Charles
Aznavour, o cantor e compositor francês, volta a se apresentar no Brasil. Está
para completar 93 anos e inacreditáveis 84 de carreira –porque, nascido em
1924, filho de artistas de palco, aos nove, em 1933, já era ator e cantor. Por
muitos anos, lutou sem conseguir nada –ele próprio se achava feio, baixinho,
sem voz, sem instrução, sem cultura e sem personalidade. Enquanto isso, a
grande canção francesa do século 20 explodia ao seu redor.
Quando ele começou, Mistinguett
já gravara "Mon Homme", mas não ainda "Je Cherche un
Millionnaire". Lucienne Boyer, idem, já gravara "Parlez-Moi
d'Amour", mas não "Chez Moi". Jean Sablon ainda iria gravar
"Vous Qui Passez Sans me Voir" e "Insensiblement". E
Charles Trenet, "Que Reste-t-il de Nos Amours", "La Mer" e
"L'âme des Poètes". Tino Rossi nem sequer sonhava com
"J'attendrai". Nem Edith Piaf com "La Vie en Rose",
"Hymne à l'Amour" e "Non, Je Ne Regrette Rien".
Enquanto o jovem Charles
continuava se esforçando para aparecer, estouraram Yves Montand com "Les
Feuilles Mortes", Jacqueline François com "Sous Le Ciel de
Paris", Patachou com "C'est Si Bon", Juliette Greco com
"Rue des Blancs-Manteaux", Mouloudji com "Un Jour Tu
Verras", Henri Salvador com "Dans Mon Île" e muitos outros. E,
na linha dos grandes autores-cantores, surgiram Georges Brassens com "Le
Gorille", Gilbert Bécaud com "Et Maintenant", Léo Ferré com
"Avec Le Temps" e Jacques Brel com "Ne Me Quittes Pas". Era
como se não houvesse espaço para ele.
Quando já estava quase
desistindo, em 1960, aos 36 anos, algo o despertou. Começou com "Tu
T'laisses Aller", seguiu com "Que Ce Triste Venise" e "La
Bohème", e nunca mais parou. Tornou-se, definitivamente, Charles Aznavour.
E está até hoje no palco, talvez
para se vingar da eternidade em que não foi ninguém.
Fonte: Folha de S. Paulo - 11/03/2017
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