quinta-feira, 28 de maio de 2020

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


O INFINITIVO PESSOAL FLEXIONADO

Para ir ou irem? Convém ir ou irmos? A chance de eles ganhar ou ganharem? Problemas a ser ou a serem resolvidos? Têm sido muitas as perguntas dos leitores sobre o infinitivo, que é uma das três formas nominais do verbo, junto com o gerúndio e o particípio. Por sua própria essência e natureza, o infinitivo é uma expressão verbal que não comportaria flexão – é o chamado infinitivo impessoal, que não tem sujeito próprio e geralmente corresponde a um substantivo, por exemplo: Trabalhar é bom = o trabalho é bom; amar é sofrer = o amor é sofrimento.

No entanto, a língua portuguesa tem a peculiaridade de poder (e às vezes dever) flexionar o infinitivo, que passa a ser chamado de infinitivo pessoal. Flexionar quer dizer conjugar em todas as pessoas: vender, venderes, vender, vendermos, venderdes, venderem.  Esse infinitivo pessoal, que apresenta um fato ou uma ação de modo geral, está usualmente ligado a uma preposição – para ir, vontade de sair, interesse em ficar – ou a frases do tipo “Convém/ cumpre dizer... e  É preciso/ é bom /é necessário /é importante /é possível dizer...", nas quais a oração de infinitivo tem a função de sujeito desses verbos.

O INFINITIVO FLEXIONA

1. Quando tem sujeito claramente expresso, ou seja, quando o pronome pessoal ou substantivo está na mesma oração do infinitivo, geralmente ao seu lado. É o único caso de flexão obrigatória:

  • É melhor nós irmos embora já.
  • Convém os idosos saírem em primeiro lugar.
  • Não é interessante elas receberem tanta gorjeta.
  • Farei o possível para as crianças aqui terem o conforto que tinham em casa.
2. Quando se refere a um sujeito não expresso que se quer dar a conhecer pela desinência verbal, até mesmo para evitar ambiguidades:

  • Mencionei a intenção de vendermos a casa.
  • É melhor saíres agora – está na hora de irmos embora.
  • Não confiaram em nós pelo fato de serem jovens.
  • Não confiaram em nós pelo fato de sermos jovens.
Observe que as mesmas frases, sem a flexão, não deixariam claro o sujeito: “mencionei a intenção de vender” poderia significar “eu vender”; “é melhor sair” e “está na hora de ir” pode se referir a  eu, ele, ela, você; "ser jovens" deixaria ambíguo: eles ou nós?

FLEXÃO NÃO OBRIGATÓRIA

A flexão é desnecessária quando o sujeito do infinitivo [ou oração reduzida de infinitivo] é o mesmo que o sujeito ou o objeto da oração anterior, ao contrário dos casos acima. Tendo sido expresso de alguma forma na primeira oração, o sujeito já está claro, não precisando figurar outra vez no mesmo enunciado. Observe nas frases abaixo que é muito mais elegante a não flexão:

  • Cometeram irregularidades só para agradar ao patrão.
  • Convidou os colegas a participar do debate.
  • A linguagem é o meio de que dispomos para exprimir nosso pensamento.
  • Não temos interesse em adiar a decisão.
  • O estudo ensinou os cientistas a proteger o algodão de pragas, a amadurecer tomates e a dobrar a produção de óleo de colza. 
Vale repetir que quando não há um sujeito expresso (em outros termos: quando o pronome pessoal ou o substantivo vem antes da preposição que rege o infinitivo), a flexão é facultativa, isto é, pode-se usar o infinitivo no plural, embora seja mais interessante não flexionar:

  • Os dados servem para guiar/ guiarem a comunicação das empresas.
  • Reuniram-se os escoteiros a fim de deliberar/ deliberarem sobre o local do encontro.
  • Todos discutiram uma forma de se proteger/ protegerem dos abusos.
  • O calendário obrigava os candidatos a se definir/ definirem até 3 de julho.
  • Grupo ajuda deficientes a superar/superarem seus limites.
  • Estudantes auxiliam portadores de necessidades a ter/ terem qualidade de vida.
  • Empresas aéreas colaboram com a arte sem nada cobrar/ cobrarem pelo transporte.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

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