Ruy Castro
Um programa de
fomento à leitura nos presídios de vários Estados do Brasil prevê que, a cada
livro lido pelo preso na cela —de preferência, um romance—, ele seja
recompensado com quatro dias de redução da pena. O preso pode participar do
projeto até doze vezes por ano, o que significa que, se ler um livro por mês,
ao fim do ano terá 48 dias de pena reduzida. Mas, calma, não é assim tão fácil
—não pode fazer como Woody Allen, que aprendeu leitura dinâmica para ler
"Guerra e Paz" e, depois de devorar as 1.200 páginas do livro em 20
minutos, comentou: "Tem a ver com a Rússia".
Para provar que leu a obra, o
preso tem de escrever —à mão— uma pequena dissertação a respeito, que será
avaliada por pedagogos, psicólogos e terapeutas. Não se espera que o fulano se
torne de repente um Antonio Candido ou Otto Maria Carpeaux em matéria de
crítica literária, mas seu comentário será analisado segundo seu conteúdo,
clareza de argumentos e até caligrafia. Entre os romances mais lidos e
resenhados pelos presos nesse projeto, estão "Crime e Castigo", de
Dostoievsky, "Dom Casmurro", de Machado de Assis, e, pode crer,
"Grande Sertão: Veredas", de Guimarães Rosa.
Um dos Estados que adotam este
programa é o Paraná. Isso significa que, um dia, ele estará ao alcance de
vários presos que, atualmente, honram as celas de Curitiba. Você sabe quem são:
lobistas, doleiros, publicitários, laranjas, um pecuarista, ex-diretores da
Petrobras, ex-tesoureiros do PT, ex-deputados federais, ex-senadores,
ex-ministros de Estado e outros convidados da Operação Lava Jato. E, claro,
Marcelo Odebrecht. Além dos que estão para chegar.
Digo um dia porque o programa só
é acessível aos presos já condenados.
E não é só isso. Para se
beneficiar dele, o condenado também precisa saber ler.
Fonte: Tribuna da Internet
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