segunda-feira, 31 de outubro de 2022

A HUMANIDADE TEM JEITO?

Hélio Schwartsman
Somos seres impressionáveis. Quando o bolso aperta e observamos regressões em nossas pautas favoritas, não apenas nos pomos a maldizer a sorte como também decretamos a inviabilidade da espécie. Mas, se nos guiarmos um pouco menos por nossos instintos e mais por dados objetivos, teremos de concluir que a humanidade até que está fazendo um bom serviço.

Autores como Steven Pinker e Michael Shermer mostraram em livros recentes que estamos fazendo progressos, tanto em termos materiais como morais. A escala a observar não é a dos anos, mas a dos séculos. Nossa espécie está se tornando cada vez menos violenta (proporções decrescentes da população morrem em consequência de guerras e assassinatos), praticamente extinguimos a escravidão do planeta e estamos avançando rapidamente na questão dos direitos de minorias e na ampliação das liberdades individuais. Apenas alguns anos atrás, pautas como casamento gay e legalização da maconha eram impensáveis. Hoje, são uma realidade em vários países.

Há boas notícias até para a esquerda: a natureza humana é em parte maleável. Tomemos o exemplo dos temíveis vikings. A violência empregada em suas conquistas era tal que a simples menção de seu nome já aterrorizava os europeus que habitavam mais ao sul. Hoje, os vikings se tornaram os simpáticos e politicamente corretos suecos, dinamarqueses e noruegueses. Como a mudança se deu num intervalo de apenas mil anos, tempo insuficiente para que ela tenha bases biológicas, é forçoso concluir que tem origem cultural.

Como até o início do século 19 a Suécia era tida como um dos piores e mais corruptos países da Europa, há motivos para suspeitar que o ponto de virada foi ainda mais recente. A crer em autores como Daron Acemoglu, James Robinson e Bo Rothstein, a resposta está no desenho das instituições. Em tese (e é bem em tese mesmo), até o Brasil tem esperança.

Fonte: Folha de S. Paulo - 30/04/2017

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