Quando olhamos para trás na
história, tendemos a acreditar num certo determinismo -se as coisas aconteceram
de tal jeito é porque era assim que tinham de acontecer. Mas Nelson Rodrigues
se perguntava como seria se Jesus Cristo tivesse morrido aos quatro anos, de
coqueluche. Não teríamos o calvário, nem a cruz e nem a ressurreição e,
provavelmente, a história do Ocidente seria diferente.
Várias vezes, a história esteve
perto de ser alterada e só por sorte não foi. Em 1942, ao escolher um ator para
o papel do aventureiro Rick Blaine num filme em preparo, chamado
"Casablanca", a Warner pensou em escalar Ronald Reagan. Ninguém se
opôs. E, assim, até perto das filmagens, Reagan foi Rick -até que um ser de luz
soprou ao ouvido da Warner que Rick só podia ser Humphrey Bogart. O resto você
sabe.
Em 1954, o desconhecido Ferreira
Gullar mandou para uma gráfica os originais de um livro de poemas, "A Luta
Corporal", para publicá-lo por conta própria. O revisor da gráfica, diante
de versos como "Au soflu i luz ta pom-/ pa inova'/ orbita/ FUROR/ tô
bicho/ 'scuro fo/ go/ Rra", achou que estava tudo errado e se dispôs a
"corrigir" o texto. Gullar só o impediu aos 45 do segundo tempo, e
por pouco não teríamos o livro que reinventou a poesia brasileira.
Em fins dos anos 60, no interior
da Alemanha, a faxineira do hotelzinho viu um hóspede desabado num sofá da
recepção, dormindo e roncando, em pleno dia. A mulher se condoeu das unhas
enormes do rapaz. Pegou sua tesourinha e, com cuidado, aparou-as até o sabugo.
Quando ele acordou, viu aquilo e quase chorou. Mas, como era o grande Baden
Powell, foi em frente e deu o seu show de violão naquela noite do mesmo jeito.
Tudo isso para dizer que
precisamos ficar atentos. Há sempre alguém à nossa volta tentando mudar a
história -contra nós.
Fonte: Folha de S. Paulo
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