Carlos Heitor Cony
Benito Mussolini
terminou seus dias na face da Terra numa posição incômoda: pendurado de cabeça
para baixo num gancho de açougue. Um fim de vida coerente com uma de suas
frases mais famosas: "Governar a Itália não é difícil, é impossível".
Menos trágicos, os presidentes do Brasil, mesmo sem o fim lastimável do ditador
italiano, poderiam dizer: "governar o Brasil não é difícil nem impossível:
é inútil".
Citando Suetônio poderíamos dizer
que os 12 Césares tiveram as mesmas dificuldades dos presidentes dos dias de
hoje. Um deles resolveu seus problemas e os problemas do Império Romano
nomeando um cavalo para senador, que nada ficou devendo aos senadores que o
sucederam.
Ernest Renan, no meu entender o
maior estilista da língua francesa, considerou a linhagem dos Pios não só o
melhor período do império como o período mais feliz da humanidade do seu tempo.
Teve razões para isso, uma vez que seus antecessores e sucessores, segundo
Cesare Cantù, não eram coisas que prestavam.
Falta ao Brasil um Suetônio e um
Cantù, apesar de termos césares demais. Somente para ficar no ano da Graça de
2017, temos três ex-presidentes e estamos na iminência de termos mais um, além
de outros que estão na fila.
Nenhum deles ficou pendurado num
gancho de açougue, mas tivemos um suicida, um louco que renunciou, outro que
foi exilado e dois que foram impedidos. Disso tudo resultou que o Brasil pode
ter governantes em excesso, que prometerão pão e leite para todos, descobrirão
a inutilidade do leite e do pão, mas farão licitações que abastecerão corruptos
e corruptores.
Um ex-presidente que foi exilado
dizia que governar era abrir estradas. A maioria preferiu abrir as burras da
nação, tornando inúteis suas promessas e nomeando cavalos para os altos
escalões.
Fonte: Folha de S. Paulo - 18/06/2017
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