O que mais me
fascina na ciência é que ela é indiferente ao noticiário. O mundo pode estar se
desintegrando em corrupção, drogas e terrorismo que nada disso lhe compete. Tem
seus programas e se dedica a cumpri-los em ritmo próprio. Se busca a resposta a
um problema xis, não importa que ela só seja conhecida daqui a 50 anos. Importa
a resposta.
Neste momento, a ciência está
empenhada em tornar o homem imortal. A ideia é a de que, em breve, todas as
mazelas do envelhecimento —câncer, demências, problemas cardiovasculares e
degenerações várias –poderão ser evitadas se os estágios iniciais que dão
origem a elas forem submetidos a uma "limpeza" pela tecnologia. Com
isso, não será surpresa se, no futuro, o homem chegar —não ria— aos mil anos.
A tese, ousada, é do
gerontologista britânico Aubrey de Grey, que andou por aqui. As pessoas
continuarão morrendo em tiroteios, tempestades elétricas, batidas de carro,
brigas de torcidas e até por amor, mas –diz ele–, não por fadiga do material. A
questão é: quem quer viver para sempre? E em que condições? Um homem de mil
anos terá alguma chance com uma gata de, digamos, 450?
Meu amigo Mariozinho de Oliveira
era do famoso Clube dos Cafajestes, grupo de rapazes que assombrou a noite
carioca nos anos 40 e 50. Séculos depois, ele e seus amigos, aposentados da
farra, animavam um quiosque no calçadão de Copacabana, chamado jocosamente de
"A um passo da eternidade" —faziam piada com a morte, que sentiam
perto. E ela chegou para cada um. Sobrou Mariozinho. Até que a dita também o
levou, ano passado, aos 90 anos.
Seja namorando, ouvindo os
grandes do jazz, aprontando os trotes mais absurdos, brigando ou fazendo
amigos, ninguém se divertiu mais do que ele. Quem viveu o que Mariozinho viveu
não precisa chegar nem aos 100.
Fonte: Folha de S. Paulo - 19/12/2012
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