Overbooking: o que nosso
correspondente tem a dizer
O sempre adorável Mr. MIles
disse, em mensagem enviada à redação, que pretende ver as neves do Brasil
durante o inverno. Ele programa uma viagem à São Joaquim para ver o raro
fenômeno e para agradar Trashie, sua mascote siberiana. Também vai, um pouco
depois, para o refúgio patagônico de seu velho amigo e multiempresário Jaime
Trauco Ibañez Cousiño que, embora muito sofisticado, só bebe vinhos em caixas
de leite longa vida.
A seguir, a correspondência da
semana:
Querido Mr. Miles: acabo de ver,
na televisão, a cena chocante em que um médico é arrancado de um avião
americano à força. Me deu vontade de ouvir sua opinião imediatamente. Como sei
que não é assim, decidi enviar esse email.
Rosa Maria Quintão, por email
Well, my dear: fico orgulhoso por
você querer ouvir minha modesta opinião. Vi a cena e fiquei tão inquieto quanto
você. Meu único consolo é que, sendo os Estados Unidos uma sociedade tão
judicializada e havendo videos das cenas de wrestling vividas pelo passageiro,
ele vai processar a aerovia e, without doubt, ganhará pelo menos um Boeing
737-800 para que seus próximos voos tenham, ao menos, seu assento garantido.
However, o overbooking — a
prática de vender mais poltronas do que as que existem na aeronave — é legal.
Imoral, mas legal. Se esse tipo
de autoritarismo fosse praticado em outras modalidades, haveria grande
confusão: espectadores com ingressos numerados em teatros ou cinemas
precisariam ter muita sorte; viajantes com hotel reservado iriam acabar no olho
da rua; passageiros de trem com assentos marcados terminariam, devastated, nas
plataformas das gares.
As empresas aéreas praticam o
overbooking porque, in fact, em grande parte dos voos, os passageiros esperados
não aparecem. Nesses casos, os viajantes são multados, mas os aviões viajam com
alguns lugares vazios — que poderiam, of course, render às companhias alguns —
how do you say ?— caraminguás a mais.
Supõe-se que nem todos
passageiros estão com pressa ou têm compromissos marcados em seus destinos.
Therefore, para evitar reclamações diárias, é comum que, em caso de
overbooking, as aéreas oferecem prêmios aos, let's say, "desertores".
Ouve-se, com frequência, uma comissária que ofereça dinheiro vivo a quem topar
partir no dia seguinte, ou prêmios como promoção à classe executivo and so on.
Em caso de voos de longa distância, os prêmios são bastante apetitosos — e vão
subindo enquanto ninguém se apresenta. Meu amigo Liam, que ia de Londres para
Nairobi com sua mulher e três filhos, for instance, desembarcou a familia
inteira quando ganhou cinco novas passagens para o mesmo trecho — garantido-lhe
duas férias com safári, ao invés de uma.
Nevertheless, não importa o
tamanho do prêmio ou a ausência de premiados. Tirar um passageiro do avião por
sorteio é uma decisão deplorável — ainda que os passageiros tivessem acesso às
bolinhas e supervisão de uma auditoria independente. O que dizer, darling, de
tirá-los à força, tornando-os alvos de uma agressão no mínimo constrangedora?
Aliás, a prática de calar
passageiros comprando seu silêncio vem se expandindo. A televisão em frente ao
seu assento não funciona? Reclame e receba 100 dólares para aceitar o infortúnio.
Sua poltrona não reclina? Mais cem dólares — e não se fala mais no assunto. Já
ouvi um amigo de pub contar que sempre torcia para que seu assento fosse
brindado com diversas falhas. "Pode ser um negócio rentável.",
disse-me ele.
É claro que esse espertinho
poderia perfeitamente figurar como funcionário de empresas que, sem qualquer
emoção, praticam overbooking. Como me disse, certa vez, a romântica viajante
dominicana com quem partilhei momentos agradáveis na ilha de Santorini, "O
problema não é sair do avião. É sair do sonho.", comentou, com grande
sabedoria.
Fonte: Facebook
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