O incrível país que está encolhendo
Depois de passar quatro ótimos dias na ilha de Malta,
conforme anunciado na semana passada ("Trashie sentiu-se revigorada com
os ares do Mediterrâneo e voltou a beber como uma profissional"), nosso
solerte viajante manda agradecer ao leitor Steve Cachia, um maltês que
vive há 25 anos no Brasil e se sentiu feliz ao ver sua nação retratada
com alegria por nosso correspondente. Mr. Miles avisa, também, aos
leitores que não existem falcões malteses na ilha. Em compensação,
confirma que o cão maltês, "aquela irresistível bola de pelos" é mesmo
originário de lá - e os registros sobre ele remontam ao século 5º a.C.,
"of course, sem tosa ou penteados modernos". A seguir, a correspondência
da semana:
Sr. Miles: como classificar lugares como Andorra, San Marino,
Luxemburgo, Vaticano e outros quetais, já que eles não são territórios
ultramarinos? Poderiam ser países? De qualquer forma, são adoráveis…
Sergio G. Sequeira, por e-mail
"Well, my friend,
no universo das nações, tamanho não é documento. Por essa razão,
chamem-se principados, reinos ou repúblicas, há uma quantidade
expressiva de very small places que, in fact, são
países. Ou seja: possuem administração oficialmente autônoma, bandeira
própria e hino nacional. Emitem selos, passaportes e possuem legações
estrangeiras. Alguns deles até participam de competições esportivas
internacionais, nas quais invariavelmente obtêm, by the way, resultados pífios.
Na minha modesta opinião, fellow, são apenas uma divertida
curiosidade e um interessante anacronismo. Conhecer as condições
históricas que propiciaram independência a essas 'nanonações' é, em
geral, very amazing. Na raiz de cada uma delas - exceto a de
ilhas e arquipélagos minúsculos que permaneceram independentes pela via
do isolamento -, sempre há razões curiosas. Algum conde que se escondeu
atrás da perpétua neutralidade, outro que soube beijar a mão de seus
vizinhos com lábios de mel, um terceiro que fez seu feudo fingir-se de
morto em algum vale esquecido entre montanhas impenetráveis.
Nowadays, dos seis menores países do mundo, quatro ficam na
Europa e dois deles são muito poderosos: Mônaco, a capital dos
milionários que don't like to pay taxes, e o Vaticano, sede de uma igreja que, unfortunately, se separou da Church of England em 1534. Os outros são San Marino - uma colina na Itália - e Liechtenstein, entre a Áustria e a Suíça.
Por casualidade, tenho muito mais amigos no principado dos Grimaldi
(que, confesso, frequentava mais assiduamente quando Grace Kelly
insistia em me convidar) do que nos monastérios do Vaticano, onde
outrora ia para praticar meu latim, mas já não encontro interlocutores.
O terceiro menor país do mundo fica na Micronésia, as you know. Nauru é, também, a menor república do mundo. Conheci bem seu ex-presidente, o briguento Ludwig Scotty que, in fact,
estava tentando impedir que seu minguado país diminuísse ainda mais.
Agora, a tarefa cabe ao novo mandatário, Baron Waqa, a quem ainda não
fui apresentado.
O problema do encolhimento do país vem do fato de que, por décadas, a
ilhota rica em fosfato vem sendo escavada por mineradoras. De tal forma
que o seu pequeno interior se tornou um imenso buraco, obrigando a
população a viver em um estreito anel à beira-mar. Se nada mudar, Nauru
pode acabar menor que o Vaticano. E, for Christ's sake, não vai adiantar nada reclamar com o bispo!"
Fonte: O Estadão
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