Martha Medeiros
Ou muito me engano, ou as
mulheres estão se reproduzindo feito coelhas. Temos irrompido em bando. É muita
mulher no mundo. É mulher para tudo que é canto. Uma ocupação epidêmica.
Alguém irá lembrar que não são
tantas assim atuando na política, e tem razão — ainda não somos muitas em
plenário — mas tampouco somos maioria apenas em academias de ginástica e salões
de beleza. Estamos espalhadas por todos os lugares que interessam,
principalmente em ambientes que envolvem arte, cultura, reflexão, conhecimento.
Num espetáculo de teatro, pode
reparar: na plateia, só dá mulher. São 10 para cada homem — e acho que estou
exagerando na condescendência, talvez sejam 15 para cada um deles.
Dentro de um cinema, a diferença
diminui, mas ainda estamos em maior número (outro dia ouvi uma explicação
peculiar: é que mulheres vão umas com as outras ao cinema sem nenhum
constrangimento, enquanto que um homem não pode convidar um amigo porque
pensarão que ele é viado — não é uma sociedade evoluída a nossa?) Em
exposições: mais mulheres, todas absorvendo novidades. Em saraus: mais
mulheres, todas escutando poesia. Em palestras de filósofos, escritores,
humanistas: mais mulheres, todas de ouvidos atentos.
Em shows: o número tende a se
equilibrar, mas ainda mais mulheres.
Dentro de livrarias: mulheres
lendo, publicando, dilatando o intelecto.
Ganhamos menos que os homens, e
mesmo assim reservamos parte do nosso salário (quando é possível) para atender
às demandas da nossa sensibilidade, a fim de termos uma existência mais rica,
mais estimulante.
Agora adivinhe quem lota as
cadeiras de bares, botecos, restaurantes: ora, mulheres, claro. Depois do
teatro, do cinema, da palestra, voltar pra casa? Teria graça. Bora conversar
umas com as outras sobre tudo o que foi visto, de preferência com um cálice de
vinho ou um chope gelado em mãos.
Em substituição ao obsoleto
“lugar de mulher é na cozinha”, surgiu o libertário “lugar de mulher é onde ela
quiser”. Mas tem que querer mesmo. Ainda há quem se acomode num confinamento
providencial (um casamento careta, uma religião limitadora, um martírio
inventado, umas dores lombares) a fim de declarar-se impedida de ser livre.
Cada um sabe de si. Ninguém é
obrigado a realizar desejos que não tem.
Mas pra quem não cansa de
expandir-se, a programação é vasta e é proibido bobear. De tudo o que temos
aprendido fora de casa, viver com sabedoria tem sido a melhor lição.
Fonte: Facebook
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