Os jovens não sofrem como antes
sofríamos por amor. Não acontece mais a bebedeira, a sarjeta, o quarto fechado
por dias consecutivos, os lençóis pantanosos que somos obrigados a arrancar à
força para lavar.
Eu quase morria com as paixões
platônicas da adolescência. Não conseguia conversar com ninguém, gastava uma
canção até furar os tímpanos e me isolava a ponto de enxergar os objetos no
escuro.
Werther não existe mais. Não
existe mais a crença pelo amor por toda a vida. As brigas e os divórcios
litigiosos dos pais começam a oferecer os primeiros efeitos colaterais.
Rompeu-se com a idealização e a hibernação dos pensamentos.
Hoje os adolescentes surgem mais
maduros, terminar uma relação não é matar o futuro, é somente seguir adiante.
São mais higiênicos e desencanados. Mais realistas que os adultos. Aceitam os
foras e as recusas com naturalidade. Não levam para o lado pessoal. Admitem as
diferenças e reconhecem as falhas. Não sangram a gengiva, não jogam roupas e
objetos dos ex pelas janelas, não geram a discórdia e as fofocas.
Quando os meus filhos encerraram
um romance, eu pensava que vinha uma calamidade dali por diante. Afiava os
melhores conselhos, preparava panelão de sopa, comprava sorvete, ficava de
plantão sentimental. Só que nada acontecia de caverna e tristeza. Nem
aborrecidos se mostravam. Emendavam a sua rotina, leves e bem-humorados. Eu
conversava com os meus botões: como que ainda conseguem rir após uma ruptura?
Simplesmente entendem que a paixão tem ciclos e a eternidade é feita de dias
bons e ruins. A amizade vem em primeiro lugar, amizade consigo e com os demais,
e o amor não é tão decisivo e fatal como outrora.
Não morrem de esperança, não adoecem
por tudo o que não foi vivido, não ruminam as palavras salvadoras que não foram
ditas, não repassam o discurso do fim milhares de vezes para detectar aonde
erraram.
Não há mais aquele vodu do meu
tempo, aquela vingança silenciosa, aquela odisseia pela reconciliação, aquele
orgulho ferido e furioso.
Talvez seja a derrocada dos
estribilhos de fossa e dos refrões
graves e descorneados dos sertanejos. Talvez a dor de cotovelo seja
somente diagnóstico de reumatismo.
O amor mudou, e desapareceu a sua
turbulenta melancolia. É como música eletrônica: não definimos ao certo quando
começa uma e termina a outra.
Fonte: Facebook
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