Pena o ex-governador Sérgio Cabral estar atrás das grades e sem perspectiva de sair tão cedo. Se pudesse deixar a prisão nem que fosse por algumas horas e dar umas voltas pelo Rio, poderia observar em pessoa alguns efeitos que sua administração provocou na cidade que tantas vezes o elegeu. Embora esteja preso há apenas nove meses, Cabral não teria como ignorar as alterações em relação ao tempo em que ainda podia circular pelas ruas.
Ele estranharia a quantidade de placas de aluga-se, passo o ponto ou de liquidação para entrega das chaves nas fachadas dos prédios. Talvez não entendesse a proliferação de certo comércio informal em esquinas em que, até há pouco, isso seria impensável. Nunca houve, por exemplo, tanta gente vendendo livros e discos na calçada, nem roupas velhas, tipo brechó, e, agora, uma novidade: homens bem vestidos vendendo quentinhas, estocadas em carros estacionados.
E talvez Cabral se surpreendesse ao saber dos 4.154 estabelecimentos fechados e 2.062 empresas extintas apenas no primeiro semestre deste ano, incluindo até lojas de móveis, de vestuário e restaurantes que ele costumava frequentar. Algumas dessas grifes tinham mais de 60 anos —já existiam antes de ele nascer— e uma brava história de sobrevivência às crises do Brasil. Mas não sobreviveram a mais uma crise, agravada pela sua administração.
Cabral não pode nem alegar que só fez o que Lula e Dilma fizeram no plano federal: quebrar o Estado ao desobrigar empresas de pagar tributos —as famosas desonerações. Fez isto e mais, arriscando-se, como se sabe, a morrer com a boca cheia de diamantes.
Aliás, não lhe falem de Lula e Dilma. Réu em tantos processos na Lava Jato, ele não recebeu até agora nem uma palavrinha de apoio de seus padrinhos de recasamento com Adriana Ancelmo em 2010.
Fonte: Folha de S. Paulo
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