Martha Medeiros
Sexo é sinônimo de prazer.
Erotismo, luxúria, pecado, sacanagem. O sexo traz em si um cenário de mil e uma
noites de promessas, todas voltadas para a volúpia. Quem nunca praticou, é
tomado por fantasias libidinosas extraídas do cinema, das revistas masculinas e
de piadas e relatos picantes que garantem não existir nada melhor na vida, para
horror dos sentimentais e dos pudicos. Sexo melhor que amor? Heresia, fim do
mundo.
Faltou dizer que sexo não é
apenas prazer: ele é plural, dispara uma conjunção de sensações físicas de alta
intensidade que comovem e podem nos levar à paixão – senão pelo outro, com
certeza por nós mesmos, tamanho é o processo de autoconhecimento que ele
dispara. Não estou falando, obviamente, dos encontros de uma noite só, as
chamadas “one night stand”, em que mal se sabe o nome da pessoa com quem
estamos e cuja finalidade é praticamente aeróbica, uma aventura para apimentar
o cotidiano. Ato sexual não é a mesma coisa que relação sexual.
Quando há relação, todos os
sentimentos do mundo invadem a cama – e de uma forma tão contraditória que
começa aí o espanto e a graça da coisa. Podemos, em nossa rotina de trabalho,
ser um funcionário obediente, cumpridor de horários, servo de nossos patrões, e
à noite, na cama, sermos dominadores, entrando no jogo erótico de assumir o
controle e dar ordens. Ou, ao contrário: depois de um dia liderando e
estimulando vários profissionais, nos tornarmos submissos sobre os lençóis, a
ponto de escutarmos palavras que normalmente nos ofenderiam e humilhariam, mas
que naquele momento se prestam ao cenário e à cena: excitação resulta de alguma
performance também.
Esta variação de comportamento,
ao mesmo tempo inocente e indecente, só é possível porque temos a segurança de
saber que naquele instante não haverá julgamento moral, e sim entrega absoluta
– e rara. Sexo envolve plena confiança, ou ficaríamos travados, temendo cair no
ridículo. Desperta a coragem para permitir que nossos desejos mais secretos
sejam expostos e realizados. Exige compreensão do tempo que cada um precisa
para se desnudar de seus pudores. Requer um olhar generoso e terno para a
desinibição do outro e, sobretudo, inteligência – sim, inteligência – para
lidar com tudo que há de estranho, ilógico e dicotômico neste embate íntimo.
Costumamos valorizar o corpão (que a maioria não tem), mas uma cabeça boa é que
faz toda a diferença entre o sexo vigoroso e o sexo protocolar.
Diante desta universalidade de
sensações, faz sentido dizer que sexo vale menos que amor? Essa hierarquia só
existe para os excessivamente românticos, apegados aos contos de fada. Não é
por acaso que transar é sinônimo de “fazer amor”, pois é disso mesmo que se
trata, de um êxtase emocional e não apenas físico (ainda que “fazer amor” seja
uma expressão enjoada). Sexo pode ser bandido, perverso e impuro em sua
essência, nunca em sua conotação. Em análise, sexo é sublime também.
Fonte: Facebook
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