sexta-feira, 22 de maio de 2020

MR. MILES

Mr. Miles

Abril em Portugal

Em companhia de Trashie, a raposa das estepes siberianas, nosso imprevisível viajante está em algum ponto entre a Ásia e o Oriente Médio. Também estamos ansiosos para saber qual será seu próximo destino. A seguir, a correspondência da semana:

Olá mr. Miles, sua coluna é das mais esperadas por mim. Aprecio seu senso de humor e gosto refinado e peço seu auxílio. Viajaremos por 15 dias para Portugal em abril, chegada por Lisboa e saída por Porto. Tenho dúvidas sobre o roteiro: esticar até Sevilha por 2 ou 3 dias? Algarve? Alugar carro? Passar pelas cidades que toooodos os roteiros indicam? O sr. recomenda alguma festa típica ou lugarejo imperdível? A-do-ro também roteiros gastronômicos…
Samantha Zulian Medeiros, por e-mail

Well, my dear, há duas maneiras de viajar por Portugal. Ou como se fosse (e realmente é) um destino pequeno – e, nesse caso, em quatro ou cinco dias você terá uma excelente impressão –, ou como se fosse (e realmente é, as well) um destino grandioso – e, nessa outra situação, você há de se apaixonar perdidamente pelo país. As I understood, sua intenção é ficar 15 dias com a inspiração de Camões ao redor. Pois muito bem: vou lhe fazer algumas propostas pessoais, já que roteiros têm a peculiaridade das listas de feira: cada um busca o que lhe apetece.

Eu dispensaria o Algarve, ainda que lá existam belas praias e falésias. However, é mais fácil encontrar ingleses e alemães nessa porção das terras lusitanas, grandemente descaracterizadas de suas raízes marinheiras. Não deixe, porém, de atravessar o Tejo rumo ao sul, em direção ao Alentejo, terra de muitos sóis e videiras, com uma simplicidade de trazer lágrimas aos olhos. Tome a direção de Évora, onde a comida é quase tão espetacular quanto a arquitetura. Visite os arredores: Arraiolos, pelos tapetes hoje nem um pouco baratos, Estremoz, capital dos sobreiros que produzem as melhores rolhas de cortiça do mundo e, if possible, experimente a fidalguia com que os alentejanos recebem a quem convidam.

Well: vejo que me empolgo e não tenho espaço para tanto. Lisboa é cidade para quatro dias repletos de novidades, incluindo uma jornada às montanhas de Sintra. Óbidos, maçônica e pedestre, é encantadora como um doce conventual. Batalha, com seu mosteiro imponente, Alcobaça, com os restos de dom Pedro e sua adorada Inês de Castro, e Tomar, com as ruínas de seu convento-fortaleza de Cavaleiros Templários podem lhe tomar um ou dois dias.

Conforme o tamanho de sua devoção, exclua o Santuário de Fátima, just a place to pray. Mas prepare as ‘batatas da perna’ para subir ao alto de Coimbra e visitar a biblioteca da famosa universidade, onde grandes dramas, pensatas e aventuras penetrarão em seus poros sem que seja necessário abrir um único livro. E siga para a mata do Buçaco, aproveitando a experiência gastronômica de almoçar no castelo-hotel que ela esconde. Não deixe de comer, oh, my God, um leitão à Bairrada, porque você já estará na região dessa especialidade. Ande um pouco pelas rodovias secundárias para encontrar lovely villages como Loirinha de Cima e Loirinha de Baixo, que são exatamente o que significam.

Porto? Mais três ou quatro dias, incluindo visita às produtoras de sherry em Vila Nova de Gaia. Siga ao norte para Guimarães e Braga, onde nasceu o país, cidades vizinhas e rivais. O arroz de pato é bom em toda Portugal. Mas sua capital é Braga, com certeza. Ainda faltam o Rio Douro, Chaves e Bragança em Trás-os-Montes e todas as pequenas descobertas que surgirão no caminho.

I’m sure you will love this trip! Tenha cuidado apenas com o idioma. Se, na estrada, surgir uma placa com os dizeres: ‘Cuidado: troço sem berma!’, não pense que um unicórnio desgovernado está prestes a atingir seu carro. Quer dizer apenas, I’m afraid, que há, pela frente, um trecho sem acostamento.”

Fonte: O Estadão

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