Os melhores bares do mundo
Nosso solerte viajante anuncia
que começa a ficar incomodado com o mal-humor do outono britânico e as nuvens
negras da nova política internacional. Ele está de malas prontas para latitudes
onde “as temperaturas estão mais tépidas e as mulheres menos vestidas”.
Especula-se que, desta vez, ele finalmente reapareça no Brasil, onde, entre
outras visitas não anunciadas, deverá encontrar o seu fabricante capixaba de
pios. Trata-se de um sucessor de seu velho amigo Maurilio Coelho, que iniciou
sua produção em 1903. Como todos sabem, Mr. Miles é um paciente birdwatcher e,
a seu ver, a produção de pios do Espírito Santo, é uma das mais na arte de
produzir instrumentos de sopro para atrair aves ariscas.
Fontes que preferem manter a
discrição garantem que nosso correspondente britânico precisa de três pios
específicos: os que atraiam jaós, marrecas-irerê e tururins.
A seguir, a correspondência da
semana:
Mr. Miles: como apreciador de
viagens e bares, qual é, na sua opinião, o melhor dos bares do mundo?
Walter Julius Saraiva, por email
Well, my friend, quem sou eu para
responder uma pergunta dessa magnitude? Nem Hemingway — que, segundo algumas
fontes, teria visitado cerca de 98,3% dos estabelecimentos existentes ao seu
tempo —, ousou pontificar a respeito. O que poderá dizer um humilde viajante
que, com toda a certeza, sequer chegou a encostar os cotovelos em 70% dos bares
do planeta?
Não, dear Walter,sou obrigado a
me render aos meus limites. O que não me impede, of course, de citar dois ou
três bares históricos. Como o mitológico El Pimpi, em Málaga, muito ligado a
história das touradas andaluzas — onde, dizem, o sangue de alguns toureiros foi
bebido por seus amigos diluido em jerez. Hoje, o assunto seria desmentido
porque não é politicamente correto. Os malagueños, however, conhecem bem a
honrosa tradição. Ou o Foxy’s, em Jost Van Dyke, nas Ilhas Virgens Britânicas.
É seguramente o bar que hospeda o revéillon mais agitado do planeta, um
tradicional ponto de encontro de velejadores. Durante esses dias, a lotação do
ancoradouro local atinge tamanha dimensão que, para alcançarem a praia, os
capitães precisar passar sobre um amontoado caótico de iates. Eu mesmo já
estive lá e só fui reencontrar o barquinho em que vim na terceira semana de
janeiro. Em parte, confesso, pelo tamanho da ingestão de alcool a que me
permiti, mas,também, porque não tinha a menor ideia de onde estava atracado meu
barco. Can you believe in such a mess?
O mais mencionado de todos,
however, chama-se Peter Café Sport, fica na cidade de Horta, na ilha do Faial,
em Açores e conquistou sua reputação pela qualidade de seu gim-tônica e a
hospitalidade de José de Azevedo — believe me or not, o Peter do nome. José
ganhou a alcunha por sua semelhança com um marinheiro homônimo da Royal Navy e
adotou-a com o maior espírito esportivo. Tantos marujos saciaram, com Peter,
sua sede de liquor and land que ele acabou sendo oficialmente homenageado e
reconhecido por sociedades navais de todo o Atlântico Norte. Estive lá muitas
vezes, naquelas nove ilhas distantes que alguns dizem ser o centro do mundo pu
os últimos picos da Atlântida.
Sempre fui bem recebido por
Peter, bebi com fartura e comi ótimas iguarias portuguesas (é a Portugal que
pertencem os Açores).O bar é tão cheio de lendas, que há os que garantem que o
próprio Papa Francisco, o simpático argentino cosmopolita, aparece por lá, com
grande discrição, para tomar "unas copas". Não ouso afirmar que o
Peter é o melhor entre todos os bares, até porque, desde pequeno aprendi que
não há pub melhor que seu local pub. Mas garanto-lhe que o mencionado bar
açoriano é o único onde você vai encontrar um pequeno Museu de Arte de
scrimshaw, com lindos trabalhos gravados e pintados em marfim de cachalote. Que
lhe parece? Vamos lá?
Fonte: Facebook
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