Contos de fadas no mundo jurídico
O pai, juiz de direito, incumbido de fazer dormir o filho (sete de idade) – desde pequeno afeito ao mundo jurídico - apela para velhas histórias infantis. Retira da estante o livro “Os Melhores Contos de Fadas” e explica à criança:
- É um livro que ganhei quando era pequeno. Nele estão os melhores contos.
O rebento empolga-se. O pai começa com a Branca de Neve.
- Era uma vez uma linda e jovem donzela, que morava no meio da floresta com sete anões e...
- Pai, para! Você vai me contar pornografia? A mamãe falou que não pode! Ora, uma moça sozinha com sete homens na floresta...
Surpreso, o pai acolhe a “tese” do filho e passa para outra história.
- Certo, filho, vamos para outra. Tem essa aqui da Bela Adormecida.
E assim conta a fase da vida da princesa que é enfeitiçada por uma maléfica feiticeira. Quando relata que ela está adormecida e o príncipe a beija, o filho interrompe:
- Pai... pornografia não pode!
- Como assim, guri?
- Esse homem aí abusou da coitadinha, que estava dormindo! Ele deve ter colocado algo na bebida dela, igual passa na tevê, naqueles casos do ´boa noite, cinderela´... E beijo não precisa ter a concordância dos dois?
- Mas é que...
- Foi abuso de menor, porque ela estava indefesa, né, pai?
O juiz-pai, já se conformando com a esperteza do filho, passa a outro conto.
- Vou te contar sobre a Cinderela, ok?
- Ah, essa eu já ouvi falar. Coitada, né? Era empregada sem registro, não tinha FGTS, horas extras, nada... Passou na tevê também!
Surpreso com a precoce sapiência jurídica do filho, o juiz tenta passar outra história: João e Maria. Conta que os dois eram irmãozinhos que viviam na floresta e que se perderam, até que uma bruxa os encontrou e...
- Pai!
- Que é, guri?
- Eles não tinham GPS?
- Isso é de uma época que não existiam estes aparelhos.
- Humm... e o Ministério Público não protegeu as crianças?
O pai, incrédulo com seu pequeno gênio jurídico, dá-lhe uma última cartada:
- Olha só, doutorzinho! Vamos fazer o seguinte. Vou ler uma última história. Senão, é cama já, sem resmungos e sem recursos, ouviu?
- Sim, meritíssimo!
O pai inicia com a história do Patinho Feio:
- Era uma vez uma pata com seus patinhos, todos bem lindinhos. Só um deles que era bem feinho, e...
- Ô pai! Assédio moral não, né?
Texto resumido a partir de um dos 25 contos de “O Lado Hilário do Judiciário”, livro de autoria do advogado catarinense George Willian Postai de Souza (OAB-SC nº 23.789).
Fonte: www.espacovital.com.br
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