Ruy Castro
Como todo mundo,
assustei-me nos últimos anos com nossas cidades cheias de anúncios de vendo ou
passo o ponto, lojas fechando, indústrias quebradas, demissões, produtos
tirados de linha e tantos projetos de filmes, peças, concertos, balés, musicais
e exposições que não saíram sequer da categoria sonho. Acompanhei também a
crise na indústria editorial, com as compras do governo estancadas, livrarias
inadimplentes, editoras em apuros, e perguntei-me sobre o que aconteceria ao
elo mais fraco dessa cadeia: o escritor.
Nunca tendo trabalhado com outra
ferramenta que não fosse a palavra, vi-me em busca de uma opção profissional
para o caso de não ter mais onde escrever. Então, de repente, me ocorreu: o
campo, a roça, a criação de animais — juntar as economias e abrir uma granja,
um estábulo. Mas como fazer isso se não sei nada de vacas e há mais de 50 anos
não vejo uma galinha ao vivo?
O jeito era aprender. Em sebos e
leilões, encontrei os livros básicos. Um deles, "Manual de
Avicultura", de João Brunini, me apresentou às técnicas de incubação, à
personalidade dos frangos e à importância do galo na produção de ovos. Outro,
"Criação Prática de Marrecos", de Paravicini Torres, me serviu de
Ph.D. E nada superou minha descoberta de José Reis, o Balzac dos galinheiros.
Ele é o autor de "Higiene dos Aviários", "Incubação dos Ovos de
Galinha", "Os Perus - Criação e Aproveitamento", "Marrecos
e Patos" e muitos mais, todos com temática avícola. Atirei-me a eles.
Mas, então, fui ler Eduardo
Almeida Reis, autor dos clássicos "Zebu para Principiantes", "A
Arte de Amolar o Boi" e "O Pinto e a Senhora Sua Mãe - A Arte de
Empobrecer Criando Galinhas", e me convenci de que o universo aviário e
vacum é coisa complexa, para poucos. Desisti.
Além disso, a crise parece estar
passando.
Fonte: Folha de S. Paulo
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