Há quase dez
anos, em agosto de 2007, falei neste espaço de um agricultor japonês, da ilha
de Shikoku, que não se conformava com a dificuldade para guardar uma melancia na
geladeira. O formato da fruta não ajudava –grande e arredondada, tomava muito
espaço na prateleira e deixava cantos vagos e ociosos, difíceis de ser
ocupados. Além disso, era instável, não parava quieta, era complicado cortá-la.
Nosso herói perguntou-se se esse erro de design da natureza não seria passível
de correção.
Como agricultor de mão cheia, calculou que, se começasse a cultivar melancias em caixas de vidro, elas acabariam adotando o formato da caixa. Talvez precisasse de muitas gerações de melancias para atingir o efeito, mas os japoneses não são como nós, sabem esperar –e, se ele não conseguisse, seus descendentes continuariam a tarefa. O importante era produzir uma melancia quadrada, não importava quantos sóis nascessem e morressem.
Levou 20 anos e gerações de melancias equivalentes a várias dinastias de seu país, mas, em 2007, o lavrador conseguiu. A melancia quadrada era uma realidade. Li aquilo e empolguei-me, tanto que escrevi uma coluna a respeito -que, em 2015, incluí num livro de crônicas para jovens, publicado pela editora Moderna e ao qual dei o título, justamente, de "A Melancia Quadrada".
Bem, agora, há dias, vi pela televisão que as melancias quadradas são um sucesso nos mercados asiáticos e que o Japão fatura milhões com sua produção e exportação. É bom saber que uma empreitada deu certo.
Pois, para minha surpresa, descobri que o Ceará também se tornou produtor de melancias quadradas –e que os cearenses estão competindo em vendas com o Japão! Interpreto isto como um alento. Quem sabe, no futuro, inspirando-nos em bons exemplos, não seremos também um país?
Fonte: Folha de S. Paulo - 26/06/2017
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