Melhor conhecer do que relaxar
Nosso correspondente britânico
informa que ficou muito entristecido pelo falecimento de seu velho amigo Heinz
Cohen, com quem conviveu em Londres durante um período da Segunda Guerra
Mundial. Heinz era natural de Hamburgo, na Alemanha, mas sua vivência nas
terras da Rainha ("in fact eram do Rei, na época) fez dele um inglês
fleugmático, de poucas palavras, muita ação e extensa relação com o cachimbo.
"Tive a oportunidade de apresentá-lo às ideias de meu saudoso amigo Powell
( N.da R.: Baden Powell, fundador do escotismo), do qual ele se tornaria um
entusiasta. Mais tarde, no vosso lindo país, tornou-se o Chefe Henrique,
estimulando jovens para uma vida saudável em harmonia com a natureza. A
Inglaterra e eu choramos por Heinz", escreveu-nos Mr. Miles.
A seguir, a pergunta da semana:
Prezado Mr. Miles: as férias que
o senhor sugere parecem sempre complicadas. Eu, quando tiro as minhas, gosto ou
de ir para a praia tomar um sol e descansar, ou de ir à montanha para tomar um
vinho na lareira. Isso é errado?
Beto Tieppoli, por email
Well, my friend: é claro que não
há nada de errado com sua visão de turismo. Ouso dizer que a maior parte das
pessoas gostam mesmo de descansar quando tem tempo livre. O que é fair enough,
já que, quase sempre, a lida do dia-a-dia é estressante e não oferece tempo
suficiente para quem quer relaxar. Preciso dizer, however, que nesse tempo de
comunicações intensivas, aplicativos, mobiles and so on, muitos têm trocado a
oportunidade de um momento de paz e reflexão pela falsa emoção de conversar sem
falar, de ver sem olhar, de mostrar-se sem ser e, pior, de trabalhar noite e
madrugada adentro. Não há paz sequer no sagrado momento das refeições que,
pouco tempo atrás — believe me! — era ocasião de troca de ideias, experiências,
conselhos e deliciosas bobagens, mais relaxantes e digestivas do que a própria
Chartreuse que se bebia depois ou dos charutos que lançavam nuvens de saber no
céu das bibliotecas.
Eis porque, dear Robert,
cansávamos-nos menos e, por consequência, nossas férias não eram apenas
oportunidades para descansar o corpo e a alma — o que hoje sequer se faz em
qualquer local onde haja sinal para celulares.
Oh, my God: como involuímos nesse
sentido. Estamos muito mais conectados em temas pouco relevantes e andamos
muito mais indignados com assuntos que, for sure, resolveriamos melhor na velha
e santa paz. Ao redor de um chá com biscoitos ou de um single malt puro.
Reconheço, therefore, a
necessidade de descanso de sua geração, ainda que o sol tenha mais raios
ultra-violetas e as montanhas possuam córregos menos cristalinos.
O que costumo dizer nesse espaço,
my friend, é que há uma diferença exponencial entre viajar e optar por periodos
de lazer. Toda viagem envolve conhecimento. Viajar não é, nunca, uma proposta
específica; isso é turismo. Um roteiro, hotéis, transfers, passeios guiados.
Tudo do bom e do melhor, se desenvolvido por um profissional gabaritado do
setor. Informações objetivas sobre temperatura, voltagem, câmbio e fuso-horário.
A viagem, however, só faz jus ao
nome se ela significar aprendizado. Se você souber que grandes homens (e
ladies, of course) nasceram no lugar para onde você vai. Se você dele souber a
relevância histórica, econômica, espiritual ou gastronômica. Even better se lhe
for possível contextualizá-la na história da humanidade.
Talvez seja isso que você
considere "complicado" nas minhas digressões sobre o tema. E, in
fact, não traz bronzeado para a pele — embora isso possa ser um efeito
colateral. Talvez seja mesmo ligeiramente cansativo. Mas tome tento: o
conhecimento, as lembranças e os novos ângulos que uma viagem real proporciona
reduzem a sensação de fadiga. Mas, melhor que isso: dão referências sólidas
para que seu relaxamento na praia ou na montanha seja mais belo e profundo.
Fonte: Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário