segunda-feira, 27 de abril de 2020

GERAÇÃO PERDIDA

GERAÇÃO PERDIDA
'Somos a geração perdida', avalia aluno da UnB
LEITOR EMERSON FRAGA
DE BRASÍLIA (DF)

Faço parte da primeira geração brasileira de nascidos após a Constituição de 1988. Não conhecemos, se não pelos livros de história, o regime antipopular instaurado pela ditadura militar no Brasil.

Não presenciamos a luta diária pela democracia representativa travada por milhões de brasileiros entre 1964 e 1985. Os que nos cercam não foram torturados em paus-de-arara. Já nascemos num país regido por uma Carta baseada na mais aprimorada ideia de democracia.

Como estudante da Universidade de Brasília, constato com tristeza que a maioria da "próxima geração" não emprega o devido valor à liberdade política. Não damos a importância merecida à conquista paga com sangue e suor de milhares de heróis anônimos. Somos uma geração acomodada aos direitos de voz e voto. E acomodados, infelizmente, ao ponto de banalizá-los.

Nossa falta de ponderação histórica traz grave ameaça de regressismo político e jurídico ao país. Ouço jovens universitários, formalmente educados, defenderem que é a mulher quem precisa cuidar dos filhos, enquanto o homem provê o sustento da casa. Ouço também que os direitos das minorias não podem prevalecer caso "incomodem" à maioria. Ouço, de jovens com cerca de 20 anos de idade, ideias impregnadas de preconceitos supostamente superados no século passado.

Sinto que há nesta geração um levante que não é liberal ou socialista, direitista ou esquerdista. É um movimento de supostos "apolíticos", que subjetivamente rejeitam a deliberação democrática, o poder popular. Uma tendência raivosa, retrógrada e extremamente perigosa. Um movimento silencioso contra as conquistas e progressos do Brasil recém-democrático.

Felizmente os legisladores da Constituição de outubro de 1988 garantiram preciosas liberdades políticas e individuais como fundadoras do Estado brasileiro. Tenho a triste impressão de que uma Constituinte formada por esta geração não teria fibra para legislar a metade delas. Tomara que esteja enganado.

Painel do Leitor
FOLHA DE S.PAULO
17/08/2012

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