(Adaptado a partir de um conto de Rafael Berthold, advogado, OAB-RS nº 62.120)
O presidente da OAB chega à instituição. Ele ainda se acomoda quando a secretária adentra ruborizada.
– Doutor, aguarda-o na recepção um senhor de paletó e gorro vermelhos, camisa social verde, gravata cinza clara... Tem jeito de advogado, mas diz ser o Papai Noel.
O dirigente atalha:
– Diga a ele que, no momento, não temos nenhum projeto social que necessite de imitadores de Papai Noel.
– Não, doutor! Ele insiste que é o próprio Papai Noel. E alega ter um assunto oficial para tratar com a OAB!
O presidente contrafeito acede:
- Diga que entre!
Noel acessa o gabinete, já desferindo o primeiro ataque:
– Vocês, advogados, vão acabar com o Natal!...
O presidente começa a sorrir – pensando ser um 1º de abril extemporâneo - e já se prepara para retrucar, quando o pretenso impostor abre um saco e exibe uma imensa e organizada lista, com os pedidos resumidos.
– Eu já atendo solicitações de todas as crianças do mundo! Mas a lista dos advogados, este ano, contém pedidos difíceis de atender e que não são da minha alçada.
O chefe da Ordem, então, lê a lista e encontra pedidos como: “Melhores honorários sucumbenciais; conciliadores não sendo postos a presidir audiências de instrução e julgamento; juízes não se recusando a receber advogados; agilidade na prestação jurisdicional; sentenças proferidas com brevidade; estagiários sendo só estagiários; desembargadores presentes no tribunal de segunda a sexta, dois turnos; pagamento dos precatórios”.
A lista segue nesta linha. Mas o presidente da OAB - advogado espirituoso que é – aproveita para apoiar as reivindicações da classe:
– Eu até incluiria, nessa lista, que o Supremo fuja da tentação de legislar... E penso que se o senhor, Doutor Noel, atendesse a todos os pedidos, os advogados certamente parariam de importuná-lo...
– Creio que sim, mas os senhores estão me confundindo: eu não sou Deus, sou Papai Noel. Eu trago presentes do Polo Norte em meu grande saco. Mas é impossível colocar todas essas situações forenses em meu saco.
A conversa termina amena, o pretenso Noel toma um cafezinho, agradece, despede-se e vai embora. Minutos mais tarde o presidente fica sabendo quem era o Noel visitante, de feições depressivas: um advogado jubilado, mentalmente atribulado com os desgostos sofridos com o aperto financeiro em que vive, depois de sua frustrada tentativa de receber incontáveis precatórios que o Estado não lhe paga.
E com um sorriso no rosto, arremata o presidente:
– E eu tenho que concordar com ele. De fato, situações como essas, não há saco que aguente...
Fonte: www.espacovital.com.br
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