Há momentos em que silenciar é mentir. (Miguel de Unamuno)
sexta-feira, 31 de janeiro de 2020
LUGARES
LISBOA - PORTUGAL
Mosteiro dos Jerônimos é um mosteiro manuelino, testemunho monumental da riqueza dos Descobrimentos portugueses. Situa-se em Belém, Lisboa, à entrada do Rio Tejo. Constitui o ponto mais alto da arquitetura manuelina e o mais notável conjunto monástico do século XVI em Portugal e uma das principais igrejas-salão da Europa. Destacam-se o seu claustro, completo em 1544, e a porta sul, de complexo desenho geométrico, virada para o rio Tejo.
Os elementos decorativos são repletos de símbolos da arte da navegação e
de esculturas de plantas e animais exóticos. O monumento é considerado património mundial pela UNESCO, e em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das sete maravilhas de Portugal. Em 2010 teve 644 729 visitantes, 92,2% estrangeiros. (Wikipédia)
quinta-feira, 30 de janeiro de 2020
LUGARES
INNSBRUCK - ÁUSTRIA
Innsbruck ou Insbruque é uma cidade no oeste da Áustria, capital do Estado do Tirol. Ela é atravessada pelo Rio Inn, de onde tem seu nome. A palavra bruck tem sua origem na palavra de língua alemã Brücke,
que significa "ponte", o que leva a cidade a chamar-se "Ponte do Rio
Inn". Localizada no vale do Inn, a cidade está no meio de altas
montanhas, como o Nordkette (Hafelekar, 2.334 m) ao norte, o
Patscherkofel (2.246 m) e o Nockspitze (2.403 m) ao sul. Innsbruck é um
renomado centro de esportes de inverno, sendo que sediou as olimpíadas de inverno nos anos de 1964 e 1976.
NÃO TROPECE NA LÍNGUA
ARMAGEDON, REMONTAR, PRONOME O E OUTROS DEMONSTRATIVOS
--- O que significa e como se escreve corretamente a palavra Armaggedon? J. Rodrigues.
Armageddon é a grafia inglesa para o português Armagedon ou Armagedão, palavra que vem do hebraico ar meggido, nome de uma montanha e vale – também chamados de “Tel Meggido” – que se localiza no norte de Israel, onde se dará a batalha do Juízo Final a que se refere S. João Apóstolo no livro do Apocalipse 16:14-16. Daí que, figurativamente, o termo se aplica a qualquer conflito decisivo, a uma guerra total.
REMONTAR A
O mesmo leitor solicita esclarecimento sobre o uso do a ou há na seguinte frase: “Determino a citação dos alienantes ou sucessores, dispensada a citação destes últimos, se a data da transcrição remonta a (ou há) mais de vinte anos”.
O correto é escrever a, que nessa frase é simples preposição, exigida pelo verbo transitivo indireto remontar, o qual tem aqui o sentido de voltar atrás no passado, buscar a origem ou data: remonta ao Renascimento, remonta à Idade Média, remonta a mais de 20 anos (pode-se ver que nesses exemplos não é possível trocar o a por faz, como acontece em "mora ali há mais de 20 anos = mora ali faz mais de 20 anos).
PRONOME DEMONSTRATIVO O
Diante da frase "Se a opinião é desprezível, a gramática não o é", o leitor J. F. Filho, de Joinville/SC, pergunta se o “o grifado é facultativo, obrigatório ou foi equivocadamente incluído”.
Não foi equívoco, não. Eu o utilizei para exprimir que "a gramática não é desprezível" mas sem ter de repetir o adjetivo "desprezível". Trata-se de um pronome demonstrativo, equivalendo a isso (isto/aquilo). Ele é obrigatório na língua culta padrão, porém dispensável na fala, no linguajar coloquial. Sua utilidade é evitar a repetição do adjetivo e, em outras ocasiões, de um substantivo ou do sentido geral de uma frase. Seguem exemplos em que assinalo os termos a que o pronome "o" se refere:
- Eles são tão pobres de espírito quanto o são de inteligência.
- Não foi apenas a pesquisadora que se mostrou surpreendida. Os próprios entrevistados também o estavam.
- Era conhecido – e ainda o é – em todos os círculos sociais do Rio de Janeiro.
- O valor de uma desilusão, sabia-o ela.
- Não cuides que era sincero, era-o.
- “Ser feliz é o que importa / Não importa como o ser!”
USOS ESTEREOTIPADOS DO PRONOME DEMONSTRATIVO (Cont. NTL 29 e 30)
Além disso - Estamos sem água. Além disso, a luz foi cortada.
Desta forma (ou dessa forma/maneira, deste/desse modo) - Não pude consultá-la com antecedência. Desta forma, peço que me desculpe.
Isto é [= quer dizer] - Disse que não se dão bem, isto é, se detestam.
Isto posto - A realização de um curso de inglês na empresa é importante pelos seguintes motivos: 1) ----- 2)------ etc. Isto posto, solicitamos que V. Exa. aprove nosso projeto.
Nem por isso - Ela não me deu bom-dia, nem por isso vou deixar de cumprimentá-la.
Nisto [então, em tal momento] - Pensei largar tudo e ir dormir cedo. Nisto, bateram à porta.
Por isso - Estou exausto; por isso, quero silêncio.
Fonte: www.linguabrasil.com.b
quarta-feira, 29 de janeiro de 2020
LUGARES
BAGNO VIGNONI - ITÁLIA
Bagno Vignoni é uma vila italiana e povoado de San Quirico d'Orcia, situado em uma colina acima do Val d'Orcia, na Toscana. É um destino turístico popular e conhecido por suas fontes termais.
O ASSOALHO
Por Sérgio Jockymann
Pois, quando dona Zefa descobriu que o marido não valia um tostão furado, e isso já no terceiro mês de casada, transferiu todo o seu amor para o assoalho. Prendeu as saias na cintura e se largou de escova e sabão para cima do assoalho, como se aquilo fosse lua-de-mel, bodas de ouro e primeira fotografia com os netos. Levou bem três dias nessa limpeza furiosa e nem bem terminou, barrou o marido na porta de entrada:
- De sapato não entra.
Seu Genival que nunca brigou por nada, tirou os sapatos e dali por diante pegou o hábito como se fosse vício de nascença. No dia seguinte, foi muito obediente comprar latas de cera, que dona Zefa esvaziou no assoalho. Quando deu o trabalho por terminado, a casa toda era um espelho. Logo em seguida, fabricou uns chinelões de feltro e colocou ao lado da porta. Visita que chegasse, tinha que descalçar os sapatos, enfiar os chinelões e sair pela casa arrastando os pés. Não era muito cômodo, mas dona Zefa dizia:
- Não suja e ajuda a polir.
Nos domingos, seu Genival andava de chinelões de feltro por todas as peças da casa, coisa que na primeira vez fez meio arrenegado, mas que depois passou a fazer com um zelo impressionante. Inclusive era de voltar atrás, se abaixar e catar no chão uma poeirinha de nada. Os vizinhos diziam que se dona Zefa tivesse filhos aquela mania teria terminado, mas como seu Genival tinha nascido sem um certo ingrediente a mania continuou. E continuou até nos piores momentos da vida. Quando, por exemplo, o apêndice do seu Genival explodiu no meio da noite, o dr. Wurtemberg teve que tirar as botinas de elástico e enfiar os chinelões, apesar dos berros do paciente.
- Dona Zefa, o homem está sofrendo.
- Sofrimento nunca matou ninguém, doutor. Calce o chinelão.
E lá se foi o dr. Wurtemberg para o quarto arrastando os chinelões de feltro. E quando quis operar no quarto mesmo, dona Zefa riu na cara dele.
- Operar e sujar o chão? Não, senhor. Leve esse traste daqui e abra a barriga dele no hospital.
Pelo que dois enfermeiros entraram de chinelão de feltro e carregaram seu Genival numa padiola para o hospital. E nem bem tinham saído, já dona Zefa corria de pano de feltro pelo assoalho, resmungando contra a falta de cuidado do pessoal. Seu Genival escapou do apêndice rebentado, mas não escapou de uma carraspana quando quis descer da cama com os pés descalços.
- Sem meias tu não me pisa nesse chão. Pele tem graxa e mancha.
Em trinta, quando Vila Velha foi atacada e o coronel decidiu que a casa do Genival era um bom posto de observação, o dr. Aristides, promovido a major do Provisório, abriu a porta e já estava sentando a bota no chão, quando se viu de frente com uma espingarda de dois canos.
O dr. Aristides fez um discurso sobre os ideais políticos, mas dona Zefa não se deixou comover.
- Derrube a casa, mas não suje o assoalho.
E foi assim que o dr. Aristides dirigiu o fogo legalista durante três horas, metido em chinelões de feltro. E cada vez que a cinza do cigarro ameaçava a cair, ele tinha que espichar o braço pela janela, porque dona Zefa estava atrás dele de espingarda na mão. Quando o combate terminou, o dr. Aristides declarou para o coronel que nunca pensou que sua vida valesse tão pouco.
Só não virou herói, porque esqueceu de tirar os chinelões. Já estava de peito estufado, quando o coronel olhou para baixo e se torceu de rir. Só por isso, o dr. Aristides deixou de cumprimentar o Genival.
- Homem que deixa a mulher dele fazer aquilo, não merece a amizade de gente decente.
De fato, era uma vergonheira o jeito que seu Genival se deixava levar. Quando por uma distração de São Pedro, nevou neve legítima e branca em Vila Velha, seu Genival entusiasmado entrou em casa correndo e no meio da sala esbarrou com a mulher.
- Neve, minha veia.
Levou uma vassourada em plena cara e ainda foi obrigado a limpar o assoalho durante uma semana. Também um ano depois, quando pegou dez contos na loteria, entrou em casa a passo, calçou os chinelões e só depois deu a notícia.
- Ganhei na loteria, minha veia.
Mas qual, dona Zefa nem queria saber de loteria, só estava era impressionada com a cinza do cigarro que ameaçava cair.
- Caiu te mato.
Assim, já se vê, dona Zefa só tinha um amor na vida e amava tanto que passava três horas caminhando pela casa de olhos baixos, enquanto dizia:
- Que beleza, que beleza!
De fato, as vizinhas sempre citavam o assoalho de dona Zefa como uma das sete maravilhas do mundo. Só que não há lugar na terra para tanta perfeição. Um belo dia, o Gran Circo Argentino desembocou em Vila Velha e nem bem estava instalado, El Diablo, um leão azedo que já havia comido dez ou doze domadores, descobriu que a sua jaula estava aberta e resolveu dar um passeio. Ninguém deu pela coisa, porque era meio-dia e meio-dia em Vila Velha era início da sesta, doença que contagiava até o pessoal de fora. Por isso El Diablo pôde passear tranquilamente pela rua principal, pular uma cerca, comer tranquilamente três galinhas no galinheiro do seu Salustiano e depois entrar no quintal do seu Genival. Galinha não havia, porque dona Zefa morria só de pensar em titica caindo no seu assoalho. O gato ao ver o primo maior, ficou com dois metros de altura e subiu de ré para o telhado. El Diablo andou pelo quintal como quem não quer nada, cheirou aqui, cheirou lá e bocejou. E quando bocejou, espiou pela porta da cozinha e deu com a sala de dona Zefa, brilhando na penumbra fresquinha. El Diablo resmungou qualquer coisa e entrou casa a dentro. Foi até a porta do quarto, espirrou quando sentiu o cheiro do seu Genival que dormia, torceu o focinho para a sesta de dona Zefa e se esparramou no assoalho. A sala era tão fresquinha que El Diablo arrotou de satisfação e foi isso que acordou dona Zefa.
- Genival, tu ta com indigestão.
Genival continuou roncando e dona Zefa se acomodou para continuar na sesta, quando nisso, deu com rabo do bicho – que aparecia pela fresta da porta. Foi ver e ficar de pé.
- Era só o que me faltava.
Dona Zefa pulou da cama, calçou os chinelões de feltro e abriu a porta.
- Já daí!
El Diablo só abriu um olho. Examinou aquela figura gordinha na sua frente e tornou a fechar o olho. Foi o olho se fechar e dona Zefa perdeu a paciência.
- Já te mostro, animal dos infernos!
Saiu arrastando os pés para a cozinha, passou a mão na vassoura e se plantou na frente do leão.
- Caminha, sai daí!
Só neste momento, El Diablo percebeu que estava metido numa situação muito grave. Olhou dona Zefa e roncou enrolado como a dizer “Não me amole, mulher”. E aí, por puro desprezo, coçou a orelha como se fosse um gato bobalhão qualquer. Um chumacinho de pelos saiu de trás da orelha, flutuou um nadinha e caiu maciamente no chão. O berro que dona Zefa deu, largou o Genival sentado na cama e o leão sentado na sala. Os dois não sabiam de onde tinha vindo aquele guincho. Mas no segundo seguinte, dona Zefa rodopiou a vassoura no ar e largou um vassouraço em plena cara de El Diablo. E nem bem o leão esbarrou nas cadeiras, já levou outro vassouraço e dali para frente só queria sair pelo primeiro buraco que encontrasse. Se atirou para o quarto, pisou na barriga do seu Genival e saltou pela janela. O coitado do seu Genival ficou três horas estaqueado na cama abrindo e fechando a boca sem sair nada, enquanto dona Zefa furiosa limpava o assoalho.
No dia seguinte, o circo enrolou a lona e foi embora.
- Falta de vergonha.
- Seu astro principal estava desmoralizado. E dona Zefa, por mais que o pessoal quisesse provar que leão não era perigoso, só dizia:
- Perigoso nada, então não conheço? É um gatão que só sabe encher a casa de pelo.
E seu Genival inchava de orgulho e dizia:
- A veia sempre foi muito macho.
No que El Diablo concordava plenamente. (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 70)
terça-feira, 28 de janeiro de 2020
LUGARES
BOURGES - FRANÇA
A Catedral de Bourges (em Francês: Cathédrale Saint-Étienne) é uma catedral católica localizada na cidade de Bourges, na França. Considerada uma obra-prima de arquitetura gótica e sua fachada, de 40 metros da largura é a maior deste tipo. É dedicada a Santo Estêvão. Em 1992 foi inscrita como Patrimônio Mundial da UNESCO
A construção da catedral iniciou-se em 1195, praticamente ao mesmo tempo com a Catedral de Chartres. O coro foi construído em 1214, a nave em 1225 e em 1250 a fachada foi terminada. A construção foi consagrada em 13 de maio de 1324. Luis XI, em 1423 e Luís II de Bourbon-Condé em 1621 foram batizados na catedral.
A planta da catedral possui uma abside circular e sem transepto. Na fachada estão inseridos 5 portas de acesso, um para cada nave, e outros dois encontram-se na metade da nave mais externa. Cada porta é ornamentada por esculturas notáveis, sendo a mais famosa a que ilustra o juízo final.
Para conferir estabilidade à estrutura foram utilizados contrafortes potentes, mas como esta técnica era muito inovadora para a época, pode-se notar que as paredes da catedral são muito mais espessas do que deveriam.
Com exceção dos vitrais da capela, quase todos da zona absideal são os originais do Século XIII. A iconografia que transparece das figuras representadas nos vitrais é insólita, com uma tipologia e um simbolismo que criam mensagens simples teológicas: como por exemplo, eventos do Antigo Testamento nos episódios sobre a vida de Jesus Cristo e outros sobre o Apocalipse ou do Evangelho. (Wikipédia)
ROMANCE FORENSE
Depois de oito anos de um relacionamento íntimo interessante, médico e professora se desavieram financeiramente na hora da separação e a questão foi a Juízo. O juiz julgou improcedente o pedido da mulher, declaratório de dissolução de união estável, cumulado com partilha de bens.
Para o magistrado, “tal união somente é reconhecida se o casal teve a intenção, quando estavam juntos, de constituir família”. O julgado acolheu a tese contestatória de que “a existência de um relacionamento amoroso longo, contínuo e de conhecimento público não basta para provar a união estável”.
O caso chegou ao TJ. O relator confirmou a sentença, mas a revisora divergiu. “Essa mulher deveria ser chamada de Amélia e não de Ângela como está escrito em sua certidão de nascimento”. Nessa linha, a desembargadora afirmou “a existência de provas inequívocas da união estável, tanto que ela pediu licença-prêmio no magistério para cuidar do ex-companheiro durante o período em que ele esteve doente - comprovando dessa forma o envolvimento familiar. Ela não tinha a menor vaidade, ela era mulher de verdade”.
Detalhe: nas compras de supermercados – que faziam juntos – sempre o gasto maior era pago por ela. Talvez o médico fosse pão-duro...
O vogal confirmou a improcedência: “Ainda que ambos fossem livres e desimpedidos - ela solteira e ele divorciado - permaneceram administrando separadamente suas vidas, tanto que até mesmo as compras em supermercado eram pagas individualmente”.
E repetiu, da sentença, a afirmativa de que “o médico manteve outros achegos durante o período em que durou o relacionamento com a professora - com o que a relação não ultrapassou a seara do namoro, ora firme, ora escorregadio e descompromissado”.
A desembargadora revisora quis consolar: “Pobre Amélia!” – disse.
Proclamado o resultado, o advogado do médico, satisfeito com a vitória judicial, tirou a beca e tamborilou os dedos na pasta.
E parodiando, saiu evocando estrofes conhecidas da música de Mário Lago e Ataulfo Alves:
“Nunca vi fazer tanta exigência /
Nem fazer o que esta mulher faz /
Ela não sabe o que é consciência /
Nem vê que o médico é um pobre rapaz”.
O advogado levou uma alfinetada do presidente: “Doutor, aqui não! Se cabível, faça a comemoração em seu escritório”.
Fonte: www.espacovital.com.br
segunda-feira, 27 de janeiro de 2020
LUGARES
SERRA GAÚCHA
O Vale dos Vinhedos é uma região que ocupa uma área de 82 quilômetros quadrados na Serra Gaúcha, no estado do Rio Grande do Sul, no Brasil. Situa-se a 130 quilômetros de Porto Alegre, a capital do estado. Os vinhos produzidos no vale são os únicos do país a apresentar o selo de indicação de procedência (desde 2002) e o de denominação de origem (desde 2011), que são garantias de qualidade dos vinhos ali produzidos. A Associação dos Produtores de Vinhos do Vale dos Vinhedos certifica os vinhos que obedecem aos padrões de qualidade exigidos por esses selos. O Vale dos Vinhedos localiza-se no triângulo formado pelas cidades de Bento Gonçalves (nordeste), Monte Belo do Sul (noroeste) e Garibaldi (sul). (Wikipédia)
CASA PARALELA
Fabrício Carpinejar
Sempre estamos mobiliando uma casa paralela e imaginária com os objetos perdidos. A casa perfeita tem tudo o que a gente extraviou e não achou mais na vida. É a morada de nossas preces, concebida pela Salve Rainha e São Longuinho. Daremos pulinhos ao entrar em seu umbral.
Lá nunca faltará guarda-chuva e carregador de celular – terei um estoque para combater trovoadas e o fim repentino da bateria. Os livros que jamais localizei estarão alinhados nas estantes, por ordem alfabética. Os LPs foragidos se mostrarão intactos, de pé, ao lado do dois em um, com os plásticos de dentro nem um pouco amassados. Assim como irei me surpreender com a montanha de fitas cassete com as trilhas românticas que preparava de madrugada gravando programas na rádio (em que cortava a voz do locutor e os comerciais). Será um encanto rever as camisetas e calças desaparecidas nos cabides, que deixei em casas de colegas da escola. Não controlarei a gargalhada diante das meias avulsas, solteiras, amontoadas em cima da cama, de sumiço misterioso entre a cesta e a máquina de lavar. Na prateleira da cozinha, reencontrarei as tinhosas e malandras tampas da panela, prisioneiras de algum ralo misterioso ou Triângulo das Bermudas gastronômico – tantas e diversas que posso cobrir a extensão de meu telhado. Relógios e óculos reluzirão na gaveta do criado-mudo, com os estojos de veludo empilhados. Devo reaver a coleção de pulsas coloridas do relógio Champion da adolescência. Na escrivaninha do escritório, alinhado ao meu chamado de general, revistarei a tropa de canetas Bic, com os seus capacetes azuis. Centenas delas. Todas as canetas emprestadas ao longo dos anos.
Espanto sem igual experimentarei no quarto com o armário atolado dos brinquedos da infância, que a minha mãe deu um jeito de passar adiante. Consumirei dias montando o Ferrorama e o Autorama e reclamando da falta de espaço para concluir as tarefas. Demorarei a acertar a pontaria do Batalha Naval ou para conferir o dinheiro de mentirinha do Banco Imobiliário. Não duvido que chore ao esticar o ioiô da Coca-Cola e tentar repetir a façanha da montanha-russa com as cordas. Farei festa ao folhear os alguns de figurinhas das Copas do Mundo de 78, 82 e 86. Antes de dormir, colocarei a bolita verde perto dos olhos, como uma córnea doada pelos amigos.
É sumir algo em minha rotina que logo reaparece na residência de outra dimensão.
Um pouquinho de mim também vai junto com a saudade.
Fonte: Facebook
domingo, 26 de janeiro de 2020
LUGARES
ESTRADA ROMÂNTICA
A Estrada Romântica (em alemão: Romantische Straße) foi assim denominada por agentes de viagem a partir da década de 1950, a fim de especificar a estrada no sul da Alemanha, entre os estados da Baviera e Baden-Württemberg, de Würzburg e Füssen.
O POLIGLOTA
Certa feita uma amigo comentava sobre o
inglês falado nos portos. Marinheiros de todo mundo teriam desenvolvido uma linguagem
comum, de sorte que onde quer que se encontrem conseguem se comunicar com os
colegas de profissão. Pessoas que se relacionam com os marinheiros acabam
assimilando e entendendo esse "novo idioma".
Em recente viagem à Suíça conheci uma
pessoa que de certa forma falava o inglês portuário. Era o dono da pousada
onde ficamos hospedados por alguns dias. Gentil e atencioso, o nosso amigo se desdobrava
o quanto podia para agradar os hóspedes. Para nós brasileiros, o agrado era
ainda maior de vez que simplesmente era vidrado em bossa nova. Era o nosso
fundo musical.
De início nossas conversas se davam em
francês mas não chegavam a evoluir eis que ele atravessava algumas palavras
impossíveis de identificar. Quando não, introduzia palavras em italiano ou em
espanhol.
Tentamos com o inglês e era a mesma coisa.
Para ele, no entanto, era a coisa mais normal do mundo, pois que ia falando na
suposição de que entendíamos tudo.
No último dia precisei que ele acertasse
para nós os detalhes da próxima pousada, em Interlaken, onde só falavam em
alemão, idioma intransponível para nós. Pelo telefone, percebi que ele conseguia manter uma conversa sem
maiores problemas com o interlocutor do outro lado da linha.
Finda a tarefa, minha curiosidade estava aguçada. Então perguntei-lhe se era suíço e a resposta foi positiva, mas
com um adendo esclarecedor: por cinco anos ele havia morado nos Estados Unidos,
mais precisamente na Califórnia e daí o seu contato, também, com o espanhol.
Ficou tudo esclarecido. Nosso hospedeiro acabou desenvolvendo um linguajar próprio, mas capaz de satisfazer a clientela
e até mesmo de divertí-la.
sábado, 25 de janeiro de 2020
LUGARES
GRAINAU - ALEMANHA
Grainau é um município da Alemanha, localizado no distrito de Garmisch-Partenkirchen, no estado de Baviera. Está localizado ao pé do Zugspitze, a montanha mais alta da Alemanha, na sub-cordilheira dos Alpes, que é um ramo fora da principal cadeia de montanhas. O lago Eibsee também ao pé do Zugspitze, fica nas proximidades.
POR QUE EXISTE CORRUPÇÃO?
Charge do Luscar |
POR QUE EXISTE CORRUPÇÃO?
Nélio Jacob
Existe corrupção porque as pessoas tentam aproveitar a vida ao máximo, a qualquer custo
Os corruptos fecham os olhos para a razão dessa vida curta, acham que não vão morrer, então acumulam riqueza para centenas de anos. A maioria do ser humano acha que a vida é só esta, não tem outra, o que leva a querer aproveitar o máximo a qualquer custo, nesse curto espaço de tempo.
Não se nasce aleatoriamente, tudo tem uma razão de ser. Quando nascemos, carregamos os genes de nosso antepassados com as qualidade e defeitos.
RESPONSABILIDADE – Numa entrevista, Oscar Niemeyer, disse: “Ninguém é totalmente responsável pelos seus atos”. É uma frase para se meditar sobre as influências que cada um recebe.
No entanto, a vida poderia ser melhor se o sistema democrático dos países não fossem a esculhambação que é, permitindo o conluio das castas dominantes contra a maioria da população pobre, que amplia a desigualdade social.
A vida do ser humano é uma cadeia de desejos materiais. Quando de satisfaz um, passa-se a ter outro. Quando um ser humano não tiver mais desejos, aí sim encontrará a paz.
POUCOS RICOS – Nos anos 40 o número de ricos eram poucos, assim mesmo era considerado rico quem tinha um carro americano. Nessa época, nem papel higiênico existia e o povo era mais alegre e feliz do que nos dia de hoje.
A alegria e a felicidade não está na riqueza ou na pobreza de cada cada um, está no entendimento de aceitar com naturalidade e resignação o que a vida lhe impôs.
Fonte: Tribuna da Internet
sexta-feira, 24 de janeiro de 2020
LUGARES
BUDAPESTE - HUNGRIA
O palácio do Parlamento Húngaro, juntamente com o britânico, são considerados os mais belos do mundo.
O impressionante e imponente edifício em estilo gótico domina
suntuosamente a margem leste do Rio Danúbio do alto de seus 96 metros: a
construção mais alta da cidade, honra que divide com a basílica de St.
Stephen.
A obra de construção foi iniciada em 1885 e inaugurada em 1896, ano em
que se comemorava o milésimo aniversário da pátria húngara, muito embora
sua conclusão ocorresse apenas em 1904.
Uma obra prima de seu estilo, quando da inauguração era a maior casa de
parlamento do mundo, e um reafirmado símbolo do orgulho de uma nação.
quinta-feira, 23 de janeiro de 2020
LUGARES
NÁPOLIS - ITÁLIA
O Castel Nuovo, também conhecido pelo nome de Maschio Angioino, é um castelo na cidade de Nápoles, na Itália. Sua construção foi iniciada em 1279, por ordem de Carlos I de Anjou, sendo completada três anos mais tarde, mas permaneceu desabitado até 1285, quando foi ocupado por Carlos II de Nápoles. Sob o reinado de Roberto I de Nápoles
o castelo foi ampliado e embelezado, tornando-se um centro de patronato
artístico, mas em 1347 foi saqueado pela armada húngara, sendo
gravemente danificado. Restaurado e fortificado por Joana I de Nápoles,
tornou-se uma resistente fortaleza contra vários assédios subsequentes.
Sob a dinastia aragonesa as estruturas foram renovadas. Afonso V de Aragão mandou construir um grande arco triunfal no pórtico, obra de Francesco Laurana.
Depois do saque de Nápoles em 1494 pelos franceses, o castelo deixou de
ser residência real e assumiu a função de fortaleza militar, voltando a
ser ocupado pela realeza no século XVIII. (Wikipédia)
NÃO TROPECE NA LÍNGUA
RESIDENTE À/ NA RUA, DIGNAR-SE, BEM-VINDO
--- Gostaria de esclarecimentos acerca do uso de "residente e domiciliado À rua ou NA rua, bem como se digne DE ou se digne EM". Jefferson Barbosa, Bauru/SP
A rigor, como os verbos morar, residir, situar, localizar e semelhantes são regidos pela preposição EM, deveria se usar NA e não À nos casos específicos. Mas é muito comum o uso intercambiável das preposições A e EM, como temos visto em diversas ocasiões. Então, nessa situação se veem ambas as formas: na rua e à rua, com preferência por esta última na língua escrita. O mesmo acontece com seus derivados morador, residente, domiciliado:
- Ela reside à rua Tupi.
- Jacó Silva, brasileiro, casado, domiciliado à rua Sete de Setembro, requer...
- Vende-se casa [situada/sita] à avenida Salinas.
- Vamos nos encontrar na sede do Partido, à R. Cristal.
- Aluga-se imóvel [localizado] à Av. Central, no Kobrasol.
Na língua falada, justifica-se o uso mais frequente de na porque o à se confunde na pronúncia com há e com o artigo a. Já o em, combinado ou não com um artigo, não deixa margem a dúvidas:
- Residimos na rua Tupi.
- A casa está situada na avenida dos Guararapes.
- Você ainda mora na mesma travessa?
- A sede do Partido se localiza na rua Cristal.
Isso não quer dizer que não se possa ou não se deva escrever “Vende-se casa na Av. Central”, “residente e domiciliado na rua Botucatu”. Absolutamente! É uma boa opção. Mas por outro lado não se pode tachar de erro o emprego do "a craseado" nesses casos, uma vez que já está consagrado pelo uso... e abonado pelos gramáticos.
Quanto aos gramáticos, valho-me do saudoso Celso Pedro Luft, que, na sua coluna “O Mundo das Palavras” nº 2.347, resume o assunto desta forma: “No português brasileiro atual, com o verbo morar e derivados a preposição originária em pode comutar com a (esta, sobretudo na língua escrita): morar (morador) na ou à Rua X. O mesmo vale para residir (residente) e situado, sito”.
DIGNAR-SE (DE)
Com relação ao verbo pronominal dignar-se, ele pede a preposição DE (e não “em”). No entanto pode haver a elipse da preposição diante de verbo no infinitivo. Exemplificamos:
- O juiz não se dignou de nos ouvir.
- Esperamos que se digne V. Exa. (de) conceder o aparte.
- Digne-se V. Exa. conceder a audiência solicitada.
BEM-VINDO – PREFIXO BEM
O adjetivo bem-vindo é composto com hífen, pois aí o advérbio bem passa a ter valor prefixal, fazendo parte indissociável do nome. Veja-se que não se diz "seja vindo!" – ou se é bem-vindo ou se é outra coisa. A mesma análise pode ser feita com a palavra composta bem-sucedido [não se fala "sou sucedido"]. Em outros casos, o bem é um reforço: bem-disposto, bem-educado.
Por outro lado, vale saber que existe a palavra Benvindo, mas então é nome de pessoa:
- Meu tio Benvindo nasceu na Bahia em 1916.
- No mais, use o hífen e a devida flexão:
- Bem-vindos ao X Congresso de Ecologia.
- Qualquer sugestão será bem-vinda.
Fonte: http://www.linguabrasil.com.br
quarta-feira, 22 de janeiro de 2020
O CALO
Imagem: Internet |
O CALO
Por Sérgio Jockymann
Pois, a maioria dos calos não tem nada de extraordinário e só costuma doer quando está para chover. Assim mesmo é preciso que sejam calos de alta estimação, porque calinhos novos, ainda sem experiência na vida, nem como barômetro servem. Mas todos os calos reunidos do mundo, com todas suas qualidades reunidas, não faziam metade do calo do major Ariovaldo. Ah, sim, aquilo que era calo! Começa que era um caroço até meio lindo, plantado assim do lado do pé, como quisesse virar dedo numa hora dessas. Não tinha nada de casca, olho e outras coisas desagradáveis. Era o que se pode chamar de um calo limpo. O pé vinha muito direitinho, chegava ali encaroçava, formava o calo e depois tornava a criar juízo. O major Ariovaldo conseguiu o calo em 1922 quando, sem aviso, sentiu uma pontada no pé, tirou a bota e deu com ele. Três dias depois, explodiu uma revolução e como Vila Velha não pagava licença para entrar em bagunça, quase que o major foi fuzilado por engano. Saiu dali, chamou a mulher e disse com a mais absoluta convicção:
- O calo me avisou e eu não escutei.
Dona Teresa era uma alma incrédula, teve um sorriso de superioridade e pela milésima vez repetiu que o maior engano de sua vida, tinha sido casar com um major honorário sem ambição na vida. E pela milésima vez o major Ariovaldo jurou que se não fossem os três filhos, saía de casa e jamais a mulher ouviria falar dele.
- E quanto ao calo, quem viver, verá.
E quem viveu viu, porque um belo dia em 1923, numa tarde linda, cheia de sol, o major Ariovaldo mancou em plena praça, descalçou a bota e lá estava ele.
- O calo ta me doendo.
O major não pensou duas vezes. Pegou os filhos e cruzou o Rio Uruguai. Foi aquietar o calo na Argentina. E fez muito bem, porque três dias depois, era bala e bala em Vila Velha, porque havia estourado outra revolução. Como desta vez havia muita gente boa para testemunhar o aviso, o calo pegou fama.
- É um calo cívico!
Mas, todo mundo sabe que o mundo se divide em pequenos, que acreditam em tudo, e em grandes que não acreditam em nada. Donde, nas altas esferas, os avisos do calo não tiveram a menor repercussão. Mas em 25, o major Ariovaldo tirou a bota e se largou para a Argentina e três dias depois, correu bala que dava gosto. Nesta altura, o major voltou para casa e avisou a família:
- Esse calo é um patrimônio.
Dona Teresa cuspiu de nojo. Mas, nem um ano depois e o major Ariovaldo saltou da cama numa noite e começou a fazer as malas. E quando dona Tereza perguntou o que havia, ele só resmungou:
- O calo.
Dona Tereza como sempre se recusou a ouvir a voz do calo e ficou na cidade, que três dias depois era uma barulheira só, com a tropa do coronel Eustáquio de um lado e a tropa do coronel Salatiel do outro. Foi a primeira vez que o calo provou que além de consciência nacional, tinha também consciência municipal. E quando voltou da Argentina, teve gente que foi receber o calo na entrada da cidade. O major Ariovaldo teve que tirar a bota e exibir o calo para todos os crentes.
- Infalível, meus filhos.
Ora, em vinte e sete, quando o major Ariovaldo em pleno Café Central gemeu e descalçou a bota, foi uma correria. Naquela tarde, para desprezo de Dona Tereza, o major Ariovaldo quando saiu levou um terço da cidade com ele. Por isso três dias depois, quando o coronel quis recrutar um batalhão encontrou uma certa dificuldade. E para todo mundo que o coronel perguntava o que tinha havido, a resposta era a mesma:
- O calo avisou tresontonte.
O coronel resolveu investigar o caso pessoalmente, coisa que fez uma semana depois, quando o major Ariovaldo regressou da Argentina.
- Que negócio é esse do calo, major?
O major Ariovaldo tirou a bota, arrancou a meia e exibiu o calo já com um certo orgulho.
- Taí ele, coronel. É um diabinho de esperto. Três dias antes, ele já dá o aviso.
- Três dias antes de que, major?
- De fervo, coronel. De tudo que é tipo de fervo. Fervo municipal, fervo estadual e fervo nacional. E le digo mais, que quando há uma bagunça lá na zona, ele não dói, mas fica meio dormente.
Então, chegou 1930 e com 1930 chegaram alguns boatos meio feios. E à medida que o ano avançava, o major Ariovaldo se tornava a pessoa mais disputada na cidade. Todo o santo dia eram dez ou doze perguntando:
- Doeu?
E ele, muito sério, balançava a cabeça.
- Ainda não, mas ta comichando.
E ao som de comichar, todo mundo começou a fazer as malas e o coronel, quando deu pela coisa, estava tendo uma certa dificuldade em mobilizar os homens que Getúlio pedia.
- Vai ver que o inimigo tá dentro de casa.
Mas no dia seguinte, alguém falou no major Ariovaldo e o coronel pulou de raiva:
- Me chama o major!
Chamaram o major Ariovaldo que veio com muita importância e se abanquetou na frente do coronel.
- Se é informação, coronel, le digo que só tá na comichão.
O coronel esmurrou a mesa.
- Major, esse calo ta querendo pegar um jeito de traidor.
O major ficou ofendido.
- Se o pé é patriota, coronel, como é que o calo não vai ser! Nem diga uma coisa dessas que me ofende.
O problema é que tem gente fazendo as malas.
- Pois não é aconselhável nas horas de fervo, coronel?
O coronel bufou.
- Aconselhável é homem de Deus. O que não é, é recomendável. Tou aí com um pedido do Getúlio pra mobilizar três mil homens e não consigo mais que mil.
- Mas o que é que eu posso fazer, coronel?
- Esse calo tá proibido de doer. Doeu, o senhor tá preso. E também não me saia da cidade.
O major Ariovaldo olhou o coronel de alto a baixo durante uns cinco minutos, pegou o chapéu e saiu muito ofendido. E nos dias seguintes se trancou em casa. Não recebia ninguém. Ficou assim duas semanas, até que foi falar novamente com o coronel.
- Coronel, eu por mim não falo. Mas quando ele dói, nem posso caminhar. Sabe como é o povo. O dia que o pessoal me ver capenguendo pela cidade a desgraça tá feita e ainda vou preso injustamente.
O coronel pensou e concordou que era a mais pura verdade.
- Garanto até, major, que tem gente bombeando esse pé dia e noite.
- Pois le digo que tem.
- E o que se pode fazer, major?
O major rodou o palheiro na mão, olhou o coronel, abanou a cabeça e deu a idéia.
- Acho que o bom era eu me afastar da cidade por um tempo, coronel.
O coronel não gostou da idéia.
- Não tá me agradando, major. Tem certeza que o calo não tá doendo?
- Mas que nada, coronel. Olha lá.
E pulou no pé direito. O coronel só ficou meio convencido.
- Major, quem sabe o senhor me deixava alguém da família de garantia?
- Pois muito bem lembrado. Le deixo a minha mulher, a Tereza.
- Tá feito.
E foi assim que no dia seguinte, em companhia dos três filhos e às altas horas da madrugada, o major Ariovaldo saiu de fininho para a Argentina. E antes de atravessar o Uruguai mandou um mensageiro ao coronel, com uma novidade.
- Diga pro coronel, que se apronte porque o calo começou a doer onte.
O coronel ficou danado da vida e queria fuzilar dona Tereza, mas aí chegou o terceiro dia e no meio de tanta bala, não havia tempo para um varejo desses. Seis meses depois, o major Ariovaldo voltou da Argentina e teve a desfaçatez de bater na casa do coronel:
- Coronel, me desculpe, mas o senhor me decepcionou. Pensei que fosse um home de palavra. Esperei seis mês pela notícia do fuzilamento da Tereza, chego hoje e tá lá ela viva. Vou le dizer, que hoje não se pode mais confiar em ninguém. Só nos calo.
E por puro desfastio se mudou de vez para a Argentina, onde dizem que o calo não doeu nunca mais. O que prova que era mesmo um calo patriota só preocupado com os problemas brasileiros. (JOCKYMANN, Sérgio. Vila Velha, Porto Alegre : Editora Garatuja, 1975, p. 63)
terça-feira, 21 de janeiro de 2020
LUGARES
PISA - ITÁLIA
A Catedral de Pisa (em italiano: Duomo di Pisa), dedicada à Virgem Maria, é um templo católico da Itália, localizado na cidade de Pisa. É a sede da Arquidiocese de Pisa e o maior exemplo do estilo Românico toscano. Faz parte do complexo arquitetônico da Piazza dei Miracoli, declarado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO. Aos fundos, a torre pendente de Pisa (em italiano Torre pendente di Pila), ou simplesmente, Torre de Pisa. É um campanário (campanile ou campanário autônomo) da catedral da cidade italiana de Pisa. Embora destinada a ficar na vertical, a torre começou a inclinar-se
para sudeste logo após o início da construção, em 1173, devido a uma
fundação mal construída e a um solo de fundação mal compactado, que
permitiu à fundação ficar com assentamentos diferenciais. A torre
atualmente se inclina para o sudoeste.
ROMANCE FORENSE
Charge de Gerson Kauer |
O ADVOGADO "BAITACA" E O OFICIAL "EMBRETADO"
Embora desconhecidas em mais de duas dezenas de Estados brasileiros, expressões como "malino”, “tramposo” e “baitaca” têm, no Rio Grande do Sul, conotação ofensiva.
Ante a demora na citação da parte ré, o advogado do autor peticionou: “o servidor não age com diligência no cumprimento do mandado”. Sentindo-se chamado de “relapso” - embora essa expressão não constasse na petição – o oficial lançou textualmente uma longa “certidão gaudéria”. Em duas das muitas estrofes, ele foi contundente:
“Sempre aprendi na vida e pelos sulcos dos caminhos
Que todo aquele afobadinho, que mete o nariz
Em coisa ou área que não lhe condiz,
Se dá mal e fica a pé no relento,
À mercê de sol, frio, chuva ou vento.
E o falado ‘troco’ chega sem tardança.
O que importa é que a verdade sempre impera,
Mas, infelizmente, o mundo está cheio destes cueras
Com maneios e cara de vaca mansa.”
A OAB concedeu desagravo ao advogado. O oficial teve uma advertência em sua ficha funcional. E uma ação ordinária foi ajuizada contra o Estado.
A sentença reconheceu que “o uso das malsinadas expressões - por um oficial de justiça, em uma certidão – é indevido”. E o acórdão admitiu “não ser preciso conhecimento de versos e conotações gauchescas para entender o cunho de ofender diretamente o profissional”. A indenização foi pífia (R$ 5 mil + 15% de sucumbência ) e vai entrar agora na demorada fase da requisição de pequeno valor
Segundo a "rádio-corredor" forense, o servidor ficou conhecido na comarca como “o oficial embretado”.
Fonte: www.espacovital.com.br
segunda-feira, 20 de janeiro de 2020
LUGARES
ALEMANHA
Frankfurt am Main ou Frankfurt do Main ou Francoforte do Meno, mais conhecida simplesmente como Frankfurt ou Francoforte, é a maior cidade do estado alemão de Hesse e a quinta maior cidade da Alemanha. Frankfurt é o centro financeiro e de transporte da Alemanha e o maior
centro financeiro da Europa continental. (Wikipédia)
DETOX
Martha Medeiros
Celebro as desintoxicações, todas elas. Limpar é uma atitude que traz consequências saudáveis ainda que tenha gente que precise de uma bagunça em volta, de crostas no chão e na alma, de se perder em meio a embalagens de comida, toalhas sujas e cacarias. Vá tentar explicar a elas o quanto suas vidas estão emperradas justamente por causa dessa preguiça em colocar um par de luvas, pegar um balde e se desfazer dos excessos.
“Não se enlouquece quando se tem um tanque cheio de roupa suja pra dar conta”, dizia o antenado Caio Fernando Abreu, de quem tenho lembrado muito nesses tempos em que todos parecem meio pirados.
A casa de todos nós é impregnada de toxinas. Objetos e roupas que não usamos mais, coisas quebradas ou lascadas, plantas mortas, papelada sem sentido, jornais e revistas antigos, remédios vencidos, meias furadas, eletrodomésticos estragados. Guardá-los é uma ilusão de que trarão de volta a época em que serviram para alguma coisa. Uma resistência à passagem do tempo. Pois crescemos, viramos gente grande, logo está na hora de dizer: xô, tranqueiras.
É uma terapia rápida e de baixo custo: desapegar-se das tralhas a fim de aliviar a rotina. Abrindo espaço, nos sentimos mais leves e tudo em volta clareia, inclusive as ideias. Se bobear, até a saúde melhora: bye bye ácaros, traças, cupins e aedes aegypti (água parada também é lixo).
Escutei outro dia, em algum lugar, que existem fios invisíveis que nos ligam a tudo aquilo que possuímos. Está explicado: como não se sentir deprimido num ambiente lotado de entulho? Como não acordar cansado estando interligado a uma tonelada de peso inútil? Vale para o que é material e, óbvio, para o coração, aquele pequeno músculo que bate dentro do peito e que não merece hospedar tanto sentimento que não serve pra nada, a não ser para obstruir as artérias. Já experimentou não sentir tanto assim? Chega de abraçar todas as dores do mundo. Sinta com mais discernimento e sofisticação: grite menos, resmungue menos, se importe menos. Aposente o dançarino de tango argentino.
Hora de fazer uma faxina no sótão e no porão (mas quem ainda tem sótão e porão?). Ok, voltemos à vida real, a dos apartamentos minúsculos: tire as coisas de cima da cama, remova aquelas pilhas no canto da parede e esvazie os armários para que as portas possam fechar de novo.
Estou parecendo uma mãe chata? Paciência. Hoje baixou em mim a dona Maria. Por isso, vos digo: doe o que estiver empanturrando seu cotidiano, desfaça-se do que está mofando na garagem e aproveite também para parar de fumar. Sei lá, achei que calhava.
Acumular dá a falsa sensação de permanência, diz a sabedoria oriental. Só que nada permanece. Nem você. Então, deixe suas gavetas arrumadas, por obséquio.
O Globo – 20/12/2015 Zero Hora - 13/12/2015
domingo, 19 de janeiro de 2020
JULIE ANDREWS
LUGARES
ALEMANHA
O Castelo de Neuschwanstein (em alemão, Schloss Neuschwanstein) é um palácio alemão construído na segunda metade do século XIX, perto das cidades de Hohenschwangau e Füssen, no sudoeste da Baviera, a escassas dezenas de quilómetros da fronteira com a Áustria. Foi construído por Luís II da Baviera no século XIX, inspirado na obra de seu amigo e protegido, o grande compositor Richard Wagner. A arquitectura do castelo possui um estilo fantástico, o qual serviu de inspiração ao "Castelo da Bela Adormecida", símbolo dos estúdios Disney. Apesar de não ser permitido fotografar o seu interior, é um dos edifícios mais fotografados da Alemanha e um dos mais populares destinos turísticos europeus, além de também ser considerado o "cartão postal" daquele país. O nome Neuschwanstein é uma referência ao "cavaleiro do Cisne", Lohengrin, da ópera com o mesmo nome. (Wikipédia)
IMBECILIZAÇÃO COLETIVA
IMBECILIZAÇÃO COLETIVA
Por Matheus Conceição
A maior evidência dos apuros em que se encontra o país está na adoção cega e irrestrita de um dos polos da política atual. O bom senso dá lugar à aversão pelo contrário e o embate de argumentos cede espaço à troca gratuita de farpas. A alienação é, talvez, um dos grandes legados negativos de toda essa polarização tensa no Brasil, o que leva à reflexão sobre algo que deveria ser bastante evidente: é possível não gostar de Lula nem de Bolsonaro ao mesmo tempo.
Falar em Lula ou em Jair Bolsonaro é mexer com paixões. Na maioria dos casos, o que se vê é a racionalidade sendo deixada de lado em favor da admiração e confiança inabaláveis que a histeria coletiva costuma adotar em cada caso. A biografia dos dois, aos respectivos fãs, parece ungida e imaculada; não há questionamento de seus atos ou discursos falhos, já que traições ideológicas seriam o comburente necessário para o outro medrar. Esse confronto de torcidas vem arranhando qualquer tentativa de convivência pacífica no país, e a radicalização assume um protagonismo tão escancarado quanto arrebatador.
Não há dúvida de que o princípio essencial dessa luta sem vencedores seja a retroalimentação mútua. Bolsonaristas e lulistas, necessariamente, precisam de seus opostos para sobreviver. Não há, pois, interesse no desaparecimento das forças contrárias, já que é justamente na justaposição dos extremos que surge o endeusamento de cada um. Ao terem suas atitudes comparadas, o filtro da repulsa — por meio do proposital exagero dos defeitos alheios — serve de cabo eleitoral infalível. Mexer com o medo das pessoas virou um grande comércio político, no qual os dois lados saem ganhando.
Lula, com certeza, vibra com a fala destemperada de Jair Bolsonaro. É desse palanque que ele precisa para colocar o conceito de democracia debaixo do braço e se autoproclamar defensor dos direitos humanos e caridoso protetor dos vulneráveis. Ao mesmo tempo, Bolsonaro tem um grande trunfo ao expor um Lula livre, mas radical. Para o capitão reformado, o eterno fantasma da volta do desafeto, ainda que inelegível, é um meio imprescindível para recompor sua capilaridade política e colocar-se como bastião da luta contra a corrupção. Um acaba sendo o malvado favorito do outro. De algum jeito, ambos saem mais fortes.
No entanto, é óbvio que não há um equilíbrio verdadeiro nesse xadrez político, já que apenas os próprios ícones saem ilesos. Enquanto os eleitores fascinados se digladiam na defesa de seus heróis, a qualidade do debate escoa pelo ralo, não havendo de nenhuma parte qualquer interesse pelo fim desse dilúvio destrutivo. Amizades são desfeitas, famílias entram em parafuso ideológico e não há a menor parcimônia em nenhum dos lados, fazendo com que a poliarquia se torne um sonho dos mais distantes. Como no messianismo do filme “Deus e o Diabo na Terra do Sol”, a exploração da miséria é mais importante que sua solução de fato. E o jogo de marionetes é o pilar focal dos olhos de ambos.
Veja bem: Lula e Bolsonaro têm mesmo algumas vidraças simbióticas em comum. Enquanto presidente da República, Lula, sob a égide da diplomacia e dos interesses econômicos, apoiava e se reunia com os mais diversos ditadores, tais como Muammar Kadafi, Mahmoud Ahmadinejad e Teodoro Obiang. Bolsonaro, que já homenageou ditadores mortos como Stroessner e Pinochet, faz o mesmo com Viktor Orbán, o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman e o presidente chinês Xi Jinping. Além disso, sempre que pode, ameniza os absurdos ocorridos no regime militar brasileiro e, desde quando não passava de um integrante do “baixo clero” do Congresso, costumava soltar rojões no dia 31 de março — aniversário do início da ditadura no país. Para cada pedalinho com nome de neto em um sítio, há um chocolate com laranja ou uma “rachadinha” correspondente.
É óbvio que, na adoção de um ou de outro como patrono dos bons valores, não há vencedores entre os do povo, apenas lucro para os próprios “messias” populistas. A polarização é interessante para ambos e, no pior dos cenários, acaba servindo de condição de existência de suas próprias qualidades. Nessa trágica comédia da vida política nacional, ter senso crítico talvez signifique desprezar ambos em favor da própria saúde mental e da saudável convivência.
No fim das contas, não gostar de Bolsonaro nem de Lula não é uma contradição em si. É, antes de tudo, um grito de liberdade. Entre mortos e feridos, salvam-se os iconoclastas.
Fonte: https://www.revistabula.com
sábado, 18 de janeiro de 2020
POBRES MENINOS RICOS
POBRES MENINOS RICOS
Contardo Calligaris
A pobreza não é boa para a saúde física (hospitais lotados, hábitos alimentares baratos e ruins etc.).
Também a pobreza não é boa para a saúde mental. Há o estresse da luta para colocar comida na mesa. Há a frustração produzida pelo triunfo da necessidade sobre os desejos ("Pense no pão, esqueça-se dos seus sonhos"). E falta dinheiro para terapia e medicação.
Além disso, numa sociedade vaidosa e exibicionista, a falta de meios e perspectivas encoraja "vacilações" morais: tentações e condutas criminosas.
Nessa direção, aliás, é quase sempre proposta uma distinção entre 1) pobreza (que, por si só, não "explica" nada), 2) miséria (extrema necessidade que quase justifica o crime) e 3) exclusão social (em que a lei e os princípios da comunidade não valem para mim porque, se não faço parte da comunidade, não tenho por que obedecer às suas regras).
Agora, se estamos dispostos a considerar que a falta de recursos e de cidadania (num leque que vai desde a pobreza até a exclusão) tem efeitos na saúde mental e no comportamento do cidadão, como não considerar o inverso?
Como recusar a ideia de que o excesso de recursos também transforma nossa maneira de pensar, sentir e julgar? Ou você acha que o fato de dispor sempre do supérfluo não tem consequências? E o poder quase infinito de corromper os outros?
Esta era a visão do Evangelho: "E lhes digo mais: é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos céus" (Mateus, 19:24). Os calvinistas, por exemplo, se esforçaram para mostrar ao mundo que era possível ser rico sem ostentação, desperdício, soberba etc. Óbvio que é.
De qualquer forma, duvido que, na perspectiva do Evangelho, a riqueza fosse uma culpa em si: os ricos não são sinistros por sua riqueza, mas pela "patologia" mental e moral facilitada ou produzida pela riqueza.
A suspeita que exista uma doença moral e mental dos ricos começou no início dos anos 2000, com a ideia de que o consumismo fosse uma "epidemia" com consequências psíquicas sérias: insatisfação, ansiedade, procura abstrata de "mais algo", depressão –até obesidade, como consequência. O termo para essa doença dos ricos é "Affluenza", de "affluent" (rico) e "influenza" (gripe).
O que era, inicialmente, uma crítica moral à sociedade de consumo se transformou numa defesa penal. Em 2013, Ethan Couch, um adolescente do Texas, matou quatro pessoas dirigindo bêbado. A defesa pretendeu que ele sofria de "affluenza", ou seja, de problemas psicológicos produzidos pela riqueza (substancial) de sua família: incapacidade de entender o valor da lei, certeza de impunidade, desprezo pelos menos favorecidos etc.
Aposto que o advogado de Thor Batista não pensou nessa. Os advogados dos assassinos do índio Galdino não tinham como –era 1997, antes que a "affluenza" fosse "descoberta".
Engraçado, hein? No tribunal, os pobres poderiam ter desconto por serem pobres; os ricos, por serem ricos.
Não sou muito a favor de descontos para ninguém, mas é verdade que 1) a decadência moral do soldado do tráfico pode ser um efeito colateral da miséria e da exclusão; e 2) ao menos no Brasil, a decadência moral das elites políticas e econômicas é tamanha que é difícil não pensar que se trate de uma espécie de "epidemia".
No dia 1º de janeiro, Paul Krugman, prêmio Nobel de Economia, escreveu, no "New York Times", a coluna "Privilege, Pathology and Power " (privilégio, patologia e poder). Sugestão: pegue alguém que seja só um idiota ou um mau-caráter e acrescente o tipo de riqueza que lhe permite se circundar só de bajuladores e obter tudo o que ele quer... Você não acha que o cara vai piorar? Não é só que ele será um canalha com mais poder, mas o poder o tornará mais canalha do que ele já era.
Em suma, poderíamos instituir um exame psicotécnico de seleção para ser rico e poderoso. Ok, estou brincando, mas seria bom que a riqueza tivesse limites que ajudassem os ricos a não adoecer de "affluenza".
É importante cuidar para que a pobreza não se torne miséria e exclusão; mas sem esquecer que a riqueza parece com o anel de "O Senhor dos Anéis", que acaba com a alma de quem o usa.
Nas palavras de Krugman, nossas "democracias" estão se tornando "narcisocracias", comandadas por elites doentes: "egomaníacos mimados", "monstruosamente autocentrados". E olhe que ele mal deve saber o que é a Lava Jato.
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