sexta-feira, 21 de abril de 2023

MR. MILES


Alho, soldadinhos de chumbo e outras compras

Nosso sempre solerte viajante britânico enviou-nos noticias de Cracóvia, na Polônia, aonde foi palestrar na antiquiquíssima Universidade Jaguelônica. Contou-nos Mr. Miles que ficou encantado com o bom-humor dos estudantes poloneses.
A seguir, a pergunta da semana:

Caro Mr. Miles: sempre que viajamos, minha mulher dedica muito tempo às compras. O curioso é que ela não adquire nada que não se possa encontrar aqui e, quase sempre, paga mais do que custaria no Brasil. Não vou me separar dela por isso, mas gostaria de saber que tipo de compras são razoáveis em uma viagem?
Paulo Castrilli, por email

Well, my friend: não invejo a sua vida de viajante. Exceto se, graças às compras, você consegue compensações do tipo explorar destinos novos, visitar exposições de seu interesse etc.

Nunca fui uma boa referência para quem gosta de comprar. Exceto por um bowler hat novo, alguns sapatos bons de caminhar e, sometimes, por uma mala ou valise adequadas, quase não adquiro nada. Minto: já ia me esquecendo dos livros e dicionários que considero imprescindíveis.

Nesse mundo cada dia mais (ou seria menos, Donald?) globalizado, há de quase tudo em quase todos os lugares. Podem variar modelos e cores, mas, se você buscar a origem, seja numa etiqueta minúscula, seja porque perguntou para a pessoa certa, o produto pelo qual sua melhor está interessado foi produzido em uma mesma fábrica em Bangladesh ou em Formosa.

However, não há porque reclamar. É o comércio que move o mundo desde que o primeiro troglodita trocou seu tacape pela mulher do vizinho.

Quanto a sua pergunta, acho justificáveis compras de remédios ou produtos médicos muito caros em seu país. Besides, algumas tecnologias surgem antes em um país do que no outro. Colecionadores também têm ótimos razões para comprar. Meu amigo Admiral Higgins, em cujo destróier servi durante parte da Segunda Grande Guerra, coleciona, puerilmente, soldadinhos de chumbo. Deve ser sua vocação para a caserna, I presume. O fato é que em seu castelo no Condado de Sussex (please: não confundam com Essex, aonde nasci), há uma grande sala repleta de minúsculas formações militares. In my opinion, se elas tivessem real poder de fogo, nós, ingleses, voltariamos a conquistar o mundo (just kidding...)

Pois o meu velho almirante anda de cidade em cidade, de continente em continente em busca de seus micro-soldados, mini-majores e generais — todos, of course, acompanhados de tanques, cavalos e simulacros de armas.

Eu mesmo já contei nesse espaço, que, exceto por presentes especiais que envio às minhas mulheres preferidas, tenho um vício esquisito. Trata-se da de colecionar bebidas curiosas do planeta. E o que é uma bebida curiosa?

Well, o que você acharia de um whisky fabricado no Sudão do Sul? Ou um rum vindo da Sibéria?

Isso mesmo: tenho vodkas produzidas em Ilhéus (terra do cacau e da Ilhoska), um sakê curioso produzido na Namíbia, um raki (parente próximo do arak) feito na Estônia e vinhos, oh, my God, produzidos em quase todos os países do mundo, curiosamente até mesmo em lugares onde jamais nascerá uma parreira.

Também gosto — e recomendo — suvenires de péssimo gosto que redundam em ótimas histórias. Comprei, certa vez, um elefante esculpido grosseiramente na lava do vulcão Etna e —believe or not — pintado em vermelho vivo. Também ganhei, d'outra feita, um rudimentar bloco de papel feito a partir da abundante produção de estrume de elefantes sul-africanos.

Enfim, dear Paul, como já dizia meu velho amigo Winston (Churchill, estadista inglês), o verdadeiro valor de qualquer objeto é a história que se pode contar a partir dele. Minha querida Lea, pessoa especialmente amável e confusa, foi, certa vez, à Puerto Stroessner (assim se chamava Ciudad del Este). Não achou nada satisfatório e acabou comprando alho, porque achou o preço excelente. Unfortunately, ao voltar para o Brasil, passou pelo constrangimento de ter seu alho confiscado. Ainda bem que sobrou cebola para a salada.

Fonte: Facebook

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