Não há mal nenhum em conversar no
viva-voz desde que sozinho.
Mas algumas figuras não entendem
a prática. Ou não escutam o suficiente para uma vida razoavelmente sociável. E
não adianta avisá-las porque são surdas.
Iguais aos nossos avós com novela
alta. Só que com adicional da televisão andando.
Elas atrapalham a rotina de
farmácias, supermercados, postos de gasolina e bancos urrando com o aparelho
estendido na palma da mão. E com a tecla do viva-voz ativada no máximo volume.
Ouve-se a outra pessoa com
nitidez, como se ela estivesse dentro do nosso tímpano.
A outra pessoa também é vítima.
Não faz ideia de que circula por lugares comerciais como álibi da grosseria.
Nem que os seus segredos estão sendo expostos.
Quando vejo alguém conversando no
viva-voz, me dá pena, depois desconforto, e, por fim, instinto fratricida e a
vontade de arrancar a língua.
Na última sexta, comprava
tranquilamente presente para o meu filho num shopping em Porto Alegre, até a
chegada da Anticristo das operadoras, da Naja das promoções, da Serpente do
0800.
Uma senhora entrou na loja de moda
masculina desprovida de pudor. Tinha um auto-falante embutido na dentadura.
Ninguém existia, a não ser a sua amiga na linha.
Ignorou a recepção da atendente,
passou reto e ficou virando cabide por cabide com o seu celular a tiracolo e na
enésima potência no viva-voz.
Não havia como escutar os meus
pensamentos e não olhar para ela.
Era a patrulha da polícia ligada,
a cooperativa de táxis procurando carros em dia de chuva, um feirante com
superdose de ritalina.
Engoliu um Giraflex, comeu um
Walkie Talkie, devorou um oboé.
Pequena, atarracada, quando abriu
a porta, tive a visão de um peru gigante apitando e saindo do forno, com as
asas embrulhadas em papel-alumínio.
A sexagenária grampeava o próprio
telefone. Não fechava a matraca e ainda incentivava a sua interlocutora a subir
o tom de voz.
- Muito barulho por aqui! Fale
mais alto!
Gritava e não percebia a absoluta
falta de educação com os demais clientes. Enquanto discursava sobre os
resultados de seus exames médicos, escolheu uma calça e uma camiseta polo,
pagou e foi embora.
Não trocou uma palavra com quem
estava na loja, em compensação, não calou a boca em sua interação loquaz com a
tela do celular.
Ligação é pessoal, não é pública.
É tão difícil entender a diferença?
Fonte: Facebook
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