Ouvir o silêncio de alguém é a
maior recompensa da vida. Não o silêncio mal-estar, não o silêncio carência e
estremecimento, não o silêncio dificuldade de estar junto, não o silêncio que
precisa ser pedido, não o silêncio recriminação para calar a boca, não o
silêncio de vergonha e culpa, não o silêncio birra, não o silêncio de
indiretas.
Às vezes o silêncio é funcional,
para avisar daquilo que falta. Às vezes é tudo, menos silêncio.
Muito diferente do silêncio puro,
merecimento da confiança.
A felicidade depende também de
nossa capacidade de ficar quieto a dois.
Maravilhas de silêncio quando são
retribuições da convivência. Quando estamos tão à vontade que não há vontade de
legendar e dublar os pensamentos. Quando a telepatia se sustenta da proximidade
da pele e do riso franco.
O silêncio do amigo depois de uma
festa, quando pescamos estrelas no céu e brindamos a última cerveja da noite. O
silêncio entre os amantes após o sexo, com beijos sussurrados e a paz das mãos
dadas. O silêncio entre pai e filho feito de cócegas no umbigo e de uma
sensação de imortalidade dos laços, de que nenhuma crise será capaz de
atrapalhar a cumplicidade. O silêncio de irmãos adultos que, por um momento,
são crianças, sentam ao lado como se estivessem assistindo a uma televisão
imaginária e se chamam pelos apelidos de pequeno. O silêncio do livro sendo
folheado dividindo a companhia na cama, o silêncio da dança povoado pelas
canções favoritas, o silêncio de voltar para casa depois de cansativas viagens.
O silêncio de arremessar pedras
ao rio para ver quem cria os maiores círculos. O silêncio da praia quando
fechamos os olhos para as ondas quebrarem bem dentro de nossos ouvidos. O
silêncio das trilhas na mata, escoltado pelos bichos, donos daquele lugar. O
silêncio de dividir a estrada em longos trajetos.
O silêncio é a maturidade vindo,
misto de reverência e respeito. Não é falando que dominamos o mundo, é
permitindo o mundo soprar a sua anônima sabedoria, é admitindo as lacunas e as
tréguas da perfeição.
Fonte: Facebook
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