(republicação)
Um tartufo em Roma
'Bongiorno, my friends!', nos
saúda alegremente mr. Miles, escrevendo sua correspondência da semana instalado
em uma das mesas do Ai Tre Scalini, tradicional sorveteria da Piazza Navona, em
Roma. Recém-chegado de um giro pela ilha de Ponza, na companhia de Trashie, a
raposa das estepes siberianas, nosso incansável viajante britânico julgou
"imprescindível" fazer uma escala na Cidade Eterna e explica o por
quê:
"September is really a lovely month in
Rome, my fellows. Os romanos voltam de férias - todos eles, em uníssono
- consideravelmente menos agitados do que no resto do ano. Basta lhes dizer que
até agora - e já estou há três dias na cidade - não fui atropelado por nenhuma
motoneta e nenhum garçom me insultou por ter pedido formaggio para acompanhar
meu linguine al mare (eu não sei se vocês sabem, mas eles consideram uma
heresia misturar queijo parmesão a massas com frutos do mar… crazy people,
aren't they?).
Besides, com menos turistas, tenho mais facilidade para dar algumas bengaladas de advertência nas pequenas ciganas que cismam em tentar furtar minha carteira - o que só ocorre nos lugares muito atraentes da cidade (que, by the way, são quase todos).
O tartufo do Ai Tre Scalini que,
unfortunately, estou terminando, continua esplêndido. Pena que a garrafa de San
Pellegrino esteja custando quase o mesmo preço de uma obra de Caravaggio. Tenho
uma longa história de carinho por essa cidade que, em português, é um anagrama
de amor e onde, I must say, aprendi muitas lições sobre a forma romana de fare
l'amore, que, confesso, é muito mais diversificada do que our english way.
Mais tarde pretendo ir até as
margens do Rio Tibre para ver o extraordinário poente que tinge de terracota a
Ponte Umberto I e, ao fundo, a Catedral de São Pedro. Como ainda faz muito
calor, vou pedir um copo de grattachecca, um prazer tipicamente romano.
Trata-se daquilo que vocês, no Brasil, chamam, mais simplesmente, de
raspadinha. Gelo particulado misturado com xaropes altamente calóricos.
Refreshing and delicious! Antes, porém, respondo à correspondência da semana.
Olá, mr. Miles: estive
recentemente em Londres e conheci algumas mulheres incríveis da Romênia,
Turquia e Lituânia. Acabei ficando curioso. Vale a pena conhecer esses países?
E as mulheres são todas lindas como as que eu vi? André Telhada, por e-mail
"Well, my friend: sinto-me
levemente ofendido com seu comentário, of course. Afinal, você esteve na
capital do meu reino e só se refere a mulheres de outras nacionalidades? Ou
será que as mulheres de minha nacionalidade se destacam pela fealdade?
Quanto à sua pergunta, dear
André, folgo em saber que você conheceu mulheres incríveis de três belos países
que conheço muito bem e devem, claro, ser visitados.
Confesso que, durante minha vida
de viajante, também tive esse prazer. Conheci amazing women de mais de 150
nacionalidades.
O que me levou a concluir, my
dear, que a beleza das mulheres - bem como sua eventual falta de atrativos - é
um assunto absolutamente transnacional. Grandes temas, como inteligência,
estupidez, intolerância, sabedoria e, claro, mulheres atraentes, não têm
nacionalidade, I presume. Mesmo assim, André, vale a pena fazer o que você está
planejando. Ou seja: viajar para lugares desconhecidos e apreciar sua beleza.
Mesmo que você prefira apenas a beleza de suas mulheres.
Fonte: O Estadão
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