O ´Excelentíssimo Senhor Operador
Jurídico´ exercia sua bem remunerada profissão com as confortáveis achegas de
criticados penduricalhos. Como era possível não ser assíduo ao trabalho, ele
eventualmente usava o horário vespertino para praticar o nobre esporte dos
leitos.
Era – como diziam seus colegas –
“um homem às vezes solteiro, à tarde; mas rigorosamente bem casado à noite”...
Em certa tarde outonal gaúcha,
ele pegou a namorada-assessora, que os colegas chamavam de ´menina veneno´,
partindo ambos a um acolhedor motel. Quando ia estacionar, ele levou um choque:
no box ao lado, fechado por uma semi-arriada cortina de lona, percebeu a
traseira de um bem novo carro que lhe parecia muito familiar.
Abaixou-se, espiou, e – zás...que
decepção!... – era o automóvel da sua digníssima consorte, que - sendo ´do
lar´- naturalmente deveria estar em casa, ou nas compras. Placa, cor, tudo
conferia.
O operador jurídico explicou, à
namorada, a surpreendente constatação e ambos acharam melhor dar meia-volta. No
caminho, ele matutou: “mato ela, mato os dois, me suicido?”... - aqueles
dilemas clássicos das novelas mexicanas, que às vezes afligem o homem enganado.
Tomou, então, uma decisão. Voltou
ao seu gabinete de trabalho, viu o sombrio anoitecer outonal à beira-rio, avaliou
seu matrimônio de 20 anos, etc. E duas horas depois foi para casa.
A esposa estava sentada,
assistindo o Datena falar acerca da insegurança no Brasil e sobre os políticos
canalhas. E ela - sem ficar vermelha ou sem graça - recebeu o marido com um comentário
sobre os dramas retratados no programa de tevê...
- Como tem gente infeliz por este
Brasil!...
O operador jurídico questionou
com autoridade típica:
- Onde é que foste hoje de tarde?
A santa senhora nem mesmo
levantou a cabeça e manteve o olhar fixo no televisor.
- Tava frio, fiquei em casa,
ajeitando os armários, comendo pipoca e vendo televisão...
- É? E teu carro, por acaso,
ficou na garagem, trocando o óleo?
Ela mudou de canal, e com a mesma
cara de inocência, respondeu:
- Não fica brabo, meu bem. É que
tua mãe me ligou, pedindo o meu carro. O dela tinha estragado, ela precisava
dar umas voltas e eu emprestei.
Pode ter sido verdadeira a
versão. Mas, dias depois, ingressou no foro a separação judicial do casal.
Consensual, mas evidentemente em
segredo de justiça.
Fonte: www.espacovital.com.br
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