quarta-feira, 1 de setembro de 2021

SALVAÇÃO PELO GALINHEIRO

SALVAÇÃO PELO GALINHEIRO
Ruy Castro

Como todo mundo, assustei-me nos últimos anos com nossas cidades cheias de anúncios de vendo ou passo o ponto, lojas fechando, indústrias quebradas, demissões, produtos tirados de linha e tantos projetos de filmes, peças, concertos, balés, musicais e exposições que não saíram sequer da categoria sonho. Acompanhei também a crise na indústria editorial, com as compras do governo estancadas, livrarias inadimplentes, editoras em apuros, e perguntei-me sobre o que aconteceria ao elo mais fraco dessa cadeia: o escritor.

Nunca tendo trabalhado com outra ferramenta que não fosse a palavra, vi-me em busca de uma opção profissional para o caso de não ter mais onde escrever. Então, de repente, me ocorreu: o campo, a roça, a criação de animais — juntar as economias e abrir uma granja, um estábulo. Mas como fazer isso se não sei nada de vacas e há mais de 50 anos não vejo uma galinha ao vivo?

O jeito era aprender. Em sebos e leilões, encontrei os livros básicos. Um deles, "Manual de Avicultura", de João Brunini, me apresentou às técnicas de incubação, à personalidade dos frangos e à importância do galo na produção de ovos. Outro, "Criação Prática de Marrecos", de Paravicini Torres, me serviu de Ph.D. E nada superou minha descoberta de José Reis, o Balzac dos galinheiros. Ele é o autor de "Higiene dos Aviários", "Incubação dos Ovos de Galinha", "Os Perus - Criação e Aproveitamento", "Marrecos e Patos" e muitos mais, todos com temática avícola. Atirei-me a eles.

Mas, então, fui ler Eduardo Almeida Reis, autor dos clássicos "Zebu para Principiantes", "A Arte de Amolar o Boi" e "O Pinto e a Senhora Sua Mãe - A Arte de Empobrecer Criando Galinhas", e me convenci de que o universo aviário e vacum é coisa complexa, para poucos. Desisti.

Além disso, a crise parece estar passando. 

Fonte: Folha de S. Paulo

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