Somos seres
impressionáveis. Quando o bolso aperta e observamos regressões em nossas pautas
favoritas, não apenas nos pomos a maldizer a sorte como também decretamos a
inviabilidade da espécie. Mas, se nos guiarmos um pouco menos por nossos
instintos e mais por dados objetivos, teremos de concluir que a humanidade até
que está fazendo um bom serviço.
Autores como Steven Pinker e
Michael Shermer mostraram em livros recentes que estamos fazendo progressos,
tanto em termos materiais como morais. A escala a observar não é a dos anos,
mas a dos séculos. Nossa espécie está se tornando cada vez menos violenta
(proporções decrescentes da população morrem em consequência de guerras e
assassinatos), praticamente extinguimos a escravidão do planeta e estamos
avançando rapidamente na questão dos direitos de minorias e na ampliação das
liberdades individuais. Apenas alguns anos atrás, pautas como casamento gay e legalização
da maconha eram impensáveis. Hoje, são uma realidade em vários países.
Há boas notícias até para a
esquerda: a natureza humana é em parte maleável. Tomemos o exemplo dos temíveis
vikings. A violência empregada em suas conquistas era tal que a simples menção
de seu nome já aterrorizava os europeus que habitavam mais ao sul. Hoje, os
vikings se tornaram os simpáticos e politicamente corretos suecos,
dinamarqueses e noruegueses. Como a mudança se deu num intervalo de apenas mil
anos, tempo insuficiente para que ela tenha bases biológicas, é forçoso
concluir que tem origem cultural.
Como até o início do século 19 a
Suécia era tida como um dos piores e mais corruptos países da Europa, há
motivos para suspeitar que o ponto de virada foi ainda mais recente. A crer em
autores como Daron Acemoglu, James Robinson e Bo Rothstein, a resposta está no
desenho das instituições. Em tese (e é bem em tese mesmo), até o Brasil tem
esperança.
Fonte: Folha de S. Paulo - 30/04/2017
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