CARREIRAS TÃO BREVES
Ruy Castro
No dia 17
último, o mundo se ocupou do suposto centenário de Nat "King" Cole,
comemorado oficialmente naquela data, embora seus biógrafos já tenham
estabelecido a verdade. Nat nasceu, de fato, a 17 de março, só que de 1919. Com
isso, "ganhou" dois anos, donde, ao morrer, em fevereiro de 1965,
tinha 45. Em compensação, outra inigualável cantora americana, Doris Day,
"perdeu" há pouco dois anos. Não nasceu a 3 de abril de 1924, como
sempre se acreditou, mas em 1922. Doris, portanto, acaba de fazer 95 anos, não
93 –viva e, quero crer, ativa, entre seus cães e gatos, na Califórnia.
Quando se pensa no espaço que
esses gigantes ocuparam na cultura do século 20, é impressionante constatar
como suas carreiras foram tão breves. A de Nat Cole durou apenas 21 anos, de
seu primeiro disco, em 1943, ao último, em 1964. Mas foi suficiente para que
ele deixasse quase 900 fonogramas (o equivalente a 75 álbuns de 12 faixas –mais
de três por ano!), aparecesse em dez filmes e dezenas de programas de televisão,
e fizesse milhares de apresentações em teatros, clubes e estádios (inclusive no
Brasil, em 1959).
A de Doris Day foi só um pouco
mais longa. De sua estreia, em 1940, como crooner da orquestra de Les Brown,
até sua despedida do microfone, em 1967, foram cerca de 600 fonogramas, fora as
canções que cantou na maioria de seus 39 filmes entre 1948 e 1968, quando
deixou também o cinema. Que Doris, aos 46 anos, não quisesse mais se expor à
câmera, seus fãs entenderam —mas nunca se conformaram com que ela parasse de
cantar.
A obra de ambos está
integralmente à mão em várias mídias e emocionando as gerações que os
sucederam. Até hoje, ao escutá-los, nunca pareceu tão fácil cantar.
Em seu tempo, eles venderam
milhões de discos. Quantidade e qualidade ainda andavam de mãos dadas.
Fonte:
Folha de S. Paulo - 08/04/17
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