Fabrício Carpinejar
Não mando nudes. Aliás, se eu mandasse, quem deveria sofrer um processo por espalhar a imagem era eu, não o destinatário.
Vou enquadrar o quê? O peito de Tony Ramos, os mamilos, os gambitos? Até chegar lá, naquilo que interessa, a minha mulher estará dormindo. Conhecerá o mais morno dos tédios e jamais ficará excitada. Não nasci para strip poker. Só se existisse blefe no strip poker.
Minha mania é outra. Costumo mandar fotos dos hematomas para a esposa quando jogo futebol. Sempre que ela me pergunta como foi a partida, dispenso as palavras, os áudios e os emojis e tiro uma selfie de meus joelhos esfolados. Coloco, inclusive, um filtro nos machucados, para aumentar a compaixão.
As lesões são os meus nudes. As caneladas são os nudes masculinos.
Toda segunda-feira é a mesma cantilena. Não sei se busco um desconto para os serviços sexuais noturnos, se é uma evidência marital de que estava em campo e assim me prevenir da desconfiança e do ciúme, se realmente pretendo passar uma pose viril de gladiador das canchas sete, a questão é que não me seguro e despejo as fotografias por WhatsApp.
E me alegro com as respostas: “são uns brutamontes”, “que violência desnecessária”, “isso não é futebol, é um açougue”. Adoro quando ela expressa o mais profundo inconformismo com a atuação truculenta dos zagueiros. Parece que me ama mais.
Depois, óbvio, que me arrependo. Deveria ser menos impulsivo. Tem sido cada vez mais difícil sair de casa para as peladas e responder às ofensivas domésticas de que sou irresponsável e não cuido de minha saúde. Ela mantém uma coleção de cenas horripilantes de minhas pernas em frangalhos ao longo dos anos. Recheada de argumentos visuais de que a diversão só vem me matando e que pode acontecer, um dia, algo pior.
Ninguém precisa produzir provas contra si – é o princípio nemo tenetur se detegere -, menos o trouxa aqui. Caí na minha própria cilada, eu me envaideci do sofrimento e me considerei culpado por antecipação.
Fonte: Facebook
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