Quando a companhia vale mais do
que o destino
Muitos leitores consideraram que
mr. Miles exagerou ao informar que tem mais de 800 passaportes encadernados.
"Sou muito cuidadoso com
documentos diplomáticos. — explicou o viajante inglês — e guardo a todos como
uma enciclopédia de minhas lembranças viajoras. É uma pena que hoje estejam
trocando carimbos por chips. As memórias, nesse caso, ficam para os burocratas.
Que, como se sabe, não têm qualquer sentimento".
A seguir, a pergunta da semana:
Caro Mr. Miles: estou organizando
uma viagem de familia — sete pessoas de três gerações — pela Garden Route, na África do Sul (que não conheço).
O que devo fazer para encaixar tão diferentes interesses, sem criar mal-estar
entre todos? Quero dizer que essa viagem é um antigo sonho e estou orgulhoso de
poder proporcionar tudo isso, aos 80 anos, para meus filhos e minhas netas.
Gunter Kaisenberg, por email
Well, my dear Gunter: em primeiro
lugar quero parabenizá-lo pela iniciativa. Levar a familia para viajar é um
sonho de muitos patriarcas, mas nem todos tem saúde ou disponibilidade
financeira para realizá-lo. In my opinion, o simples fato de que essa
empreitada vai ocorrer já o desobrigaria de qualquer preocupação. Sua familia,
I presume, deve estar muito grata e feliz por essa oportunidade.
Concordo com você: viajar em
pequenos grupos de interesses distintos é sempre, indeed, um risco. Conheço
muitos amigos de longa data que, por terem viajado juntos, nunca mais se
falaram. Pior que isso, I'm sorry to say, são as viagens em que casais de
relacionamento abalado tentam refazer seus laços. Unfortunately, isso quase
nunca dá certo, porque por à prova laços tênues e desgastados é um convite a
destroçá-los de vez.
São muito distintas, porém, as
viagens de familia. Pelo tom de sua carta, a viagem pela Garden Route não tem nenhuma
outra intenção que não a de celebrar a união de gente muito próxima em
circunstâncias em que tudo é novo para todos.
Como você bem sabe, my friend,
não tenho uma familia organizada de forma tradicional. Considero meus irmãos
todos os amigos que fiz pelo mundo e algumas tias centenárias às quais, sempre
que posso, cubro de mimos, mesmo tendo que, eventually, comer uma kidney pie
(torta de rim) sem tempero. Admiro, however, aos que têm familia regular e se
gostam a ponto de querer viajar juntos. Ouso dizer que sua viagem é fadada a um
sucesso emocional sem tamanho. Você e seus convidados jamais se esquecerão
desse convivio intenso. A Garden Route — uma bela estrada repleta de atrações
entre Capetown e Port Elisabeth — foi ótima escolha. Mas aposto que tanto para
eles como para você, muito mais que o destino, importa a companhia.
É natural que os interesses de
tantas idades distintas não sejam os mesmos. Para gente que se gosta de
verdade, porém, esse é um tema de menor importância. A tendência é que todos
abram mão de alguma vontade para que a vontade de todos prevaleça. Nesse
sentido, my friend, a sua escolha foi ótima. Além do propósito louvável do
patriarca, viajar sem expectativas não causa decepções. Vocês vão descobrir o
que querem em harmonia. Com certeza, haverá discordância sobre um ou outro item
— o restaurante, o hotel, as paradas. Ponha essas questões na devida proporção:
ensine aos seus descendentes o real valor de uma experiência como essa. Abra
mão de certas preferências, para que os outros façam o mesmo. Divirtam-se,
mostrem o quanto vocês se amam. E, ao fim e ao cabo, se você sentir que não
conheceu o lugar como deveria, a solução é simples: volte e faça, da segunda
vez, aquilo que achar melhor. Um último aviso: lembre-se que a África do Sul
tem o trânsito à inglesa. O que, em outras crônicas, já demonstrei que é a mão
correta de direção.
Fonte: Facebook
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