Há duas ocasiões na vida em que uma pessoa não deve jogar: quando não tiver posses para isso - e quando tiver. (Mark Twain)
quinta-feira, 30 de abril de 2020
LUGARES
VIENA - ÁUSTRIA
O Palácio Belvedere é um palácio barroco construído pelo príncipe Eugénio de Saboia no 3° distrito de Viena, a sudeste do centro da cidade. O complexo é dividido em duas partes: Belvedere Inferior e Belvedere Superior. (Wikipédia)
NÃO TROPECE NA LÍNGUA
ACENTUAÇÃO - PAROXÍTONAS
São chamadas paroxítonas as palavras cuja tonicidade recai na penúltima sílaba. Formam a maioria do léxico português. Só recebem acento gráfico as palavras paroxítonas que não terminam em a, e, o, am, em e ens. No mais, são acentuadas as que terminam em:
* i, is: júri, dândi, táxi, biquíni, safári, íris, lápis, grátis, tênis.
Compare: O caqui está maduro. Comprei uma roupa cáqui.
* us, um, uns: Vênus, vírus, bônus, húmus, fórum, médium, médiuns, álbuns.
Compare: A última foto do álbum é do neném com o bumbum de fora.
Nenhum projeto foi aprovado pois faltou quórum.
quarta-feira, 29 de abril de 2020
LUGARES
CARCASSONE - FRANÇA
Exemplo excepcional de cidade medieval fortificada, Carcassonne desempenhou um papel da maior importância na história do Languedoc e da região sul da França.
A CAMPANHA
Por Sérgio Jockymann
Pois um dia, toda a redação do vibrante órgão de imprensa de Vila Velha, "O Independente", composta de um diretor e três redatores, teve uma importante reunião a fim de tratar de graves problemas da cidade. O mais grave de todos era que "O Independente", que nos bons tempos chegava a vender 500 exemplares, agora a pau e corda conseguia vender 165. Cada cem exemplares não vendidos provocavam a despedida de um redator e assim os três restantes sentiam o problema de um modo muito particular. Quanto ao Alfredo, diretor proprietário, que nos bons tempos possuía duas castelhanas importadas, estava agora reduzido aos carinhos de sua legítima esposa, que era uma santa criatura, mas não dessas capaz de entusiasmar um marido para qualquer coisa mais violenta que um chá com bolinhos.
Vai daí que o problema de aumentar a circulação de "O Independente" era de fato de suma gravidade. O Armando, um dos redatores mais afoitos e sonetista famoso, chegou a sugerir uma campanha contra o coronel, mas o Alfredo depois de pesar os contra não achou nenhum pró e discordou:
- O que nós precisamos é de algo diferente.
Ora, no dia anterior, por falta de dinheiro o Arnaldo tinha sido convidado a sair da casa da Zoé e naquele momento queimava de raiva e amargura. E tão logo o Alfredo falou em algo diferente, a inspiração brotou de sua cabeça:
- Vamos lançar uma campanha de moralização.
O Alfredo pensou nas castelhanas e deu um suspiro. Mas como elas já tinham partido, se sentiu meio irmão do Arnaldo e aceitou a idéia.
- Isso mesmo. Vamos lançar uma campanha de moralização.
No dia seguinte, "O Independente" publicava na primeira página um violento soneto do Arnaldo, intitulado "Sodoma e Gomorra". Soneto que deu muito trabalho porque Gomorra só rimava com corra, desforra e borra e por mais que o Arnaldo procurasse não encontrou nenhuma outra rima. Ao contrário do que se esperava, o soneto não teve a mínima repercussão, sendo que ainda para mal dos pecados, um gaiato encontrou uma outra rima para Gomorra e fez uma paródia pornográfica como o diabo em noite de sábado.
Alfredo então achou que um soneto não bastava e preparou uma edição especial, que abria com uma manchete memorável:
- Vila Velha, a cidade do pecado.
Arnaldo tinha escrito o texto na frente da janela que dava para a casa da Zoé. Cada vez que uma gargalhada rebentava do outro lado, era uma frase candente que ele punha no papel. Como era um oposicionista ferrenho, lá pelas tantas saiu a dizer que o grande responsável era um certo coronel que acobertava todos os vícios e alimentava todas as infâmias. O Clarimundo, que pelo sentido da frase achou que infâmia era outra coisa, acordou o coronel com o jornal na mão.
- Coronel, estão dizendo que o senhor dá de comer para todas as meninas da Zoé.
O coronel leu o artigo e levantou a sobrancelha esquerda, sinal mais do que evidente de que não tinha gostado.
- Me chama o Alfredo.
Meia hora depois, o Alfredo estava no gabinete do coronel.
- Que negócio é esse?
- Vamos moralizar a cidade.
O coronel deu um murro na mesa e explodiu:
- Alfredo, se tu pensa que vai arrancar dinheiro da Zoé, está enganado.
O Alfredo disse que não queria arrancar dinheiro de ninguém, mas pura e simplesmente tornar Vila Velha uma cidade decente.
- Decente como?
Alfredo disse. E levou mais cinco minutos dando a relação de todas as degradações, que iam desde a casa da Zoé, até a expulsão de quatro irmãs que moravam na entrada da cidade e que, a bem da verdade, se deve dizer que nunca cobraram um tostão de ninguém, mas faziam o que faziam por puro amor à arte. Alfredo tomou fôlego e concluiu:
- Vamos convocar todas as mães de família, todos os padres, todos os homens de bem para uma campanha moralizadora.
O coronel quando pensou nos homens de bem de Vila Velha teve um arrepio.
- Alfredo, entendi o problema. Manda buscar aquelas castelhanas que eu te empresto dinheiro.
O Alfredo fez um ar muito frio e respondeu que não sabia do que o coronel estava falando.
- Ah, é assim? Pois vou apoiar a campanha.
O outro não quis acreditar.
Vou. Quer saber do que mais? Vou te ajudar a desmascarar todos os cretinos da cidade. Amanhã passo no jornal.
O Alfredo saiu da casa do coronel pisando em nuvens. O único que não gostou da novidade foi o Arnaldo, que já estava com um soneto pronto chamando o coronel de Borgia dos Pampas.
- Mas ele vai apoiar mesmo?
- Me deu a palavra.
E de fato, no dia seguinte, o coronel entrou na redação do jornal com um ar muito satisfeito.
- Tenho todo o material aqui. Cartas, fotografias, confissões, testemunhos. Tudo.
A redação de "O Independente" ficou de boca aberta. O coronel jogou a papelada em cima da mesa.
- Primeira reportagem: a história de duas castelhanas que o diretor do Independente sustentava. Com uma fotografia do diretor de cuecas, gentilmente cedida por uma das vítimas. Segunda reportagem: a história de uma mulher da vida que durante seis meses emprestou dinheiro para o Arnaldo que só pagou com um soneto. E aqui está o soneto. Querem ouvir mais?
Ninguém queria.
- Muito bem, meus anjinhos. Podem publicar tudo isso no próximo número.
E inexplicavelmente no próximo número de "O Independente", o jornal publicava um artigo sobre Maria Madalena e um soneto do Arnaldo que começava assim: "Oh, tu, filha do pecado que mendigas um perdão". (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 126)
terça-feira, 28 de abril de 2020
ROMANCE FORENSE
ÍNTIMOS, MAS NEM TANTO
O cenário é a Justiça do Trabalho, numa cidade do Vale do Sinos. Reclamante e testemunha são, ambos, afro-descendentes - altos e fortes. Mas, percebe-se, são pessoas culturalmente toscas.
O cenário é a Justiça do Trabalho, numa cidade do Vale do Sinos. Reclamante e testemunha são, ambos, afro-descendentes - altos e fortes. Mas, percebe-se, são pessoas culturalmente toscas.
A magistrada inicia a qualificação da testemunha, quando o advogado da reclamada apresenta a contradita, alegando amizade íntima entre aqueles dois.
A juíza visando esclarecer, pergunta à testemunha se esta "era amigo do reclamante, se visitava sua casa, se tinham hábitos comuns, tais como chimarrear ou churrasquear juntos".
A testemunha balança a cabeça num sinal de afirmação. A magistrada complementa a indagação:
- Quer dizer, então, que vocês são íntimos?
A testemunha chateada levanta-se da cadeira e, feições contrafeitas, ergue a voz, mas maneia a cabeça reverencialmente:
- Pois olha ´dotôra´, a gente somos amigos, mas também não desse jeito que a senhora tá pensando! Basta olhar pra mim e pra ele também - diz apontando para o reclamante.
Todos caem na gargalhada e a juíza, com a face ruborizada, pede que os presentes se recomponham e passa a explicar a expressão usada à testemunha, que ainda não entendia o que estava acontecendo.
O depoimento então é tomado na condição de informante.
Fonte: www.espacovital.com.br
segunda-feira, 27 de abril de 2020
GERAÇÃO PERDIDA
GERAÇÃO PERDIDA
'Somos a geração perdida', avalia aluno da UnB
'Somos a geração perdida', avalia aluno da UnB
LEITOR EMERSON FRAGA
DE BRASÍLIA (DF)
Faço parte da primeira geração brasileira de nascidos após a Constituição de 1988. Não conhecemos, se não pelos livros de história, o regime antipopular instaurado pela ditadura militar no Brasil.
Não presenciamos a luta diária pela democracia representativa travada por milhões de brasileiros entre 1964 e 1985. Os que nos cercam não foram torturados em paus-de-arara. Já nascemos num país regido por uma Carta baseada na mais aprimorada ideia de democracia.
Como estudante da Universidade de Brasília, constato com tristeza que a maioria da "próxima geração" não emprega o devido valor à liberdade política. Não damos a importância merecida à conquista paga com sangue e suor de milhares de heróis anônimos. Somos uma geração acomodada aos direitos de voz e voto. E acomodados, infelizmente, ao ponto de banalizá-los.
Nossa falta de ponderação histórica traz grave ameaça de regressismo político e jurídico ao país. Ouço jovens universitários, formalmente educados, defenderem que é a mulher quem precisa cuidar dos filhos, enquanto o homem provê o sustento da casa. Ouço também que os direitos das minorias não podem prevalecer caso "incomodem" à maioria. Ouço, de jovens com cerca de 20 anos de idade, ideias impregnadas de preconceitos supostamente superados no século passado.
Sinto que há nesta geração um levante que não é liberal ou socialista, direitista ou esquerdista. É um movimento de supostos "apolíticos", que subjetivamente rejeitam a deliberação democrática, o poder popular. Uma tendência raivosa, retrógrada e extremamente perigosa. Um movimento silencioso contra as conquistas e progressos do Brasil recém-democrático.
Felizmente os legisladores da Constituição de outubro de 1988 garantiram preciosas liberdades políticas e individuais como fundadoras do Estado brasileiro. Tenho a triste impressão de que uma Constituinte formada por esta geração não teria fibra para legislar a metade delas. Tomara que esteja enganado.
Painel do Leitor
FOLHA DE S.PAULO
17/08/2012
domingo, 26 de abril de 2020
PUFF THE MAGIC DRAGON
"Puff, the Magic Dragon" é uma canção
escrita por Leonard Lipton e Yarrow Peter , e que se tornou popular pelo grupo
Peter, Paul and Mary, em uma gravação de 1963.
A canção alcançou grande popularidade e chegou ao
segundo lugar no Billboard Hot 100. Pela reação do público neste segundo vídeo de 2008 dá para sentir e avaliar a popularidade do grupo e da música.
A letra de "Puff, the Magic Dragon" foi
baseada em um poema de 1959 e conta uma história do eterno dragão Puff e seu
companheiro de papel Jackie, um menino que cresce e perde o interesse nas
aventuras imaginárias da infância e deixa Puff sozinho e deprimido. O grupo
incorporou a música em suas apresentações ao vivo antes de gravá-la em 1962.
LUGARES
PARIS - FRANÇA
A basílica do Sagrado Coração (em
francês, basilique du Sacré-Cœur) é um templo da Igreja Católica Romana em
Paris, sendo, também, o símbolo do bairro de Monte Martre. Está localizada no topo do monte Martre, o ponto mais alto da cidade. Foi construída com mármore travertino extraído da região de
Seine-et-Marne, o que lhe proporciona uma tonalidade branca. Um dos monumentos mais visitados
da França, a basílica tem o formato de cruz grega adornada por quatro cúpulas,
incluindo a cúpula central de oitenta metros de altura. Na abside, uma torre
serve de campanário a um sino de três metros de diâmetro e de mais de 26
toneladas. A arquitetura da basílica é
inspirada na arquitetura romana e bizantina e influenciou outros edifícios
religiosos do século XX. (Wikipédia)
TRANCADOS NO AVIÃO
Nosso destino: Paris. Embarcamos na hora prevista num vôo da Air France e pela primeira vez utilizamos uma aeronave com dois andares. Ficamos no andar superior. A viagem transcorreu sem maiores problemas e praticamente não sentimos qualquer turbulência, de modo que foi possível dormir com o conforto próprio de quem viaja na classe econômica. Os problemas ocorreram já em terra.
Após um pouso perfeito e com a aeronave já
definitivamente parada, todos nós passageiros começamos a nos preparar para o
desembarque. Só que o tempo habitual para que a movimentação fosse notada durou
mais do que o normal. Não posso precisar quantos minutos se passaram até nos
vermos fora do avião. Durou uma eternidade a partir do momento em que
nos avisaram de um problema com a porta e que deveríamos desembarcar pela porta
de emergência.
sábado, 25 de abril de 2020
PENSAR NA VELHICE
PENSAR NA VELHICE
Por Lara Brenner
Acredite: é bom pensar na velhice enquanto você ainda é jovem
Não somos preparados para a morte. Aqui por essas bandas ocidentais, morrer parece não fazer sentido, embora seja a única certeza que de fato se tenha em vida. A ideia de ter a existência findada aqui na Terra causa terror e parece especialmente desnecessária quando — espera-se — ainda se está a tantos anos de seu atingimento.
Se a morte é um mau agouro ao qual não vale a pena dedicar energia, que dirá a fase moribunda que a precede. A velhice é o cessar do viço, a reta final do naufrágio, a certeza de que não mais existe tempo para nada que não a queda livre. É a hora da despedida, a sentença do fracasso, o silêncio humilhado que precede o silêncio eterno. Será?
Nosso despreparo começa na crença de que a velhice é uma doença que pega os outros, mas jamais a nós. Quando questões pragmáticas como previdência, assento preferencial e terapia ocupacional são tão longínquas, ignorá-las parece o mais natural a se fazer. Só que a velhice em si não é doença. Doença mesmo é a negação de que ela virá. A maior moléstia que uma sociedade pode carregar é a incompreensão da biologia própria, o não reconhecimento dos abrires e fechares de seu singular ciclo de vida.
De maneira bastante infantil e em clara tentativa de negar a morte, vinculamos o sucesso à imagem e a imagem à produção. Caras esticadas e retalhadas por bisturis contam a história de um povo que vive de negar a sua história. Sobre o assunto, Julia Roberts, que não é nada adepta da “desvaidade”, mas busca ser prática em suas análises, disse: “Eu quero que meus filhos identifiquem quando estou irritada, quando estou feliz e quando estou confusa. Seu rosto conta uma história… E não pode ser a história sobre você dirigindo rumo ao consultório médico”. Temos contado mais sobre a destreza de nossos médicos do que sobre nós?
Estar em paz com o compasso dos anos significa estar em paz com presente e passado. Envelhecer é, antes de tudo, aprender a fazer escambo consigo: vai-se a energia, vem a paciência; vai-se a beleza, vem a maturidade; vai-se o destemor, vem a prudência; vai-se o riso fácil, vem a tolerância. O que vai embora é o que há de menos sofisticado, mas o que se conquista é espelho do árduo trabalho de autoconstrução. Se não pelo tempo, de onde mais viriam nossos predicativos mais refinados?
Lidar com a velhice é hábito que se constrói desde cedo. Nadando contra a maré ocidental, é preciso fazer esforço para se compreender sua fatalidade e sobretudo naturalidade, afinal “somente os idiotas se lamentam em envelhecer” (Cícero).
Fonte: https://www.revistabula.com
sexta-feira, 24 de abril de 2020
MR.MILES
O incrível país que está encolhendo
Depois de passar quatro ótimos dias na ilha de Malta,
conforme anunciado na semana passada ("Trashie sentiu-se revigorada com
os ares do Mediterrâneo e voltou a beber como uma profissional"), nosso
solerte viajante manda agradecer ao leitor Steve Cachia, um maltês que
vive há 25 anos no Brasil e se sentiu feliz ao ver sua nação retratada
com alegria por nosso correspondente. Mr. Miles avisa, também, aos
leitores que não existem falcões malteses na ilha. Em compensação,
confirma que o cão maltês, "aquela irresistível bola de pelos" é mesmo
originário de lá - e os registros sobre ele remontam ao século 5º a.C.,
"of course, sem tosa ou penteados modernos". A seguir, a correspondência
da semana:
Sr. Miles: como classificar lugares como Andorra, San Marino,
Luxemburgo, Vaticano e outros quetais, já que eles não são territórios
ultramarinos? Poderiam ser países? De qualquer forma, são adoráveis…
Sergio G. Sequeira, por e-mail
quinta-feira, 23 de abril de 2020
LUGARES
NÃO TROPECE NA LÍNGUA
HAJA VISTA, FECHO DE CARTA E ENDEREÇAMENTO
Em atenção a pedido de Adalberto Tostes (Rio Pardo/RS), vejamos o emprego de haja vista. Esta expressão significa: atente-se para, haja atenção para, tenha-se em consideração, veja [o leitor] tal coisa ou pessoa, tenha [o leitor] em vista o que se passa a exemplificar.
Segundo a tradição literária, vista fica invariável, não importa que a palavra seguinte – o objeto direto, no caso – esteja no masculino ou no plural
- haja vista a dieta prescrita.
- haja vista o art. 93 do Código Civil.
- haja vista as obras que já publicou.
- haja vista os ingredientes recomendados.
Também se encontram exemplos na literatura de flexão do verbo haver – ele pode ir para o plural, continuando invariável a palavra “vista”
- hajam vista os acontecimentos da África.
- hajam vista as seguintes frases em francês.
Haja vista não é expressão jornalística. Quando se encontra em algum texto popular, pode estar lá como “haja visto”: visto no lugar de vista, porém, é uso malvisto pelos puristas.
FECHO DE CARTA
O leitor Beryl E. Taves, do Rio de Janeiro, solicita matéria sobre o uso do ponto ou da vírgula após o Atenciosamente em fechos de carta, “já que existe controvérsia sobre a questão”.
O que existe são variações de uso, isso sim. O que está dito na coluna Não tropece na Língua 232 a respeito do uso de vírgula ou não após o vocativo de cartas comerciais e ofícios vale também para o fecho. Quando o expediente termina numa palavra só, como Atenciosamente, Cordialmente, Respeitosamente, Grato, Saudações, o usual tem sido colocar uma vírgula, mas há pelo menos duas décadas começou uma simplificação no sentido de deixar esse tipo de fecho sem pontuação alguma, pois isso significa menos toques, menos tinta de impressão, menos poluição visual. Portanto estão ambos corretos:
- Atenciosamente, Atenciosamente
O ponto final é usado quando se faz a despedida por meio de uma frase toda, acabe ela com a palavra atenciosamente ou não. Exemplos:
- Agradecendo sua atenção, subscrevo-me cordialmente. [cuidado para não deixar "atenção" junto com "atenciosamente"]
- Ao agradecer a hospitalidade, coloco-me à sua disposição.
- Na expectativa de sua resposta, despeço-me atenciosamente.
- Contamos com sua colaboração, ao tempo em que agradecemos a atenção dispensada.
ENDEREÇAMENTO
E a professora Ivanilda “gostaria de saber se ao endereçar uma correspondência (no rodapé) ainda se faz necessário colocar: MD., Ilmo., DD. etc.”
Não é mais preciso, não. O Manual de Redação da Presidência da República (1991), que atualiza, uniformiza e simplifica as normas de redação de atos e comunicações oficiais, aboliu o uso do tratamento digníssimo (DD.) a todas as autoridades, ficando também “dispensado o emprego do superlativo ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento de Vossa Senhoria e para particulares” – neste caso é suficiente o tratamento Senhor. No endereçamento basta: Ao Senhor ou À Senhora.
Contudo, há uma exceção para as “excelências”: a elas ainda se destina o Excelentíssimo Senhor / Exmo. Sr. (V. modelos em Não Tropece na Língua 22). Quanto à colocação no rodapé, não há absoluto rigor nisso. O usual – e mais estético até – é fazer o endereçamento em cima e à esquerda.
Fonte: www.linguabrasil.com.br
quarta-feira, 22 de abril de 2020
O FALSÁRIO
Por Sérgio Jockymann
Pois, até os cinquenta e quatro anos, o Antunes foi apenas um humilde tipógrafo de "O Independente", vibrante órgão usualmente semanal de Vila Velha, embora se tornasse sempre diário durante as campanhas políticas, quando era tão independente quanto pretendia. O Antunes apareceu em Vila Velha com quarenta anos e uma história comprida e embrulhada sobre uma litografia paulista, que chegou a ser a primeira da América do Sul e de repente faliu. Era um sujeito quieto e pacífico, que uma vez por semana visitava as meninas da Zoé, pagava duas cervejas e voltava para casa, onde passava noites de domingos, trabalhando com placas de chumbo, com uma finalidade que ninguém sabia e também não se interessava.
Até que um dia, pagou as duas cervejas com uma nota novinha de quinhentos mi réis e fez brotar uma pulga atrás da orelha da Zoé, que era mulher vivida e não tinha pulgas com tanta facilidade como outras pessoas. A Zoé virou e revirou a nota até que pediu para falar com o Antunes.
- Onde foi que você arranjou dinheiro novo?
O Antunes ficou com olhinhos de cobra e perguntou qual era o problema. A Zoé não olhou a nota, olhou o Antunes durante bem um minuto e ficou convencida.
- Antunes, esse dinheiro é falso.
O Antunes quase chorou.
- Como foi que você descobriu?
- Pelo tamanho dos teus olhos, infeliz. Conheço a freguesia.
Ele piscou duas vezes, depois começou a rir.
- Você é uma diaba de mulher esperta, Zoé.
Ela nunca foi modesta.
- Ah, isso sou mesmo.
O Antunes tornou a rir e confessou desavergonhadamente.
- Pois é dinheiro falso mesmo.
- Quem foi que fez?
- Eu.
A Zoé nunca pensou que o Antunes tivesse tanta capacidade e por isso levou um tempo enorme para acreditar naquilo.
- Como foi que você fez?
- Ah, isso é um segredo.
Pegou a nota com a ponta dos dedos e pôs de encontro à luz.
- Veja, tem até marca d'água.
A Zoé olhou e teve que reconhecer que era perfeita.
- Será que passa?
O Antunes se ofendeu.
- Se não passar, passo o resto da vida como frade. Levei quarenta anos para fazer essa obra prima.
A Zoé ainda estava desconfiada.
- Posso levar no banco?
- À hora que quiser.
No dia seguinte, a Zoé foi no banco, chamou o caixa e disse que achava que a nota era falsa. O caixa virou e revirou e deu o veredito:
- Verdadeira.
A Zoé não se convenceu e foi na coletoria. Mesma coisa.
- Tem certeza?
- Absoluta.
Foi aí que o diabinho da cobiça entrou no corpo da Zoé e naquela noite ela pagou duas cervejas para o Antunes.
- Antunes, você sabe que sou uma mulher de negócios.
O Antunes sabia.
Como diz o coronel, um artista sem um homem de negócios do lado termina na miséria.
O Antunes tornou a concordar. A Zoé encheu mais um copo, pediu um conhaque e propôs:
- Você fabrica e eu distribuo. Cinquenta po cento.
O Antunes rebentou numa gargalhada e disse que não.
- Sessenta para você, quarenta para mim.
O Antunes cada vez ria mais alto.
- Dou setenta por cento.
Só piorou a risada do Antunes. Diante disso, a Zoé achou que dez por cento era melhor do que nada e fez a proposta - cheia de humildade. Mas o Antunes negou novamente. A Zoé teve uma crise de choro, lembrou para o Antunes que sempre tinha lutado contra a sorte, que já estava chegando aos quarenta, que mais dez anos e só Deus sabe onde ela estaria, mas o Antunes continuou negando.
- Quer dizer que não quer me dar dez por cento?
- Não.
- Olho grande desgraçado, vou te rogar uma praga que teus dentes vão quebrar até comendo manteiga.
A Zoé era famosa pelas pragas que rogava, mas nem assim conseguiu fazer com que o Antunes mudasse de idéia.
- Mas que diabo, homem, qual é o problema?
De repente, o queixo do Antunes tremeu, os olhos se encheram de lágrimas e entre soluços ele desabafou:
- Cada nota de quinhentos mil réis me custa mais de cinco contos.
E a Zoé, que sempre foi uma mulher sensível, desandou a chorar também. (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 131)
terça-feira, 21 de abril de 2020
LUGARES
POMPEIA - ITÁLIA
Pompeia ou Pompeios foi outrora uma cidade do Império Romano situada a 22 km da cidade de Nápoles, na Itália, no território do atual município de Pompeia. A antiga cidade foi destruída durante uma grande erupção do vulcão Vesúvio em 79 d. (Wikipédia)
ROMANCE FORENSE
A EMPREGADINHA E O VIÚVO
O advogado de Lúcia foi sucinto ao relatar o pleito de sua cliente: "quando contava 18 de idade, ela iniciou relacionamento com Oscar, vindo a descobrir após alguns meses que ele era casado. Mas ele sempre a procurou e se encontravam em motéis, fazendo promessas de ajuda para o sustento do filho que ela já tinha, dizendo também que se casariam posteriormente, fato que nunca ocorreu, mesmo após o cidadão ter ficado viúvo".
O advogado de Lúcia foi sucinto ao relatar o pleito de sua cliente: "quando contava 18 de idade, ela iniciou relacionamento com Oscar, vindo a descobrir após alguns meses que ele era casado. Mas ele sempre a procurou e se encontravam em motéis, fazendo promessas de ajuda para o sustento do filho que ela já tinha, dizendo também que se casariam posteriormente, fato que nunca ocorreu, mesmo após o cidadão ter ficado viúvo".
Prosseguiu a inicial: "Oscar, a pretexto de ajudar a autora e seu filho, apenas colocou ambos no quadro social do clube e deu autorização para que a autora comprasse em nome dele na farmácia".
Como houve divergência sentimental (ou sexual?) entre os dois, o romance havia terminado - daí porque Lúcia ingressou com "ação de dissolução de sociedade de fato, cumulada com pedido de partilha de bens"!
O juiz da causa julgou os pedidos improcedentes. Houve recurso de apelação, pedindo que alternativamente houvesse uma indenização pelas tarefas prestadas de "limpeza e serviços de mesa, principalmente considerando que a autora ia seguidamente levar remédios para ele, além de preparar seu almoço, todos os dias, tanto que fez prova que diariamente estacionava seu carro na garagem do prédio de Oscar".
O relator, "diante da singeleza das questões e dos elementos de convicção, bem como da orientação jurisprudencial desta corte", julgou monocraticamente, improvendo o apelo.
A decisão ainda conteve um ensinamento: "os efetivos serviços de cama não passaram de uma relação de amantes; acaso a apelante entenda ter direito a ser remunerada pelos serviços prestados como doméstica, o foro competente é a Justiça laboral - leia-se, a propósito, o que dispõe a Emenda Constitucional nº 45".
Na rádio corredor da Magistratura (idem da Advocacia), acredita-se que o sutil recado não tenha sido dirigido à parte. Mas, sim, ao seu...advogado.
Fonte: www.espacovital.com.br
segunda-feira, 20 de abril de 2020
LUGARES
CASTELO DE CHENONCEAU - FRANÇA
O Castelo de Chenonceau (em
francês, "Château de Chenonceau"), também conhecido como Castelo das
Sete Damas, é um palácio localizado na comuna de Chenonceaux, departamento de
Indre-et-Loire, na região do rio Loire, a Sul de Chambord, na França. O
primeiro castelo foi construído no local de um antigo moinho, em posição
dominante sobre as águas do rio Cher, algum tempo antes da sua primeira menção
num texto, no século XI. O atual palácio foi construído pelo arquiteto
Philibert Delorme, e a sua história está associada a sete mulheres de
personalidade forte, duas das quais rainhas de França.
MINHA ALMA ESTÁ EM BRISA
MINHA ALMA ESTÁ EM BRISA
Mário de Andrade
Contei meus anos e descobri que tenho menos tempo para viver a partir daqui, do que o que eu vivi até agora.
Eu me sinto como aquela criança que ganhou um pacote de doces; O primeiro comeu com prazer, mas quando percebeu que havia poucos, começou a saboreá-los profundamente.
Já não tenho tempo para reuniões intermináveis em que são discutidos estatutos, regras, procedimentos e regulamentos internos, sabendo que nada será alcançado.
Não tenho mais tempo para apoiar pessoas absurdas que, apesar da idade cronológica, não cresceram.
Meu tempo é muito curto para discutir títulos. Eu quero a essência, minha alma está com pressa ... Sem muitos doces no pacote ...
Quero viver ao lado de pessoas humanas, muito humanas. Que sabem rir dos seus erros. Que não ficam inchadas, com seus triunfos. Que não se consideram eleitos antes do tempo. Que não ficam longe de suas responsabilidades. Que defendem a dignidade humana. E querem andar do lado da verdade e da honestidade.
O essencial é o que faz a vida valer a pena.
Quero cercar-me de pessoas que sabem tocar os corações das pessoas ...
Pessoas a quem os golpes da vida, ensinaram a crescer com toques suaves na alma
Sim ... Estou com pressa ... Estou com pressa para viver com a intensidade que só a maturidade pode dar.
Eu pretendo não desperdiçar nenhum dos doces que eu tenha ou ganhe... Tenho certeza de que eles serão mais requintados do que os que comi até agora.
Meu objetivo é chegar ao fim satisfeito e em paz com meus entes queridos e com a minha consciência.
Nós temos duas vidas e a segunda começa quando você percebe que você só tem uma...
domingo, 19 de abril de 2020
THE HOLLIES
THE HOLLIES - 1969 - TEXTO DE ARNALDO CARDOSO FILHO
Essa coisa maravilhosa tinha passado pela minha vida apenas como uma canção de linda melodia, cuja letra, em difícil pronuncia da banda, eu jamais tinha captado" .... Leia o texto abaixo antes de ver o vídeo e a letra da música, que é linda!
Quantas vezes eu, e provavelmente você também, já ouvimos essa bela canção. Mas, como eu, você também, suponho, desconhecia a circunstância que a inspirou... Pois aí está... Tanto quanto para mim, espero que seja do seu agrado. Para quem ainda não se sente desprendido o suficiente para agir como sugere a letra da música, vai um consolo:
"Se você se emocionar, sentindo essa emoção dentro do
seu coração, alegre-se: a semente já está plantada, e a terra é
fértil!"
Para os saudosistas, amantes da boa música... Essa é uma música da
época de juventude dos anos 60, mas sempre será atual, visto que nada
mudou!!!! É sobre a entidade "Missão dos Órfãos", em Washington, DC. Foi lá
que ficou eternizada a música "He ain't heavy, he is my brother", dos "The
Hollies ", (você pode não estar lembrando da música, mas depois de ouvir, se
lembrará do grande sucesso!)
A história conta que certa noite, em uma
forte nevasca, na sede da entidade, um padre plantonista ouviu alguém bater
na porta. Ao abri-la deparou com um menino coberto de neve, com poucas
roupas, trazendo em suas costas, outro menino mais novo. A fome estampada no
rosto, o frio e a miséria dos dois comoveram o padre. O sacerdote
mandou-os entrar e exclamou:
- Ele deve ser muito pesado.
O que carregava
disse:
- Ele não pesa, ele é meu irmão (He ain't heavy, he is my
brother);
Eles não eram irmãos de sangue realmente. Eram irmãos da rua. O
autor da música soube do caso e se inspirou para compô-la, e da frase fez o
refrão. Os dois meninos foram adotados pela instituição. Essa história é
inspiradora nestes dias de falta de solidariedade, de violência e de
egoísmo.
Agora ouça pelo anexo e acompanhe a letra
traduzida.
Na época eu não entendia a letra, mas hoje entendo
que também tive alguns irmãos que me auxiliaram na estrada da vida sem
reclamar ou cobrar ( como se eu fosse muito leve ). Tudo que me resta é
tentar fazer o mesmo, tendo o cuidado para que o outro não se sinta um fardo,
afinal ele não é, ele é nosso
irmão.
O GALO DE BARCELOS
Uma das mais importantes lendas medievais do éradio popular português se imortalizou através do famoso Galo de Barcelos que de símbolo do artesanato Barcelense se elevou ao mais importante ícone de identidade de Portugal no Mundo.
A lenda do Galo de Barcelos narra a intervenção milagrosa de um galo morto na prova da inocência de um homem erradamente acusado. Está associada ao cruzeiro seiscentista que faz parte do espólio do Museu Arqueológico, situado no Paço dos Condes de Barcelos.
Um dia, os habitantes de Barcelos andavam alarmados com um crime, do qual ainda não se tinha descoberto o criminoso que o cometera. Certo dia, apareceu um galego que se tornou suspeito. As autoridades resolveram prendê-lo, apesar dos seus juramentos de inocência, que estava apenas de passagem em peregrinação a Santiago de Compostela, em cumprimento duma promessa.
Condenado à forca, o homem pediu que o levassem à presença do juiz que o condenara. Concedida a autorização, levaram-no à residência do magistrado, que nesse momento se banqueteava com alguns amigos. O galego voltou a afirmar a sua inocência e, perante a incredulidade dos presentes, apontou para um galo assado que estava sobre a mesa e exclamou:
- "É tão certo eu estar inocente, como certo é esse galo cantar quando me enforcarem."
O juiz empurrou o prato para o lado e ignorou o apelo, mas quando o peregrino estava a ser enforcado, o galo assado ergueu-se na mesa e cantou. Compreendendo o seu erro, o juiz correu para a forca e descobriu que o galego se salvara graças a um nó mal feito. O homem foi imediatamente solto e mandado em paz.
Alguns anos mais tarde, o galego teria voltado a Barcelos para esculpir o Cruzeiro do Senhor do Galo em louvor à Virgem Maria e a São Tiago, monumento que se encontra no Museu Arqueológico de Barcelos. Este também é representado pelo artesanato minhoto, geralmente de barro, conhecida por galo de Barcelos e é um símbolo de Portugal e foi adotado pelo dramaturgo português Gil Vicente como sua mascote.
Fonte: Wikipédia
sábado, 18 de abril de 2020
LUGARES
Cerro Santa Lucía é um monte situado no centro de Santiago de Chile. Delimitado a sul pela Avenida Libertador General Bernardo O'Higgins (onde se situa a Estação Santa Lucía do Metro de Santiago), a oeste da Rua Santa Lucia, ao norte da Rua Merced e a leste da rua Victoria Subercaseaux. Está a uma altitude de 629 metros acima do nível do mar e uma altura de 69 metros, com uma área de 65.300 m². A modernização e urbanização da área aconteceu em 1872 e 1874, quando foi intendente da cidade Benjamín Vicuña Mackenna.(Wikipédia)
PENSAR É TRANSGREDIR
PENSAR É TRANSGREDIR
Lya Luft
Não lembro em que momento percebi que viver deveria ser uma permanente reinvenção de nós mesmos – para não morrermos soterrados na poeira da banalidade embora pareça que ainda estamos vivos.
Mas compreendi, num lampejo: então é isso, então é assim. Apesar dos medos, convém não ser demais fútil nem demais acomodada. Algumas vezes é preciso pegar o touro pelos chifres, mergulhar para depois ver o que acontece: porque a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Para reinventar-se é preciso pensar: isso aprendi muito cedo.
Apalpar, no nevoeiro de quem somos, algo que pareça uma essência: isso, mais ou menos, sou eu. Isso é o que eu queria ser, acredito ser, quero me tornar ou já fui.
Muita inquietação por baixo das águas do cotidiano. Mais cômodo seria ficar com o travesseiro sobre a cabeça e adotar o lema reconfortante: “Parar pra pensar, nem pensar!”
O problema é que quando menos se espera ele chega, o sorrateiro pensamento que nos faz parar. Pode ser no meio do shopping, no trânsito, na frente da tevê ou do computador.
Simplesmente escovando os dentes. Ou na hora da droga, do sexo sem afeto, do desafeto, do rancor, da lamúria, da hesitação e da resignação. Sem ter programado, a gente pára pra pensar.
Pode ser um susto: como espiar de um berçário confortável para um corredor com mil possibilidades. Cada porta, uma escolha. Muitas vão se abrir para um nada ou para algum absurdo. Outras, para um jardim de promessas.
Alguma, para a noite além da cerca. Hora de tirar os disfarces, aposentar as máscaras e reavaliar: reavaliar-se.
Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto.
Somos demasiado frívolos: buscamos o atordoamento das mil distrações, corremos de um lado a outro achando que somos grandes cumpridores de tarefas.
Quando o primeiro dever seria de vez em quando parar e analisar: quem a gente é, o que fazemos com a nossa vida, o tempo, os amores. E com as obrigações também, é claro, pois não temos sempre cinco anos de idade, quando a prioridade absoluta é dormir abraçado no urso de pelúcia e prosseguir, no sono, o sonho que afinal nessa idade ainda é a vida.
Mas pensar não é apenas a ameaça de enfrentar a alma no espelho: é sair para as varandas de si mesmo e olhar em torno, e quem sabe finalmente respirar.
Compreender: somos inquilinos de algo bem maior do que o nosso pequeno segredo individual. É o poderoso ciclo da existência. Nele todos os desastres e toda a beleza têm significado como fases de um processo.
Se nos escondermos num canto escuro abafando nossos questionamentos, não escutaremos o rumor do vento nas árvores do mundo. Nem compreenderemos que o prato das inevitáveis perdas pode pesar menos do que o dos possíveis ganhos.
Os ganhos ou os danos dependem da perspectiva e possibilidades de quem vai tecendo a sua história. O mundo em si não tem sentido sem o nosso olhar que lhe atribui identidade, sem o nosso pensamento que lhe confere alguma ordem.
Viver, como talvez morrer, é recriar-se: a vida não está aí apenas para ser suportada nem vivida, mas elaborada.
Eventualmente reprogramada. Conscientemente executada. Muitas vezes, ousada.
Parece fácil: “escrever a respeito das coisas é fácil”, já me disseram. Eu sei. Mas não é preciso realizar nada de espetacular, nem desejar nada excepcional. Não é preciso nem mesmo ser brilhante, importante, admirado.
Para viver de verdade, pensando e repensando a existência, para que ela valha a pena, é preciso ser amado; e amar; e amar-se. Ter esperança; qualquer esperança.
Questionar o que nos é imposto, sem rebeldias insensatas mas sem demasiada sensatez. Saborear o bom, mas aqui e ali enfrentar o ruim. Suportar sem se submeter, aceitar sem se humilhar, entregar-se sem renunciar a si mesmo e à possível dignidade.
Sonhar, porque se desistimos disso apaga-se a última claridade e nada mais valerá a pena. Escapar, na liberdade do pensamento, desse espírito de manada que trabalha obstinadamente para nos enquadrar, seja lá no que for.
E que o mínimo que a gente faça seja, a cada momento, o melhor que afinal se conseguiu fazer.
– crônica ‘Pensar é transgredir”, de Lya Luft, do livro ‘Pensar é transgredir’. Rio de Janeiro: Editora Record, 2004
Fonte: www.revistaprosaversoearte.com
sexta-feira, 17 de abril de 2020
MR.MILES
Para Malta, 'right now'!
Mr. Miles, o homem mais viajado do mundo* - O Estado de S.Paulo
Nosso solerte viajante anda escrevendo cartas muito longas. Eis porque temos de abreviar as introduções. A seguir, a carta da semana:
Saudações, mr. Miles. Estou pensando em passar um mês na ilha de Malta em janeiro de 2014. Surgiu uma dúvida: o clima é tranquilo nesta época? Tenho medo de fazer minha primeira viagem internacional e não aproveitar nada por causa do frio. Vale dizer que me formei agora em um curso de inglês e a viagem servirá para eu lapidar a língua. Resumindo: dá para aproveitar a ilha em janeiro? Pegar uma praia (mesmo que não esteja tão quente)? Aproveitando as perguntas, gostaria de saber se realmente Malta é uma boa escolha no aspecto cultural e econômico. Obrigado pela atenção.
Neto Walter, por e-mail
"Well, my friend: regozijo-me com a oportunidade de voltar a falar da linda e heroica ilha de Malta. Unfortunately, não tenho ótimas notícias do ponto de vista climático, as you asked me. Ainda que muito próxima da África (e também da Sicília, na Itália), as temperaturas em janeiros rondam os 10 a 12 graus centígrados. Você verá muita gente na praia - mas trata-se, of course, de noruegueses, finlandeses e suecos, povos que só precisam de temperaturas positivas para vestirem calções e biquínis e usarem fortíssimos protetores solares.
Não acredito, however, que você estará entre eles. Ainda assim ouso recomendar, sharply, que não desista de seu propósito. Em primeiro lugar porque os malteses falam um inglês de excelente qualidade, já que estiveram sob nosso domínio até 1979. Tenho o orgulho de dizer, as well, que eu estava nas muralhas do Forte Santo Elmo, em Valeta, no dia 10 de maio de 1979, quando as força britânicas partiram e entregaram o país aos seus devidos habitantes, pela primeira vez em uma história de milhares de anos.
Nossas tropas saíram sob aplausos, ao contrário de dezenas de outras que se revezaram na ocupação da bela ilha. Ocorre, my friend, que, por sua situação geográfica, o domínio de Malta sempre representou o controle do Mediterrâneo. Do you know what I mean? Fenícios, cartagineses, romanos, normandos, turcos e cruzados (entre outros) lutaram por séculos para estar no controle do território. E o pior: todos foram bem-sucedidos em algum momento.
O lado bom dessa história é que, de alguma forma, Malta guarda traços de todas essas culturas, o que, as you see, responde à sua questão do ponto de vista cultural. Mas não se engane, dear Neto! A sofisticada ilha - sim, você verá como ela é chique - abriga seus 380 mil habitantes em uma área que equivale a um sexto de Londres. Ou seja: suas 40 paróquias ficam bem perto umas das outras. Nelas, by the way, funcionam nada menos do que 344 igrejas. Se você pecar demais, sempre haverá um confessionário ao seu lado.
Os malteses também falam malti, um idioma de origem semita, grafado, porém, em alfabeto romano. São simpáticos e surpreendentemente acolhedores, dada sua longa convivência com invasores. Valeta, a capital, tem uma arquitetura muito especial, que lhe rendeu o título de Patrimônio Cultural da Humanidade. E possui, as well, a mais esplêndida atração da ilha (as I see): a 'co-Catedral' de São João Batista, cujo interior, divinamente entalhado, guarda uma coleção de obras-primas de Caravaggio - que inclui a Decapitação de São João Batista, presumivelmente a melhor de suas obras.
E eu disse 'co-Catedral', porque há outra, com o mesmo nome, em Medina, uma cidade completamente árabe a dez minutos da capital.
Tenho muito mais a dizer, mas, se não consegui ainda convencê-lo a seguir seus planos originais, lastimo dizer que acabo de me convencer a voltar a Malta e rever meu velho amigo Vincent Gerada, de cujos dois netos sou padrinho. Sorry, my friend: quero pegar o primeiro voo disponível!"
Fonte: O Estadão
quinta-feira, 16 de abril de 2020
LUGARES
HEIDELBERG - ALEMANHA
Heidelberg é uma cidade da Alemanha, situada no vale do rio Neckar, no noroeste do Baden-Württemberg. É a quinta maior cidade deste Land (depois de Stuttgart, Mannheim, Karlsruhe e Friburgo em Brisgóvia). É uma cidade independente (kreisfreie Stadt) ou distrito urbano (Stadtkreis), ou seja, possui estatuto de distrito (Kreis). A primeira menção atestada de Heidelberg é de 1196, em um documento do Palatino Heinrich para a abadia de Schönau. A cidade é a antiga residência do conde do Palatinado (alemão: Pfalz), que era um dos sete príncipes eleitores do Sacro Império Romano-Germânico. Ela também é conhecida pela Universidade de Heidelberg (que é a mais antiga da Alemanha), fundada em 1386 por Ruprecht I, e refundada em 1803 pelo duque Karl-Friedrich de Baden. Ainda hoje, ela é muito famosa, principalmente na área da Medicina. A cidade foi também um dos centros da Reforma Protestante, tendo acolhido Martinho Lutero em 1518. Um ponto turístico importante é o Castelo de Heidelberg. (Wikipédia)
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