Como não recebemos nenhum tipo de
comunicação, é justo imaginar que não se confirmaram, de novo, as suspeitas de
que nosso correspondente britânico veio ao Brasil. A redação supõe que ele
teria sido visto, a não ser que estivesse andando sem seu bowler hat - o que
ele próprio acha inadmissível para um cavalheiro. No momento não temos notícia
de seu paradeiro mas, certamente, seremos informados em uma de suas próximas
cartas.
Querido mr. Miles, preciso lhe
fazer uma confissão. Sempre tive muito medo de viajar de avião, o que tem
atrapalhado meu sonho de ser uma viajante ativa como o senhor. Outro dia,
porém, a empresa em que trabalho enviou-me para uma viagem de negócios na Alemanha.
Não pude evitar e foi com muito sofrimento que me dirigi ao aeroporto. Acontece
que me deram uma passagem de classe executiva. Então eu fiquei naquele bonito
salão com comidinhas e bebidinhas, embarquei mais tarde (sem pegar fila) e
deram-me uma poltrona incrível, que até massagem fazia! Resultado: comi bem, vi
um ótimo filme e o medo passou… Seria um milagre?
Renata Muller Filiardi, por
e-mail
"Well, my dear: sua narrativa foi muito esclarecedora. Unfortunately, ainda que eu tenha visto as mais belas e variadas atrações e pessoas deste mundo, não acredito em milagres. Que me perdoem os leitores mais religiosos, mas sempre há alguma explicação para tudo. E quando ainda não existe uma resposta, fico contente em saber que temos muito a evoluir.
As for your question, darling,
não tenho a menor dúvida em afirmar que o sentimento de segurança está ligado a
coisas inesperadas como o conforto, a cordialidade e todas as demais
características de um espaço maior, menos claustrofóbico e - por que não dizer?
- mais reservado. Veja bem, dear Renata: a primeira sensação quando você entra
no avião sem a tensão de uma longa fila de embarque é a de que o avião está
quase vazio.
Isn't it amazing? Muitas pessoas
que têm ou tiveram medo de voar, como meu incorrigível velho amigo Lewis S.
Pigeons, já me disseram que a simples constatação de que há 300 pessoas a
bordo, com, of course, um número semelhante de bagagens pesadas, provoca-lhes
pânico. "Como poderá levantar um avião tão cheio?" questionam-se. E é
quando as garras viscosas do medo os agarram…
Na classe executiva, e ainda mais
na primeira classe, o avião parece mais leve. A qualidade do serviço (sempre
mais atento) também resulta na intuição de que, se você está sendo bem cuidado,
deve ser sinal de que a companhia aérea cuida bem, as well, de seus aviões.
Don't you agree?
Na verdade, os espaços na classe
econômica andam tão exíguos que o sentimento é exatamente o contrário. Como
nesse setor as empresas economizam em tudo, é justo pensar que economizam
também na reposição de peças; que os pneus são recauchutados, a gasolina, as
you say, é paraguaia e há uma série de remendos feitos com silver tape. É assim
que o medo viceja.
Vou lhe contar mais uma coisa:
minha querida companheira Léa Star tentou fazer um cruzeiro e jurou que nunca
mais voltaria. Hospedada em uma cabine interna, sem vista para nada, ela enjoou
por centenas de milhas náuticas e não viu qualquer prazer na viagem. Several
years later, tive a oportunidade de convidá-la para um novo cruzeiro. Ela não quis.
Disse-lhe, however, que tivesse confiança em mim. Naquela viagem, ela
desfrutaria de uma suíte com varanda para o mar. Desconfiada, repleta de
adesivos estranhos e comprimidos multicoloridos, ela acabou cedendo. Renata,
darling: foi um milagre igualzinho ao que você me relatou. Nada de enjoos, nada
de medo, tudo prazer e descoberta. Em outras palavras, querida: viajar melhor é
melhor do que viajar bem e melhor do que viajar mal. Mas o pior mesmo é ficar
em casa…"
Fonte: O Estadão
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