os tempos de Fulgêncio Batista. Oh, my God!
Há muitos banheiros públicos em condições deploráveis pelo mundo
afora. Tenho um velho amigo da Sardenha que, por um estranho hábito, não
é capaz de aliviar-se sem estar inteiramente nu (inclusive óculos,
sapatos e relógio). Pois o pobre vive com problemas para encontrar
espaço onde armazenar seus trajes. Can you imagine?
Por isso, my friend, sou a favor de banheiros onde se paga
um ingresso em troca da boa higiene. E sempre levo moedas no bolso por
precaução. Mas, nesse quesito, existem alguns exageros surpreendentes.
Em Verona, na Piazza Bra, existe um banheiro público muito bonito, que
lembra uma academia de ginástica. Na porta há um guichê, onde um
funcionário administra o movimento de entrada e saída, enquanto assiste
aos jogos de cálcio na televisão. O banheiro é unissex e para as
mulheres o preço é único. Já os homens pagam conforme a sua necessidade.
O único pequeno constrangimento é que você tem de anunciar suas
pretensões logo que entra. E se pagar por picciare, só vai poder mudar de ideia entrando na fila outra vez.
Fonte: O Estadão
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