Usar as roupas do dia anterior
para ir ao trabalho e parecer limpo é uma arte da namoração.
Você saiu de noite para beber,
conheceu alguém e virou a noite acompanhado.
Como o homem não é prevenido e
não conta com um modo natural de carregar os pertences mínimos, dormiu na casa
da outra pessoa e não levou nada. Não poderia ostentar uma sacola ou uma
malinha com kit dos primeiros-socorros da manhã, tal a mulher com a sua bolsa,
porque o sexo deixaria a sua pose casual para incorporar a clara natureza
premeditada.
O espanto de início é se deslocar
por um quarto, uma sala e um apartamento que não conhece, rezando não encontrar
cachorro ciumento e chave-mestra. Age como um penetra adivinhando no escuro a
ordem e o posicionamento dos móveis e objetos.
Não tem nenhum material de
higiene. Toma um banho e já sorteia um xampu entre as dezenas de frascos do
box. Espera não colocar nenhum para coloração de cabelos e que não seja
cheiroso demais, a ponto de exalar um pomar afeminado na nuca. É capaz de
despejar na cabeça um pote recomendado pelos melhores ginecologistas.
Rouba em seguida um desodorante
do sexo oposto- e daí pode acontecer o mais constrangedor: ser de rolo. O rolo
não andará na penugem do seu sovaco. Lembrará o estrago de uma colheitadeira.
Também não há escova de dente e
emprega os dedos freneticamente como cerdas.
Seja o que Deus quiser.
Completará, com sorte, a improvisação bochechando com anti-séptico. Nem sempre
as melhores casas oferecem.
O problema agora é estar lavado e
pôr uma camisa suada, amassada, que serviu talvez de almofada da celebração. O
Tempo em carne e osso sentou em cima das suas peças e sonha remotamente com uma
segunda opção. É igual a se esfregar com toalha molhada. A pele rejeita, mas
precisa. Não existe etiqueta, experimentará técnicas de acampamento e de macho
nas cavernas. O pior é vestir as meias com chulé de passista. Esquecerá o
asseio e o bom gosto.
Sem condições de reutilização
imediata, guardará a cueca no bolso do terno como um lenço impensável.
Sairá do novo esconderijo do amor
para o trabalho. É somente voltará a civilização do seu armário e do armarinho
de noite, bem tarde, depois de sofrer o mal-estar de não levantar o braço perto
dos colegas, de não permanecer muito tempo em sala fechada, de evitar abraços e
aproximações. Será nitidamente anti-social, como se estivesse gripado. Ainda
terá que aguentar a desconfiança da equipe que notou a limitação de seu
vestuário e a mesma roupa de ontem.
Fonte: Facebook
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