Empossado e designado para uma
comarca interiorana, o doutor Justimiano tratou de concretizar seu matrimônio
com Marietinha.
No segundo dia de trabalho no
fórum, estabeleceu manter-se afastado de maior contato com advogados, os quais
poderiam falar com ele, fora das audiências, apenas nas quintas-feiras, das 18
às 18h30, mediante prévia inscrição no cartório e manifestação sobre o assunto
a ser tratado.
Já no início de suas atividades,
o novel magistrado foi tomado por grande frustração decorrente do fato de não
poder aplicar uma verdadeira justiça, de acordo com a tradição histórica e o
ensinamento das Sagradas Escrituras, manifestados no Antigo Testamento, que ele
dizia ser “o receptáculo dos desígnios divinos para a humanidade”.
A esposa Marietinha levava uma
vida reclusa, pois o esposo não gostava que ela saísse sozinha. O augusto juiz
não visitava ninguém, não aceitava convite algum para festa ou solenidade – a
não ser a cerimônia cívica do 7 de Setembro.
Ouvindo, um dia, a queixa da
cônjuge sobre a vida isolada que levavam, Justimiano acedeu em que ela
convidasse algumas senhoras da “melhor estirpe na cidade”, para um chá em sua
residência. Assim, após a chancela do marido, foram chamadas as esposas do
promotor, do delegado de polícia, do exator e do prefeito.
Na tarde do chá, Justimiano -
instalado em seu gabinete na residência - deixou a porta entreaberta, de modo a
que, sem ser visto da sala, pudesse escutar qual era o papo feminino. Ficou
embevecido, então, em saber que, repetidamente, a esposa – ao se referir a ele
– usava a expressão ´Sua Excelência´.
Foi assim que Justimiano escutou
frases ditas por Marietinha como “Não pus açúcar no chá por não saber como
vocês preferem, pois Sua Excelência toma sem açúcar”..., “Sua Excelência sempre
me ajuda nas compras do supermercado”...,“Sua Excelência é o primeiro sempre a
chegar no fórum”...
E por aí...
Ao final do chá, a esposa do juiz
e as quatro distintas damas combinaram repetir o encontro na última sexta-feira
de cada mês. Passados vinte e poucos dias, após receber o telefonema lembrando
o novo encontro, a mulher do delegado ligou para a mulher do promotor:
- Vais ao chá da Marieta?
- Deus me livre! Aguentar aquela
chata que só fala nas proezas e manias de Sua Excelência, o seu marido...
Resultado: as quatro convidadas
declinaram do convite, alegando afazeres diversos. Assim, Marietinha desolada
cancelou o encontro, o que logo informou ao marido. Este a consolou com a
remessa de um econômico ramalhete de três rosas – que nem vermelhas eram -
acompanhadas de um formal cartão: “Não te amofines, amada Marieta. Essa
gentinha não vai porque fica constrangida em conviver com pessoas da mais alta
classe social”...
Fonte: www.espacovital.com.br
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