quinta-feira, 19 de março de 2020

NAO TROPECE NA LÍNGUA


CONHECER, PISAR, AVISAR
--- Nos tribunais, é usual dizer: “não conhecer do recurso” no sentido de não admitir, não ser recebido para discussão do mérito. Pode ocorrer por ser inadequado, intempestivo, ou porque não foi recolhida a quantia do denominado “preparo”. Comenta-se que no STJ ocorreu grande polêmica a respeito dessa expressão e por isso formulo a consulta: a) não conhecer do ou o recurso? T.N.V., Florianópolis/SC
O verbo conhecer, nos seus significados mais comuns de “saber, ter ideia, informação, consciência ou experiência, apreciar, conviver com”, é transitivo direto, ou seja, é usado sem nenhuma preposição; neste caso o pronome objeto é o/a, e não lhe:

  • Conheço bem os seus defeitos.
  • No ano passado conhecemos o sul da Espanha.
  • Já não a conheço?
  • O desembargador conhece Português como poucos.
  • Vou assistir, em Porto Alegre, à conferência de Maffesoli, pois eu conheci em Paris há dois anos.
É igualmente possível usar o verbo conhecer como transitivo indireto, preposicionado – porém com o sentido mais restrito de “informar-se, procurar saber”:

  • Precisamos conhecer das condições de venda do imóvel.
E também, na área jurídica, usa-se “conhecer de” significando “ter (juiz ou tribunal) competência para intervir num processo; tomar conhecimento de uma causa ou recurso e dar-se competente para julgá-la”, conforme palavras dos dicionários; ou “não conhecer de” com o sentido explicitado pelo leitor catarinense:

  • O juiz decidiu conhecer do pedido.
  • O Supremo não conheceu do recurso.
  • Nos termos do voto do relator, à unanimidade, conheceram do recurso para negar-lhe provimento.
--- Qual a expressão correta: Não pise na grama / a grama / à grama. Esta última me pareceu bastante estranha, mas foi vista no jardim de um órgão público federal. Ednaldo João Ariane Silva, Salvador/BA

O verbo pisar, no sentido de “pôr os pés no chão, andar, caminhar”, pode ser tanto transitivo direto quanto indireto, com a preposição EM. Isso significa que a prep. A, no caso de “à grama”, foi mal empregada. É possível dizer:

  • Pisar a grama ou Pisar na grama.
  • Pisar as flores.
  • Pisar nos amores-perfeitos. 
  • Pisar em ovos. 
  • Pisar nos calos.
--- Qual a regência do verbo avisar? Verônica Hirata, Cuiabá/MT
A construção originária é avisar alguém (de alguma coisa):

  • É bom avisá-la do perigo. 
  • Bem que eu a avisei, Marcela. 
  • Avisamos os clientes da mudança de endereço. 
  • Não saia sem avisar seus pais.
  • Ninguém me avisou disso.
  • O chefe avisou os funcionários de que os documentos estavam prontos.
Entretanto, já tem tradição na língua o uso de avisar com objeto indireto de pessoa e direto de coisa, por analogia com os verbos dizer e comunicar

  • Avisamos aos nossos clientes que vamos atendê-los em novo endereço.
  • Eu lhe avisei a data da reunião.
Também são usadas as preposições para e sobre:

  • Avisei os amigos sobre os problemas pendentes.
  • O médico avisou o menino para largar o cigarro.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

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