Novos tempos, novas tecnologias
Nosso incansável viajante manda
noticias, agora, de Bled, na Eslovênia, um de seus recantos prediletos na
Europa balcânica.
Sr. Miles, tenho lido algumas de
suas colunas e vejo que o senhor pertence a um outro tempo. Não tem paciência
para o novo, as modernidades e, claro, já está ultrapassado. O mundo progride e
ficar parado não serve para nada. Atenciosamente,
Diego Gatasaki, por email
Well, my friend, preciso sempre
respeitar a opinião de meus leitores, porque isso é da natureza dos
articulistas elegantes. E, indeed, você tem razão. Em muitos aspectos, a
atualidade me constrange. Admito que já fui pior. Demorei a aceitar o
computador — e só aceitei fazê-lo porque já não encontrava mais mata-borrões
nem tinta de qualidade para minhas canetas-tinteiro. Acho os celulares
extraordinários, sobretudo quando estão desligados. Como não há um protocolo
minimamente civilizado sobre o seu uso, vou seguir me esquivando dessas
traquitanas. Meu amigo xeneize, o bem-humorado don Manzano, contou-me que em
Buenos Aires já há restaurantes que impedem o uso do celular. Em outras partes
do mundo, retrógrados como eu temos alcançado pequenas vitórias, ao lograr
conversar por alguns minutos com interlocutores que, via de regra, preferem
dialogar com quem está longe do que com quem está em sua frente.
Sairemos derrotados, however.
Pertenço, como outros raras antiguidades viventes, a um tempo em que
interagiamos diretamente com o mundo. Viamos pelos próprios olhos, aspirávamos
sem medo de alergias, comiamos para apreciar (e não para fotografar) e
tocávamos em qualquer superficie interessante sem a necessidade de usar,
urgentemente, a salvação do alcool gel. Besides, alcool era para beber e gel
era qualquer substância melequenta. O progresso, dear Diego, não é sinônimo de
evolução, assim como o futuro não significa, I'm sorry to say, a garantia de
dias melhores.
Há quem esteja sempre adequado ao
seu tempo e, mais tarde, aparece em alguma fotografia usando roupas de estampas
ridículas e suissas feíssimas no rosto. Mas há quem perceba — e esse não é o
seu caso, my friend —, que aproximar-se ciberneticamente de alguém, conversar
ou brigar, discutir ou informar tem desvantagens sobre a qualidade de um
diálogo olhos nos olhos, com gente real, feia, bonita, interessante ou insossa.
O curioso é que as mesmas pessoas
que defendem a inovação, as you do, costuma defender a estagnação, em nome de
valores ambientais. Pois o melhor, a meu ver, é não ir tanto ao mar, nem tanto
à terra.
Tenho visto hotéis modernos e
luxuosos esmerando-se em oferecer novas tecnologias para seus clientes, o que é
louvável. Ao invés de abrir a porta do apartamento com uma chave, você usa um
controle estranho (uma bola, ipod ou um sensor) que também tem o poder de abrir
janelas, controlar as luzes, ligar os chuveiros, a televisão e o que for.
Muitos deles são comoventes. Você
não tem mais o trabalho de ligar o interruptor para iluminar o lugar. Basta
fazer um curso de três meses sobre o funcionamento da traquitana e, depois,
após três ou quatro operações distintas, chegar ao mesmo resultado. O que é
genial, my friends, especialmente se você se lembrar como o fez, para poder
repetir a ação no futuro. Um amigo usou, recentemente uma ultra-avançada chave
sensorial que o desobrigava de qualquer coisa. Bastava passar perto de algum
controle para produzir a ação. Ou seja: o gadget ligava o ar-condicionado e
abaixava as cortinas. Se o hóspede, nevertheless, passasse casualmente perto de
uma área sensível, o chuveiro ligava no exato momento em que ele queria a luz
de cabeceira. E, ao desligar o chuveiro, o pobre corria o risco de a televisão
ligar em algum canal da Coréia do Norte, em um volume incontrolável, a não ser
que, por sorte, ele encontrasse o botão da chave-geral que, at last, ia
resolver o seu problema.
Adoro ideias inteligentes e
modernas. Mas apenas se elas forem modernas e inteligentes. Aparelhos e tecnologias
que levam a vida a piorar e, of course, a ficar mais cara, não me interessam.
Mas eu concordo que isso é coisa de velhos como eu. Be happy, my friend!
Fonte: Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário