Os templos mais belos do mundo
Nosso entusiasmado viajante
partiu de suas ilhas para uma viagem ao norte da Turquia. Não nos disse nem o
destino nem a razão. Em breve, porém, devemos ter notícias para compartilhar. A
seguir, a correspondência da semana:
Querido Mr. Miles: como grande viajante,
o senhor deve conhecer milhares de templos de todas as religiões. Quais são os
que mais o emocionaram?
Cecilia F. Maia, por email
Well, my dear: antes de mais nada
devo confessar que não sou uma pessoa devotada e não tenho afinidades
religiosas. Admiro os que fazem de sua fé um escudo virtuoso contra as
vicissitudes da vida e, as you know, não gosto nem um pouco dos que levam suas
crenças a outros povos, como se a eles — e apenas a eles — pertencesse a
verdade. A fé, como o whisky, precisa de dosagem adequada. Excesso dela gera o
que chamamos de fanatismo — religioso, político, ideológico — e gera,
unfortunately, as disputas mais sangrentas do planeta, mesmo no século 21.
Forgive me, however, pela
introdução não solicitada, até porque sua pergunta não tem, é claro, nenhuma
manifestação explícita de fé. Trata-se de uma questão objetiva, a qual posso,
sem dúvida, responder. E, nesse caso, admito, a mesma fé que produz cizânia,
pode gerar obras-primas. Fico me perguntando o que seria do mundo sem catedrais,
igrejas, mesquistas, templos budistas, hinduistas, judaicos ou anímicos.
Provavelmente teriamos um planeta menos exuberante, sem muitos dos grandes
mestres da pintura e da escultura e, well, com menos velas — o que não me faria
a menor diferença, I must say.
Meu amigo Tony (N.da.R.: Tony
Wheeler, criador dos guias Lonely Planet), diz, para quem quer ouvir, que tem
um hobby: fazer o que chama de "a lot of templing". Ou seja: aonde
quer que ele vá, com ou sem sua esposa Maureen, visita templos e frequentemente
com eles encanta-se. Há alguns anos, quando esteve na Igreja de São Francisco,
em Salvador, ficou de tal maneira extasiado que prometeu dar um puxão de
orelhas no autor de seu guia sobre o Brasil, pelo fato de ele não ter dado o
devido destaque ao templo.
Os 9 mil templos de Bagan, na
Birmânia (hoje reduzida ao nome Mianmá) são impressionantes. A quantidade já
fala sobre o tamanho da fé que inspirou aquele povo. O templo de Karnak, em
Luxor, é outra obra impressionante de paixão religiosa. However, como quase
todas as demais, sempre fala de um tempo de glória e riqueza de alguma
civilização, infelizmente quase sempre em detrimento de outras.
As mesquitas têm o lindo perfil
de cidades com torres e abóbodas. Eis porque é sempre grandioso vê-las, ainda mais
quando recortadas contra a luz do por-do-sol. Nos templos budistas, a fé parece
vir dos ventos e dos ruídos que quebram um silêncio ancestral. E, nos judaicos,
há um canto atávico de dor e esperança — que subitamente se alegra
vertiginosamente ao celebrar a vida.
Se eu lhe desse uma resposta
objetiva, dear Cecilia, estaria, com certeza, traindo os meandros de minha
memória. Escrevo essas linhas e os templos passam pela minha cabeça com a
velocidade de pássaros coloridos. Vou tentar abstrair a presença da arte, que
faz da Capela Sistina uma obra sem concorrentes. Vou tentar, apenas, mencionar
momentos em que senti enlevado pela força espiritual de algum lugar. Therefore,
cito quatro lugares, para que não se diga que fugi de sua pergunta. A Sainte
Chapelle, em Paris, que nas tardes luminosas filtradas pelos seus milhares de
vitrais torna-se uma floresta de deuses e ninfas; o Panteão de Roma, cujo óculo
central permite a entrada de algum cúmplice iluminado do Universo; os moais de
Tongariki, que embora não sejam um templo formal, levam as pessoas a abaixar-se
em reverência e, last but not least, uma pequena capela sem nome que vi no
caminho para Diamantina, guardada pela chave única de uma vizinha simples e
sorridente — como deveria ser a vida.
Fonte: Facebook
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