Hélio Schwartsm
Educação melhora a
qualidade do voto? Trocando em miúdos, se nossas escolas fossem melhores,
correríamos menos risco de eleger bandidos ou aventureiros no próximo pleito
presidencial? Infelizmente, a resposta é "não".
A ideia de que a democracia é um
processo no qual cidadãos bem informados analisam desapaixonadamente as propostas
em debate e escolhem a mais conveniente é sedutora, bastante popular e,
lamentavelmente, errada. Não é que seja impossível que algum eleitor siga esse
roteiro, mas o que várias décadas de estudos empíricos mostram é que essa está
longe de ser a regra.
Um exemplo eloquente é o da
fluoretação dos reservatórios de água. Do ponto de vista científico, não há
dúvida de que a medida é excelente. Ela previne cáries a um custo irrisório.
Nos EUA, nos anos 50 e 60, inúmeras cidades a adotaram; outras, porém, julgaram
que era mais democrático submeter a questão a plebiscito. Nessas, a taxa de
rejeição da proposta foi maior, chegando a 60%. E se enganam aqueles que acham
que a recusa estava confinada aos rincões ignorantes da América.
Cambridge, em Massachusetts, onde
têm sede Harvard e o MIT, está entre as cidades que rejeitaram o flúor. Não
uma, mas duas vezes. O livro "Democracy for Realists", que já
comentei aqui, traz vários outros exemplos de que as relações entre
educação/informação e deliberação democrática são muito mais complexas e
surpreendentes do que se supõe.
O ponto central é que as pessoas
tendem a usar critérios muito mais calcados em emoções e impressões do que na
razão para tomar suas decisões. Pior, eleitores são frequentemente vítimas de
vieses cognitivos e pressões sociais contra os quais a escola pode muito pouco.
A democracia só não é um caso
perdido porque ela, no mais das vezes, consegue ao menos evitar que indivíduos
de campos políticos opostos troquem tapas e tiros nas ruas.
Fonte: Folha de S. Paulo - 16/05/2017
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