Viagens com tração animal
Nosso viajante britânico
registra, com prazer, a correspondência que recebeu de Waldomiro Benedito de
Carvalho, de Itapetininga, no interior de São Paulo.
"Foram lindas observações de
um jovem viajante — contou Mr. Miles — , a respeito de Waldomiro, que fará 90
anos em janeiro do próximo ano. Unfortunately, o texto é copioso, mas quero
registrar alguns trechos".
Desde quando, em 1957, fui pela
primeira vez aos EEUU, nunca mais deixei de viajar e conhecer outros países,
tudo por minha conta e risco. Não possuo muitos passaportes mas, já guardei
oito deles com todo o carinho. É um repositório de belas lembranças eis que,
folheando-os relembro as (38) trinta e oito nações que conheci e em muitas
delas voltei em várias ocasiões; fiz até um álbum com 462 fotos das Américas do
Norte, do Sul e Central, Europa, África, Oriente Médio, Turquia; que publiquei
na Internet Não pretendo parar, pois ainda tenho bastante disposição. Pretendo
ir à Nova Zelândia ou fazer um safari no Parque Serengueti, no Quênia. Qual
deles o senhor me recomenda?
"Well, my friend, a decisão
tem de ser toda sua. Sua explosão de entusiasmo e energia revela a alma de um
grande viajante, que seguirá — como eu — percorrendo o mundo e fazendo
descobertas. Adoro a Nova Zelândia, mas como meus leitores sabem, tenho um
fraco pela África (aonde estou agora). Se eu tivesse de escolher, iria para o
safári, lembrando que o Serengueti estende-se, também pela Tanzânia. E se a
dúvida seguisse grande, optaria pelos dois destinos em uma mesma viagem.
Aliás, nosso viajante glutão não
vai esquecer tão cedo a galinha ao molho piri-piri que lhe ofereceram os
diretores da Associação de Pescadores de Vilanculos, um vilarejo litorâneo de
choupanas de palha e obesos baobás que fica 700 quilômetros ao norte de Maputo,
na costa de Moçambique. “It was spicy like hell”, conta-nos mr. Miles que,
apesar de ter sentido suas mucosas irromperem em grossas labaredas assim que
ingeriu o primeiro naco do bípede apimentado, comportou-se como um cavalheiro
até o fim da refeição, em honra a seus anfitriões. Aliviado apenas pela
refrescância da cerveja Manica que “thank God, estava gelada”, nosso
correspondente britânico viajou, em seguida, para a vizinha ilha de Bazaruto,
onde hospedou-se no idílico resort de propriedade de um xeique saudita com quem
estudou na Inglaterra. Sua ideia era aproveitar as águas tépidas do Índico,
cavalgar pelas dunas e desfrutar de scotchs ao poente. Três dias depois, porém,
ao escrever estas linhas, mr. Miles seguia apenas alternando purê de batatas
com anti-ácidos, incapaz de afastar-se mais do que cinco metros do water-closet
mais próximo.
A seguir, a pergunta da semana:
Poluição extrema. Atrasos nos
aeroportos. Acidentes de trens. O senhor não acha que seria melhor voltarmos ao
tempo da tração animal?
Nivaldo Utrillo, por email
Well, my friend, é claro que me
lembro da tração animal, até porque ainda recorro às suas diversas modalidades
com alguma freqüência. Ou o senhor jamais subiu no lombo de um cavalo e sequer
fez uma daquelas carriage rides em Nova York ou Viena? Tenho grande apreço
pelos equinos em geral e um respeito reverente aos muares, cuja resistência e
perseverança me comove especialmente. Lembro-me da mula Balalaika que, anos
atrás, transportou-me por mais de uma semana através dos montes Urais. Sozinha,
ela encontrou uma maneira de nos tirar daqueles penhascos quando eu já me
considerava irremediavelmente perdido.
Camelos e dromedários, as well,
continuam em uso em grande parte do planeta. Já recorri a seus (deles) serviços
several times, embora seu galope descomunal, I must say, tire todas as minhas
vértebras do lugar.
Também fiz várias jornadas a
bordo de gentis elefantes asiáticos que, definitivamente, não são recomendadas
para pessoas que enjoam.
Se você é leitor dessa coluna,
deve saber que, certa feita, meu saudoso amigo Nelson Mandela e eu até mesmo
apostamos uma corrida montando avestruzes no vale do Grande Karoo. A modéstia
me impede de dizer quem venceu o páreo, mas posso lhe assegurar, my fellow, de
que avestruzes não se enquadram na categoria “tração animal”. Eles têm força e
velocidade, mas falta-lhes, unfortunately, bestunto e senso de direção. O que,
however, é facilmente oferecido pelos veiculos motorizados de hoje. Em outras
palavras, my friend, adoro os animais. Mas, exceto Trashie, minha raposinha de
estimação, prefiro cada um deles em seu lugar. Porque para percorrer esse
planeta sem fim, a tração mecânica é, sem dúvida, melhor.
Fonte: Facebook
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