Medellin: o destino do ano
A uma atenta platéia de duas
centenas de estudantes, nosso bravo viajante ofereceu uma palestra de duas
horas no lindo auditório da Universidade Jaguelônica de Cracóvia. O tema lhe
caiu como uma luva "O homem universal", pedia o professor Schumsky,
com o objetivo de ouvir as viagens de Mr. Miles e, ao mesmo tempo, trazê-lo às
considerações sobre os malefícios das fronteiras e das bandeiras. Ovacionado
por mais de dez minutos, nosso colaborador foi, em seguida, jantar no bairro de
Kazimierz, onde ouviu lindas músicas klezmer.
A seguir, a pergunta da semana:
Mr. Miles: aproveitando esta
edição com os melhores destinos para 2017, o senhor não gostaria de falar sobre
o assunto em sua coluna?
Adriana Moreira, por email
Well, my dear: honro os votos que
dei, já devidamente consignados. Mas o mundo é muito dinâmico, as you know, e
agora lhe digo que minha primeira escolha será Medellin, na Colômbia. Tenho
vivido longamente, mas há muitos anos não observava nada parecido com o que ví
e ouví logo após a tragédia com o avião da Chapecoense. O envolvimento ativo e
emocionado dos medellinenses em uma situação que, por mero acaso, ocorreu em
seu território, fez-me refletir sobre o estágio em que estamos na evolução da
humanidade.
Isso, of course, não é assunto
para um humilde viajante, cuja principal relação com os colombianos são as
rosas locais que , ano após ano, encomendo no aniversário de nossa rainha.
However, foi espantosa a
solidariedade dos conterrêneos de Pablo Escobar.
Confesso que fiquei pensando em
minhas próprias ações — que, na comparação, mostraram-se francamente egoistas.
Conversei com amigos de várias partes do mundo e, todos eles, estavam tão
chocados com o acidente quanto emocionados pelo desenrolar dos acontecimentos.
Nevertheless, os habitantes da capital da provincia de Antióquia não se
limitaram a chorar como tantos choram face a mortes inaceitáveis. In my
opinion, eles criaram um novo patamar de altruismo e amizade, até então
desconhecido.
Rezaram, foram às ruas, foram ao
estádio, fizeram brilhar todas as velas da cidade e, especialmente, ofereceram
ao adversário destroçado pela calamidade aquilo que ainda não possuiam: o
título de campeão, os prêmios correlatos, uma nova promessa de futuro. Não
tenho visto nada parecido por aí. Estamos cada vez mais cínicos e ensimesmados.
Criticamos e nos indignamos com muito mais avidez e volume do que amparamos a
dor de pessoas próximas ou distantes. A bruma pesada das manhãs de outono
obnubila nossa visão; vemos apenas o que está muito perto e, para dar um passo,
tateamos. Como viajantes com excesso de carga, não conseguimos ir longe.
Apequena-mo-nos, enfim (com a licença para usar a mesóclise solicitada ao vosso
presidente da República).
Vou para Medellin as soon as
posible. Vou ver as obras de Botero que engordam alegremente a praça que leva o
seu nome. Vou à festa das flores que, todos os anos, leva 2,5 milhões de
pessoas às ruas com o sentido principal de ver o milagre da natureza
antioquenha, em suas cores e aromas. Quero conhecer os paisas (naturais de
Medellin) que prantearam setenta estranhos de longínquas paragens com um
coração que já não se vê.
Medellin não é uma vila, my
friends. É uma metrópole com mais de três milhões de habitantes — calejada pelo
confronto de traficantes de droga que já transformou suas ruas em rios de
sangue. Seu luto impressionante não foi, therefore, a reação de uma pacata
provincia a uma tragédia maior. Yes, my dear Adriana: há lindos lugares no
mundo que os leitores podem priorizar na programação de suas viagens — e a
seleção feita por esse suplemento é uma excelente fonte de inspiração. Mas já
entrei em contato com Jaime Ibañez Acuña, que é hoteleiro na Patagônia,
cineasta no Paraguai e produtor de rosas em Antióquia. Ele promete que vai me
receber em breve, mas, sem qualquer necessidade, adverte: "As pessoas
seguem muito tristes por aqui."
Yes, I believe.
Fonte: Facebook
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