Abril em Portugal
Em companhia de Trashie, a raposa das estepes siberianas, nosso
imprevisível viajante está em algum ponto entre a Ásia e o Oriente
Médio. Também estamos ansiosos para saber qual será seu próximo destino.
A seguir, a correspondência da semana:
Olá mr. Miles, sua coluna é das mais esperadas por mim.
Aprecio seu senso de humor e gosto refinado e peço seu auxílio.
Viajaremos por 15 dias para Portugal em abril, chegada por Lisboa e
saída por Porto. Tenho dúvidas sobre o roteiro: esticar até Sevilha por 2
ou 3 dias? Algarve? Alugar carro? Passar pelas cidades que toooodos os
roteiros indicam? O sr. recomenda alguma festa típica ou lugarejo
imperdível? A-do-ro também roteiros gastronômicos…
Samantha Zulian Medeiros, por e-mail
“Well, my dear, há duas maneiras de viajar por Portugal. Ou
como se fosse (e realmente é) um destino pequeno – e, nesse caso, em
quatro ou cinco dias você terá uma excelente impressão –, ou como se
fosse (e realmente é, as well) um destino grandioso – e, nessa outra situação, você há de se apaixonar perdidamente pelo país. As I understood,
sua intenção é ficar 15 dias com a inspiração de Camões ao redor. Pois
muito bem: vou lhe fazer algumas propostas pessoais, já que roteiros têm
a peculiaridade das listas de feira: cada um busca o que lhe apetece.
Eu dispensaria o Algarve, ainda que lá existam belas praias e falésias. However,
é mais fácil encontrar ingleses e alemães nessa porção das terras
lusitanas, grandemente descaracterizadas de suas raízes marinheiras. Não
deixe, porém, de atravessar o Tejo rumo ao sul, em direção ao Alentejo,
terra de muitos sóis e videiras, com uma simplicidade de trazer
lágrimas aos olhos. Tome a direção de Évora, onde a comida é quase tão
espetacular quanto a arquitetura. Visite os arredores: Arraiolos, pelos
tapetes hoje nem um pouco baratos, Estremoz, capital dos sobreiros que
produzem as melhores rolhas de cortiça do mundo e, if possible,
experimente a fidalguia com que os alentejanos recebem a quem convidam.
Well: vejo que me empolgo e não tenho espaço para tanto.
Lisboa é cidade para quatro dias repletos de novidades, incluindo uma
jornada às montanhas de Sintra. Óbidos, maçônica e pedestre, é
encantadora como um doce conventual. Batalha, com seu mosteiro
imponente, Alcobaça, com os restos de dom Pedro e sua adorada Inês de
Castro, e Tomar, com as ruínas de seu convento-fortaleza de Cavaleiros
Templários podem lhe tomar um ou dois dias.
Conforme o tamanho de sua devoção, exclua o Santuário de Fátima, just a place to pray.
Mas prepare as ‘batatas da perna’ para subir ao alto de Coimbra e
visitar a biblioteca da famosa universidade, onde grandes dramas,
pensatas e aventuras penetrarão em seus poros sem que seja necessário
abrir um único livro. E siga para a mata do Buçaco, aproveitando a
experiência gastronômica de almoçar no castelo-hotel que ela esconde.
Não deixe de comer, oh, my God, um leitão à Bairrada, porque
você já estará na região dessa especialidade. Ande um pouco pelas
rodovias secundárias para encontrar lovely villages como Loirinha de
Cima e Loirinha de Baixo, que são exatamente o que significam.
Porto? Mais três ou quatro dias, incluindo visita às produtoras de sherry
em Vila Nova de Gaia. Siga ao norte para Guimarães e Braga, onde nasceu
o país, cidades vizinhas e rivais. O arroz de pato é bom em toda
Portugal. Mas sua capital é Braga, com certeza. Ainda faltam o Rio
Douro, Chaves e Bragança em Trás-os-Montes e todas as pequenas
descobertas que surgirão no caminho.
I’m sure you will love this trip! Tenha cuidado apenas com o
idioma. Se, na estrada, surgir uma placa com os dizeres: ‘Cuidado:
troço sem berma!’, não pense que um unicórnio desgovernado está prestes a
atingir seu carro. Quer dizer apenas, I’m afraid, que há, pela frente,
um trecho sem acostamento.”
Fonte: O Estadão
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