Nomes longos e impressões antigas
Nosso incansável correspondente é
um admirador confesso de Nova York, onde ainda estava quando enviou suas notas
desta semana. Exceto, diz ele, pelo metrô local. "Uma cidade com esse
porte não pode ter um tube tão miserável e imundo. Até a pobre Trashie que, as
you know, eu encontrei no lixo, ficou nauseada com tamanha falta de
conservação. Believe my friends: havia sol em Manhattan, mas chovia
abundantemente no interior da maioria das estações. Ela tanto insistiu que
acabamos fazendo uso dos yellow cabs em nossos deslocamentos. O que foi ótimo,
I must say. Em poucos dias, tive a oportunidade de exercitar meus (parcos,
confesso) conhecimentos de idiomas como o dari, o farsi, o concani, o tâmil, o
urdu, o panjabi, o cazaque e, sobretudo, o balushi, cuja fluência eu vinha
perdendo.
A seguir, a resposta da semana:
Dear mr. Miles: existe um
lugarejo na Inglaterra que tem um nome quilométrico e eu gostaria que o senhor
descobrisse. Tenho outra pergunta também: vale a pena visitar de novo um lugar
que nos encantou há 30 anos ago? Edméa Lage Rahal, São Manuel, SP
"Well, my dear Edméa, há
muitos lugares com nomes compridos na Inglaterra, mas eu me atrevo a suspeitar
que você está se referindo a outra porção do Reino Unido, célebre por seus
nomes longos: nossa Wales, ou País de Gales, como vocês o chamam. E tenho
certeza de que o lugarejo a que você se refere só pode ser
Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoh, um aprazível
vilarejo na Ilha de Anderley. Mas, take care, Edméa: pronuncia-se:
Llanfairpwllgwyngyllgogerychwyrndrobwllllantysiliogogogoh. À moda galesa, of
course. Cuidados para não puxar os "erres" como é muito comum no
interior de São Paulo!
É claro, darling, que o lugarejo
jamais poderia ter um jornal diário, por falta de espaço para as notícias
locais. Exceto, I presume, se os cidadãos adotassem um apelido, do tipo
Llanfair, o que diminuiria o orgulho que sentem.
A propósito, os cartões-postais
com a placa que anuncia a chegada ao lugar vendem como água no deserto. São a
segunda maior fonte de renda da Ilha de Anderley. A primeira, my dear, é uma
clínica de recuperação para mandíbulas de turistas que cismaram em pronunciar a
palavra corretamente.
Quanto à sua segunda pergunta,
Edméa, minha resposta não podia ser outra: é claro que sim! Desde que você se
lembre, my dear, de conservar o encanto da primeira viagem guardado na memória
em um compartimento estanque e inviolável. Impressões e lembranças só valem se
adequadamente conservados, como certas bebidas e enlatados. E digo isso porque
lugares, como pessoas, podem mudar dramaticamente com o passar dos anos. Tenho
amigos que jamais comparecem a esses reencontros de turmas escolares porque não
sabem suportar a colisão entre suas lembranças e o movimento da vida. Com os lugares,
o peculiar é que eles podem rejuvenescer quando deveriam ter envelhecido
dignamente. Ou ganhar vitalidade quando seu encanto era a placidez. Há muitos
casos, however, em que o encanto permanece imutável com o passar dos anos. Seja
com seres humanos, seja com cidades, rios ou montanhas. A única certeza que
tenho é que não há como saber o que foi feito de cada uma de nossas impressões,
exceto ao revisitá-las. Elas podem se tornar outras, mas jamais devem
substituir as anteriores.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário