quinta-feira, 23 de abril de 2020

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


HAJA VISTA, FECHO DE CARTA E ENDEREÇAMENTO

Em atenção a pedido de Adalberto Tostes (Rio Pardo/RS), vejamos o emprego de haja vista. Esta expressão significa: atente-se para, haja atenção para, tenha-se em consideração, veja [o leitor] tal coisa ou pessoa, tenha [o leitor] em vista o que se passa a exemplificar.

Segundo a tradição literária, vista fica invariável, não importa que a palavra seguinte – o objeto direto, no caso – esteja no masculino ou no plural
  • haja vista a dieta prescrita.
  • haja vista o art. 93 do Código Civil.
  • haja vista as obras que já publicou.
  • haja vista os ingredientes recomendados.
Também se encontram exemplos na literatura de flexão do verbo haver – ele pode ir para o plural, continuando invariável a palavra “vista”
  • hajam vista os acontecimentos da África.
  • hajam vista as seguintes frases em francês.
Haja vista não é expressão jornalística. Quando se encontra em algum texto popular, pode estar lá como “haja visto”: visto no lugar de vista, porém, é uso malvisto pelos puristas.

FECHO DE CARTA

O leitor Beryl E. Taves, do Rio de Janeiro, solicita matéria sobre o uso do ponto ou da vírgula após o Atenciosamente em fechos de carta, “já que existe controvérsia sobre a questão”.

O que existe são variações de uso, isso sim. O que está dito na coluna Não tropece na Língua 232 a respeito do uso de vírgula ou não após o vocativo de cartas comerciais e ofícios vale também para o fecho. Quando o expediente termina numa palavra só, como Atenciosamente, Cordialmente, Respeitosamente, Grato, Saudações, o usual tem sido colocar uma vírgula, mas há pelo menos duas décadas começou uma simplificação no sentido de deixar esse tipo de fecho sem pontuação alguma, pois isso significa menos toques, menos tinta de impressão, menos poluição visual. Portanto estão ambos corretos:
  • Atenciosamente, Atenciosamente
O ponto final é usado quando se faz a despedida por meio de uma frase toda, acabe ela com a palavra atenciosamente ou não. Exemplos:
  • Agradecendo sua atenção, subscrevo-me cordialmente.  [cuidado para não deixar "atenção" junto com "atenciosamente"]
  • Ao agradecer a hospitalidade, coloco-me à sua disposição.
  • Na expectativa de sua resposta, despeço-me atenciosamente.
  • Contamos com sua colaboração, ao tempo em que agradecemos a atenção dispensada.
ENDEREÇAMENTO

E a professora Ivanilda “gostaria de saber se ao endereçar uma correspondência (no rodapé) ainda se faz necessário colocar: MD., Ilmo., DD. etc.”

Não é mais preciso, não. O Manual de Redação da Presidência da República (1991), que atualiza, uniformiza e simplifica as normas de redação de atos e comunicações oficiais, aboliu o uso do tratamento digníssimo (DD.) a todas as autoridades, ficando também “dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares” – neste caso é suficiente o tratamento Senhor. No endereçamento basta: Ao Senhor ou À Senhora.

Contudo, há uma exceção para as “excelências”: a elas ainda se destina o Excelentíssimo Senhor / Exmo. Sr. (V. modelos em Não Tropece na Língua 22). Quanto à colocação no rodapé, não há absoluto rigor nisso. O usual – e mais estético até – é fazer o endereçamento em cima e à esquerda.

Fonte: www.linguabrasil.com.br

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