segunda-feira, 22 de novembro de 2021

O QUE O HOMEM SOFRE E A MULHER NÃO PERCEBE

Fabrício CarpinejarFabrício Carpinejar

Usar as roupas do dia anterior para ir ao trabalho e parecer limpo é uma arte da namoração.
Você saiu de noite para beber, conheceu alguém e virou a noite acompanhado.

Como o homem não é prevenido e não conta com um modo natural de carregar os pertences mínimos, dormiu na casa da outra pessoa e não levou nada. Não poderia ostentar uma sacola ou uma malinha com kit dos primeiros-socorros da manhã, tal a mulher com a sua bolsa, porque o sexo deixaria a sua pose casual para incorporar a clara natureza premeditada.

O espanto de início é se deslocar por um quarto, uma sala e um apartamento que não conhece, rezando não encontrar cachorro ciumento e chave-mestra. Age como um penetra adivinhando no escuro a ordem e o posicionamento dos móveis e objetos.

Não tem nenhum material de higiene. Toma um banho e já sorteia um xampu entre as dezenas de frascos do box. Espera não colocar nenhum para coloração de cabelos e que não seja cheiroso demais, a ponto de exalar um pomar afeminado na nuca. É capaz de despejar na cabeça um pote recomendado pelos melhores ginecologistas.

Rouba em seguida um desodorante do sexo oposto- e daí pode acontecer o mais constrangedor: ser de rolo. O rolo não andará na penugem do seu sovaco. Lembrará o estrago de uma colheitadeira.

Também não há escova de dente e emprega os dedos freneticamente como cerdas.

Seja o que Deus quiser. Completará, com sorte, a improvisação bochechando com anti-séptico. Nem sempre as melhores casas oferecem.

O problema agora é estar lavado e pôr uma camisa suada, amassada, que serviu talvez de almofada da celebração. O Tempo em carne e osso sentou em cima das suas peças e sonha remotamente com uma segunda opção. É igual a se esfregar com toalha molhada. A pele rejeita, mas precisa. Não existe etiqueta, experimentará técnicas de acampamento e de macho nas cavernas. O pior é vestir as meias com chulé de passista. Esquecerá o asseio e o bom gosto.

Sem condições de reutilização imediata, guardará a cueca no bolso do terno como um lenço impensável.

Sairá do novo esconderijo do amor para o trabalho. É somente voltará a civilização do seu armário e do armarinho de noite, bem tarde, depois de sofrer o mal-estar de não levantar o braço perto dos colegas, de não permanecer muito tempo em sala fechada, de evitar abraços e aproximações. Será nitidamente anti-social, como se estivesse gripado. Ainda terá que aguentar a desconfiança da equipe que notou a limitação de seu vestuário e a mesma roupa de ontem.

Fonte: Facebook

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