quinta-feira, 16 de fevereiro de 2023

NÃO TROPECE NA LÍNGUA


PREFIXAR, PRÉ-FIXAR E CASOS AFINS
--- Qual a regra de utilização do prefixo pre em palavras como pré-história e predestinação? A. L. C., Bom Jesus do Itabapoana/RJ
A regra (estabelecida em 1943) para o uso do acento agudo em tais casos – pré ou pre – é a pronúncia aberta ou fechada do E. Isso significa que, quando o prefixo é tônico –  PRÉ –, ele se separa da palavra seguinte por hífen. Quando átono – PRE –, aglutina-se ao segundo elemento. O Acordo Ortográfico (2009) assim se expressa: [usa-se o hífen] “d) Nas formações com os prefixos tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró-, quando o segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tônicos (mas pospor); pré-escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover)” – Base XVI, 1º. 
Assim, de um lado temos pré-história, pré-estreia, pré-pago, pré-datado, pré-moldar, pré-habilitar, pré-natal, pré-fabricado, pré-molar, pré-adolescente, pré-cozido, pré-olímpico, pré-coma – para dar mais alguns exemplos.
De outro lado, encontramos predestinação, predispor, predisposição, precogitação,  prejulgar, predizer, predominar, pressupor, preordenar etc. 
Um problema é quando não se distingue facilmente entre e aberto e e fechado, como em preanunciar, preaquecer ou precitado (“citado anteriormente”). Não se pode esquecer que em muitas regiões do Brasil há uma predominância do timbre aberto, o que leva por conseguinte ao pré tônico. Muitos brasileiros, ou a maioria, falam por exemplo “pré-estabelecer” e “pré-condição”, mas a grafia oficial é “preestabelecer” e “precondição”. 
Em virtude dessa ambivalência é que o VOLP - Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa 2009 já registra duas grafias em alguns casos: pré-eleito, pré-eleição e preeleito, preeleição; pré-embrião e preembrião; pré-demarcar, pré-demarcação e predemarcar, predermarcação. 
Sugiro que o leitor anote quatro casos, bastante comuns, de palavras habitualmente pronunciadas com som aberto mas escritas sem hífen e portanto sem acento gráfico:  
- O ajuste foi aceito de acordo com as condições preestabelecidas.
- Os fatos preexistentes não nos permitem mudar de rota.
- Está sendo minuciosamente predeterminado cada passo do plano.
- Serão predefinidos os termos em que faremos a negociação.
Outras duas palavras que comportam um comentário à parte são pré-fixado e prefixado. Quando se trata de “colocar prefixo em”, não há dúvida de que só se usa prefixar (ou aprefixar):
- Para se formar um novo verbo em português, basta prefixar uma forma primitiva.
Já no âmbito da economia, a forma que apresenta mais lógica e clareza, por trazer a ideia de prazo fixado com antecedência e por ser efetivamente pronunciada com timbre aberto, é pré-fixar, que ainda se opõe melhor a pós-fixar e a pós-datar. A questão é que nem todos os dicionários brasileiros registram a forma com hífen, encontrada entretanto no Dicionário de Usos do Português do Brasil (Francisco S. Borba, 2002):
- Títulos de renda pré-fixada.
- Você faz uma transação cuja margem de lucro são os juros e correção monetária pré-fixada.
Há outro caso parecido: preconceito em alguns casos específicos escreve-se pré-conceito, para fazer a distinção entre a intolerância, ou “atitude, sentimento ou parecer insensato, especialmente de natureza hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou imposta pelo meio”, e o conceito formado a priori, seja favorável ou não.
Fonte: www.linguabrasil.com.br

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