sexta-feira, 28 de abril de 2023

MR. MILES


Medellin: o destino do ano

A uma atenta platéia de duas centenas de estudantes, nosso bravo viajante ofereceu uma palestra de duas horas no lindo auditório da Universidade Jaguelônica de Cracóvia. O tema lhe caiu como uma luva "O homem universal", pedia o professor Schumsky, com o objetivo de ouvir as viagens de Mr. Miles e, ao mesmo tempo, trazê-lo às considerações sobre os malefícios das fronteiras e das bandeiras. Ovacionado por mais de dez minutos, nosso colaborador foi, em seguida, jantar no bairro de Kazimierz, onde ouviu lindas músicas klezmer.
A seguir, a pergunta da semana:

Mr. Miles: aproveitando esta edição com os melhores destinos para 2017, o senhor não gostaria de falar sobre o assunto em sua coluna?
Adriana Moreira, por email

Well, my dear: honro os votos que dei, já devidamente consignados. Mas o mundo é muito dinâmico, as you know, e agora lhe digo que minha primeira escolha será Medellin, na Colômbia. Tenho vivido longamente, mas há muitos anos não observava nada parecido com o que ví e ouví logo após a tragédia com o avião da Chapecoense. O envolvimento ativo e emocionado dos medellinenses em uma situação que, por mero acaso, ocorreu em seu território, fez-me refletir sobre o estágio em que estamos na evolução da humanidade.

Isso, of course, não é assunto para um humilde viajante, cuja principal relação com os colombianos são as rosas locais que , ano após ano, encomendo no aniversário de nossa rainha.

However, foi espantosa a solidariedade dos conterrêneos de Pablo Escobar.

Confesso que fiquei pensando em minhas próprias ações — que, na comparação, mostraram-se francamente egoistas. Conversei com amigos de várias partes do mundo e, todos eles, estavam tão chocados com o acidente quanto emocionados pelo desenrolar dos acontecimentos. Nevertheless, os habitantes da capital da provincia de Antióquia não se limitaram a chorar como tantos choram face a mortes inaceitáveis. In my opinion, eles criaram um novo patamar de altruismo e amizade, até então desconhecido.

Rezaram, foram às ruas, foram ao estádio, fizeram brilhar todas as velas da cidade e, especialmente, ofereceram ao adversário destroçado pela calamidade aquilo que ainda não possuiam: o título de campeão, os prêmios correlatos, uma nova promessa de futuro. Não tenho visto nada parecido por aí. Estamos cada vez mais cínicos e ensimesmados. Criticamos e nos indignamos com muito mais avidez e volume do que amparamos a dor de pessoas próximas ou distantes. A bruma pesada das manhãs de outono obnubila nossa visão; vemos apenas o que está muito perto e, para dar um passo, tateamos. Como viajantes com excesso de carga, não conseguimos ir longe. Apequena-mo-nos, enfim (com a licença para usar a mesóclise solicitada ao vosso presidente da República).

Vou para Medellin as soon as posible. Vou ver as obras de Botero que engordam alegremente a praça que leva o seu nome. Vou à festa das flores que, todos os anos, leva 2,5 milhões de pessoas às ruas com o sentido principal de ver o milagre da natureza antioquenha, em suas cores e aromas. Quero conhecer os paisas (naturais de Medellin) que prantearam setenta estranhos de longínquas paragens com um coração que já não se vê.

Medellin não é uma vila, my friends. É uma metrópole com mais de três milhões de habitantes — calejada pelo confronto de traficantes de droga que já transformou suas ruas em rios de sangue. Seu luto impressionante não foi, therefore, a reação de uma pacata provincia a uma tragédia maior. Yes, my dear Adriana: há lindos lugares no mundo que os leitores podem priorizar na programação de suas viagens — e a seleção feita por esse suplemento é uma excelente fonte de inspiração. Mas já entrei em contato com Jaime Ibañez Acuña, que é hoteleiro na Patagônia, cineasta no Paraguai e produtor de rosas em Antióquia. Ele promete que vai me receber em breve, mas, sem qualquer necessidade, adverte: "As pessoas seguem muito tristes por aqui."

Yes, I believe.

Fonte: Facebook

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