A vida requer paciência. A dança
das cadeiras modificará o nosso olhar. Aquilo que um dia foi ruim pode ser bom,
o que foi desagradável pode ser fundamental. Para ter sucesso, basta não sair
do lugar e suportar a mutação das opiniões a seu respeito. Sidney Magal já foi
o ó do borogodó, hoje é cult e programação fixa nos karaokês. Odair José já foi
brega e hoje é cult, com shows triplicados. O popular e o intelectual se dão a
mão com o tempo.
Por exemplo, repare o quanto
alteramos o nosso posicionamento sobre o amigo que nunca bebe. Antes era o mais
chato. Ninguém aguentava a sua companhia durante muito tempo nas festas. Você
gritava, enlouquecia, descia até o chão em coreografias animadas, barbarizava e
ele nem se mexia, como uma câmera de segurança. Frustrava às expectativas da
dança tribal, de segurar nos ombros e gritar oooooh no estertor da madrugada.
Estragava a alegria sempre com uma garrafinha de água e com a pupila
absolutamente lúcida e aterrorizante. Parecia mesmo um segundo pai querendo ir
embora.
Dispensávamos o amigo sereno,
amaldiçoávamos os religiosos, os convertidos, os trabalhadores não-etílicos.
Não beber se enquadrava no pecado da caretice, o equilíbrio soava com a
natureza reacionária. Cumplicidade correspondia à boemia, e se divertir estava
traduzido a empilhar garrafas e preencher engradados.
Com a balada segura e as blitzes
de surpresa, o amigo sóbrio não é mais um pária da sociedade, não é mais um
excluído, não é mais um filhinho do papai da Coca-Cola, um filho da mamãe do
Guaraná. Pelo contrário, as suas ações e passes subiram no mercado. É disputado
a tapas. Todo mundo quer sair com ele. Tornou-se uma parceria obrigatória, o
motorista da turma. Ele é o euro da amizade, o dólar da amizade, a moeda de
valor triplicado.
Quem lhe viu quem lhe vê. Temos que suportar prazerosamente as
testemunhas de nossa bebedeira e de nossos colapsos amorosos.
O companheirismo a seco é o único
que salva os nossos pontos na carteira.
Fonte: Facebook
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