Aquele que convive com pais mais
velhos entenderá o que digo.
Eles são representantes da
contraespionagem.
Podem falar a verdade em qualquer
área da vida, menos quando abordam a própria saúde. Não há como confiar
literalmente em seu estado. Pregam peças em abundância.
Tendem a piorar quando não é nada
e subestimar quando é grave. Engrandecem o alarme falso e boicotam os chamados
sérios.
Se têm uma enxaqueca agem com o
acento de um derrame. Se têm uma indisposição já convocam uma coletiva com os
filhos para adiantar o testamento. Se sofrem de uma gripe tapam o rosto com
cobertor aguardando a caveira encapuzada e a sua foice.
Colocam uma lupa na letra miúda
das bulas. Dor de garganta é câncer. Dor nas costas é osteoporose. Dor no
ouvido é surdez.
Eu até prefiro o exagero ao
menosprezo. Melhor um fóbico a um cético. A prevenção, ainda que errada,
continua sendo um cuidado.
Os pais me complicam mesmo ao
negar os seus ataques mais contundentes e menosprezar a autenticidade do quadro
clínico. Encontram-se à beira da morte e fingem que é uma fraqueza passageira.
A pressão dispara acima dos 23 e
procuram me convencer que é normal e que
só precisam descansar um pouco. "É apenas uma tontura, vou tirar um
cochilo e melhoro".
A desidratação avança no Saara da
testa e a crise se reduz a um desconforto momentâneo, resultado de algo que se
comeu no almoço.
Quando não estão mal querem
correr ao hospital. Quando estão mal querem ficar em casa a todo custo. É
enlouquecedor. No primeiro caso, julgam os filhos como omissos. No segundo, os
filhos são autoritários e pretendem forçar internações.
Não tenho problema com o teatro,
não me irrito com a invenção dos sintomas, desgastante é ter que provar a
doença para o doente.
Fonte: Facebook
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