A galáxia das malas extraviadas
Nosso adorável viajante britânico
está feliz. Soube, por carta, que seu encadernador de passaportes, desaparecido
nos bombardeios de Aleppo, na Síria, reapareceu em Adana, na Turquia e continua
trabalhando. Miles vai mandar dozes unidades para transformar em caderno
encapado, os 24 passaportes que formarão o trigésimo sexto volume de sua
coleção de registros diplomáticos.
A seguir, a pergunta da semana.
Mr. Miles: eu não acredito que, a
essa altura do campeonato, as companhias aéreas ainda percam a bagagem de seu
passageiros! Eu mesmo perdi uma mala inteira em meu último voo. O que posso
fazer?
Anita Parramón, por email
Well, my dear. Os casos de
babagens perdidas parecem pertencer mais ao universo da ficção do que à
realidade. Os números são estimados, mas há um consenso de que, de cada 150
passageiros, 1 perde a bagagem durante o voo, unfortunately. Ou seja: em um
avião internacional, com 300 passageiros, dois pobres viajantes ficarão por
longos minutos esperando suas malas no carrossel; duas boas almas, um pouco mais,
tarde farão o esperançoso sightseeing das demais esteiras do aeroporto. E, por
fim, dois seres tristes, comunicarão a quem de direito (se o encontrarem), o
extravio de suas malas, na última esperança de recuperá-las algum dia.
Se estiverem indo, perderão as
roupas com que planejavam passear e diverti-se. Quase sempre serão obrigados a
comprar itens substitutos — e quase sempre, my God, em moedas mais fortes.
On the other hand, se estiverem
chegando, vão se lembrar com saudades, das horas que desperdiçaram para achar
os presentes certos para seus entes queridos, as negociações que fizeram, os
descontos que ganharam — e que, agora, despareceram em algum lugar na neblina
do tempo e do espaço.
I'm vary sad to say, mas essa é a
pura verdade. Todos os anos, bilhões (sim, com b de bola) de malas vão parar no
céu da bagagem e poucas delas terão a chance de reencarnar.
Esse número — billions! — é
considerado estatisticamente desprezível pelas companhias aéreas. Noventa e
cinco por cento dos itens transportados voltam sãos e salvos a seus
proprietários. A questão é que há cada vez mais voos e as conexões são cada vez
mais curtas.
Em outros voos, repletos de
mudanças de aeronave, aumenta a chance de a sua mala dirigir-se para Bisqueque,
no Quirguistão, onde seres exóticos ficarão espantados com o tamanho dos
biquinis dentro da mala extraviada.
Mr. James Galtworne, um velho
amigo que conhece a aviação como raros outros, disse-me que, unfortunately, o
movimento de passageiros cresce mais do que a capacidade logística de
atendê-los. "Sem falar nos larápios, Miles. Quantos deles há pelo mundo!
", comentou.
É um problema enorme, my dear,
diante do qual só me resta fazer as recomendações de praxe:
1- Nunca leve quaisquer tipo de
valores em sua mala. Nem dinheiro, nem joias, nem remédios de uso continuo, nem
objetos de estimação.
2- Tente, se puder, ver mais e
comprar menos quando viaja. Economize para comprar os mesmos itens na volta,
porque certamente eles já existem (mais baratos) em sua própria cidade.
3- Não se preocupe com cadeados e
lacres, porque gatunos nem ligam para eles. Tenha mais atenção à identificação
(coloque-as dentro e fora da mala) porque assim, sua mala (ainda que
desfalcada) terá mais chance de voltar ao lar. Talvez você perca alguns dos
presentes que comprou, mas, quem sabe seja possível matar as saudades de sua
meia de estimação.
Espero, darling, que esse artigo
lhe sirva de consolo. Não se sinta a vítima, mas apenas uma pequena partícula
de um sistema que, embora ótimo, é imperfeito. Pratique o desapego. E pense que
sua mala está agora, em outra galáxia, voando feliz com suas parceiras
transviadas.
Fonte: Facebook
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