Um hotel para cada hóspede
Nosso viajante fez uma rápida viagem para a Moldávia, um país pouco comentado da Europa Oriental que, desde 1991, deixou de pertencer à antiga União Soviética. O motivo da jornada rumo a Quichinau (a capital do país) foi uma medalha oferecida pelo fã-clube de mr. Miles naquele país. Extremamente honrado, o correspondente britânico compartilhou o delicioso vinho local com as centenas de pessoas presentes no evento. Como sempre, porém, mr. Miles solicitou aos circunstantes que não usassem câmeras fotográficas ou filmadoras.
A seguir, a carta da semana:
Querido mr. Miles: tenho visto informações sobre hotéis bizarros e diferentes em todo o mundo. O senhor poderia me dizer o que existe de mais curioso em hospedagem? E que tipo de gente frequenta esses lugares?
Flavia Padovani, por e-mail
“Well, my dear: como tenho mostrado neste espaço, você pode hospedar-se praticamente onde quiser around the world. Muita gente o faz e eu confesso que não sei dizer se se trata de algum tipo de fetiche ou mera diversão. Por exemplo: se o viajante tem alguma culpa no cartório e deseja, voluntarily, expurgá-la, basta procurar um hotel-prisão. Há dezenas deles em diversos países. Talvez porque seja fácil reformar uma cadeia. O Hotel Katajanooka, em Helsinque, é um presídio cinco-estrelas, muito indicado, I presume, para criminosos de colarinho branco. Já o Hostelling International Jail Hotel, em Ottawa, é um albergue. Se bem que reformado, aplica-se, for sure, para prisioneiros comuns, já que muitas das antigas celas têm beliches, provocando a promiscuidade desejada.
Confesso, by the way, que esses são lugares em que não me sinto em casa. Na verdade, gosto mais dos hotéis que ficam em árvores, um velho sonho de criança. Curiosamente, muitos deles são construídos em nome do ambientalismo, com a intenção de proteger as florestas onde estão instalados. However, é preciso ver para entender o quanto sofrem as pobres árvores nas quais eles se sustentam. Na Zâmbia, for instance, já me hospedei no belo Tongabezi, inteiramente apoiado em pés de ébano e com uma vista esplêndida do Rio Zambezi. Mas é possível encontrar esse tipo de hotel em diversas latitudes e tirar férias ao estilo de um joão-de-barro.
E vamos adiante, dear Flavia: você pode hospedar-se em conventos para sentir-se como uma freira; em cavernas, se quiser reviver a experiência de nossos ancestrais; em bunkers desativados, que são muito estimulantes para quem ainda não viveu uma guerra de verdade; em hotéis-submarinos, ideais para hóspedes que não se incomodam em ter interlúdios sexuais diante de uma plateia formada por peixes, crustáceos e moluscos. Aos mais excêntricos, recomendo hotéis que funcionam em contêineres, muitas vezes içados por um guincho de modo a propiciar vistas elevadas. Não posso, by the way, esquecer os hotéis temáticos, que existem aos montes. Dependendo do tema, eles podem ser agradáveis.
Um hotel-borboletário, for instance, sempre tem aspecto primaveril. Já hotéis assombrados, com histórias de mortes violentas, correntes que se arrastam sozinhas no meio da noite e, quiçá, alguns fantasmas, são ideais para hóspedes de mente perturbada. Os de gelo, I’m sorry to say, são uma fria. É melhor apenas conhecê-los. A única vantagem que vejo é a possibilidade de apanhar pedras de gelo para o uísque na própria parede. Enfim, darling: you name it! Há um hotel para cada tipo de delírio. E, se não houver o que você procura, basta criá-lo. Tenho certeza de que vai dar certo.”
Fonte: O Estadão
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