Ruy Castro
Os jornais deram: a casa do futuro será fabulosamente inteligente. Pelo que entendi, ela dispensará seu morador de ter de decidir se espana ou passa um pano nos móveis, fecha ou abre uma torneira e dá ou não descarga no vaso. Ou seja, cada vez menos esse morador precisará usar a própria inteligência na intimidade do lar. Isso não será de todo mau. O ser humano, descendente de Platão, Cervantes e Humphrey Bogart, nasceu para coisas mais importantes do que escolher entre lavar ou deixar de lavar as caçarolas.
No futuro, a porta da casa dispensará a chave -abrirá ao contato com a sua impressão digital. As luzes se acenderão assim que você adentrar o recinto e se apagarão à medida que for mudando de aposento. E não só. O ar condicionado ou a calefação começará a funcionar automaticamente, de acordo com a temperatura; as músicas da sua vida surgirão de alguma fonte no volume que você achar ideal; ou, se for o caso, a tela do computador abrirá direto na novela ou no jornal. Dutos invisíveis despejarão um aroma suave, ativo ou alucinógeno, como você preferir.
As mãos serão reservadas a práticas mais nobres, porque muita coisa que, até há pouco, ainda dependia delas será resolvida pelo comando de voz. Hoje, ao tomar certos elevadores, você já não precisa apertar um botão -basta dizer o número do andar e o bicho o leva até lá. Em breve, poderá fazer isto também com os eletrodomésticos, do aspirador, que, obedecendo à sua ordem verbal, sairá cafungando por conta própria pelo seu apartamento, ao chuveiro, que ficará pelando, gelado ou médio de acordo com o seu tom de voz.
Enfim, será um admirável mundo novo, como nem Aldous Huxley ousou imaginar.
Liberados das tarefas prosaicas, resta ver de que se ocuparão nossas poéticas cabeças. Francamente, não faço muita fé.
Fonte: Folha de S. Paulo
Os jornais deram: a casa do futuro será fabulosamente inteligente. Pelo que entendi, ela dispensará seu morador de ter de decidir se espana ou passa um pano nos móveis, fecha ou abre uma torneira e dá ou não descarga no vaso. Ou seja, cada vez menos esse morador precisará usar a própria inteligência na intimidade do lar. Isso não será de todo mau. O ser humano, descendente de Platão, Cervantes e Humphrey Bogart, nasceu para coisas mais importantes do que escolher entre lavar ou deixar de lavar as caçarolas.
No futuro, a porta da casa dispensará a chave -abrirá ao contato com a sua impressão digital. As luzes se acenderão assim que você adentrar o recinto e se apagarão à medida que for mudando de aposento. E não só. O ar condicionado ou a calefação começará a funcionar automaticamente, de acordo com a temperatura; as músicas da sua vida surgirão de alguma fonte no volume que você achar ideal; ou, se for o caso, a tela do computador abrirá direto na novela ou no jornal. Dutos invisíveis despejarão um aroma suave, ativo ou alucinógeno, como você preferir.
As mãos serão reservadas a práticas mais nobres, porque muita coisa que, até há pouco, ainda dependia delas será resolvida pelo comando de voz. Hoje, ao tomar certos elevadores, você já não precisa apertar um botão -basta dizer o número do andar e o bicho o leva até lá. Em breve, poderá fazer isto também com os eletrodomésticos, do aspirador, que, obedecendo à sua ordem verbal, sairá cafungando por conta própria pelo seu apartamento, ao chuveiro, que ficará pelando, gelado ou médio de acordo com o seu tom de voz.
Enfim, será um admirável mundo novo, como nem Aldous Huxley ousou imaginar.
Liberados das tarefas prosaicas, resta ver de que se ocuparão nossas poéticas cabeças. Francamente, não faço muita fé.
Fonte: Folha de S. Paulo
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